AS
PERVERSÕES
O
que realmente caracteriza todas as perversões é o fato de elas recusarem e se
afastarem do fim essencial da sexualidade, isto é, da união dos órgãos genitais
de sexo oposto e, evidentemente, de renunciarem à procriação. Uma definição
deste tipo alarga extraordinariamente o domínio da perversão, visto que uma
atividade sexual é considerada perversa quando procura prazer por um meio
estranho aos órgãos sexuais do parceiro do sexo oposto. Mas, neste caso, o que
é que não é perverso? Com efeito, o beijo entra nesta definição da perversão. É
por isso que Freud admite que a sexualidade é fundamental e primitivamente
perversa: só se torna normal em consequência de recalcamentos e inibições que
se produzem ao longo do seu desenvolvimento. A origem das perversões remonta à
sexualidade infantil que é necessariamente perversa, na medida em que a
finalidade sexual (genital e reprodutiva) escapa à criança. Encontramos já
todas as possibilidades de perversão na criança. Mas nela existe perversão em
sentido lato, teórico e geral, como quando aí incluímos o beijo. As verdadeiras
perversões são desvios mórbidos, em que toda a vida sexual normal é afastada. 
Freud
distingue as perversões que respeitam ao objeto sexual, ou seja, à
pessoa que exerce uma atração sexual, e as que respeitam ao fim sexual,
à natureza do ato que substitui o coito heterossexual. A mais importante das
perversões que dizem respeito ao objeto sexual é a homossexualidade. (...) Há
também (...) os perversos que sofrem um desvio em relação ao fim sexual. Para o
homem normal, a sexualidade do objeto amado não se limita às zonas genitais,
mas estende-se a todo o corpo. Todos os órgãos do corpo, para além da sua
função normal, podem desempenhar um papel sexual “erógeno”. Mas esse papel não
é dominante, quer dizer, o homem normal não se detém exclusivamente nesta ou
naquela parte do corpo do ser amado, recusando o contato com os órgãos
genitais. Ora, os perversos não só substituem a vagina pela boca ou pelo ânus,
mas também por uma outra parte do corpo (os pés, os seios, os cabelos), ou até
por um objeto inanimado que toca de perto o ser amado ou o seu sexo (sapatos,
roupa interior). A isto chama-se fetichismo. Existe uma parte de fetichismo (e
de muitas outras perversões) no amor normal; é uma forma de preparação para o
ato sexual. Mas há perversão quando o fetiche se desliga da pessoa e se
transforma por si próprio no fim sexual.
Há
também perversão naqueles que se limitam aos atos preliminares à união sexual
(carícias, olhar etc.) A necessidade de olhar, de tocar, torna-se perversa
quando constitui um fim independente do ato sexual e se afasta dele (...). É o
caso dos voyeurs e dos exibicionistas.
O
sadismo é a perversão daqueles que só podem sentir prazer se infligirem
ao parceiro toda a espécie de sofrimentos morais e físicos, desde a humilhação
até às lesões corporais. Pelo contrário, o masoquismo consiste em sentir
prazer em receber do ser amado humilhações e sofrimentos. Mas o masoquismo não
é simplesmente o contrário do sadismo. Com efeito, o sádico sente por vezes
volúpia em tomar o lugar da vítima.
A
própria existência das perversões prova que o campo da sexualidade ultrapassa
largamente as funções da procriação e a maturidade sexual. Este campo engloba o
período infantil que é o único que pode explicar tanto a perversão e a neurose
quanto a vida sexual normal.
HAAR, Michel. Introdução
à psicanálise de Freud. Lisboa: Edições 70, 2008. p. 51, 52 e 53.
PERVERSÕES E NEOSSEXUALIDADES EM
 JOYCE MCDOUGALL
Seria
o rótulo "perversão" adequado para descrever (...) as engenhosas e
intrincadas invenções da confusa e aflita criança escondida no interior do
adulto? Eu me recordo vividamente que, durante meus anos de formação
psicanalítica, todas estas soluções, incluindo as homossexualidades, eram
definidas por nossos professores como "desvios" do (então chamado)
ato sexual normal, e quaisquer destes desvios eram indelevelmente marcados como
uma perversão sexual praticada por um perverso. No entanto, o
conceito de "desvio" inevitavelmente implica uma "norma" - a
noção de um impulso com qualidades pré-formadas e meios de expressão que,
claramente, não existem nos seres humanos. 
Ainda
lembro da minha surpresa, como a jovem e inexperiente analista que eu era, ao
escutar um analisando que recontava ter feito amor na noite anterior e que
tinha sido razoavelmente bem-sucedido. Somente alguns meses depois soube que, a
fim de chegar a este "razoável sucesso" comparativo, ele teve que
atar seu parceiro à cama com cordas, ou pediu a seu amante para chicoteá-lo nas
nádegas ou urinar sobre ele, a fim de atingir o prazer orgástico. 
De
fato, eu iria descobrir que a maioria dos meus analisandos que haviam, se assim
posso falar, reinventado a cena primitiva[1] (se comparada com sua
representação ortodoxa), encaravam suas atividades sexuais e escolhas objetais
como estando totalmente de acordo com suas representações de si mesmos e em
conformidade com seus desejos eróticos, apesar de alguns indivíduos, ou da
sociedade como um todo, julgarem suas formas de sexualidade e escolhas objetais
como "perversas" e, portanto, erradas. Assim, aos poucos, fui
chegando à conclusão de que a forma específica de predileção sexual de qualquer
indivíduo pode somente ser considerada como um problema clínico em busca de
solução, se chegar a um nível em que a sexualidade do analisando crie conflito
e sofrimento psíquico.
Então,
as únicas predileções sexuais que eu qualificaria como perversas estão limitadas
a certas formas de relacionamento ao outro - particularmente, atos sexuais que
não levam em conta as necessidades ou desejos do parceiro, tais como abuso
sexual infantil, estupro, exibicionismo, voyeurismo[2] ou necrofilia (frequentemente
precedida por assassinato do parceiro escolhido). Como vocês já devem ter
percebido, estes atos sexuais são exatamente os mesmos que são condenados pela
lei no Ocidente. 
Gostaria
de enfatizar neste ponto a contratransferência[3] que pode ocorrer quando se
encara as práticas sexuais desviantes com o olhar de uma natureza adaptativa. A
natureza polimorfa da sexualidade adulta não precisa ser relembrada. Nossos
analisandos descrevem uma variedade infinita de cenários eróticos, objetos
fetichistas e disfarces, jogos sadomasoquistas, e assim por diante. Isto tudo é
visto como áreas privadas de suas vidas amorosas e não experimentadas como
compulsivas ou indispensáveis meios de gratificação sexual[4]. Se alguns de nossos
analisandos podem somente obter uma troca erótica satisfatória através de
cenários fetichistas ou sadomasoquistas, embora nós pudéssemos desejar-lhes uma
vida amorosa menos restrita, não temos nenhuma razão justificada para desejar
que estes indivíduos abandonem suas práticas sexuais simplesmente porque nos
permitimos julgar estas sexualidades não ortodoxas como sintomáticas. A maioria
dos indivíduos experimenta seus atos eróticos e escolhas objetais como estando
em conformidade com seus próprios desejos, sejam eles julgados ou não por
outros como "perversos". Reitero a noção de que as preferências
sexuais somente se tornam um problema que pede análise quando não estão de
acordo com o eu ideal do indivíduo em questão, sendo assim fonte de sofrimento
psíquico. 
Com
relação às orientações homossexuais, existem muitas outras complicações
provenientes de uma contratransferência heterossexista revelada por alguns
analistas, os quais correm o risco de ficarem surdos à escuta e ao entendimento
das necessidades do paciente. (O mesmo também deveria ser dito de uma
contratransferência "homossexista" evidenciada por alguns analistas
gays e lésbicas.) Quaisquer que sejam as predileções pessoais do analista, não
se pode, de forma alguma, decidir que analisandos homossexuais irão se
beneficiar se se tornarem heterossexuais - ou vice-versa. É verdade que um
certo número de pacientes gays e lésbicas descobrem, ao longo de sua
"viagem" analítica, que são "heterossexuais latentes", e
que, até então, terrores inconscientes haviam tornado os relacionamentos
heterossexuais impossíveis. Mas isto representa uma pequena minoria: a maioria
dos homossexuais, sejam eles homens ou mulheres, não têm o menor desejo de
renunciar à sua orientação sexual - não mais do que a média dos heterossexuais
desejaria se tornar homossexual - e nós só podemos aprovar, deste ponto de
vista, ao reconhecer que as predileções sexuais de cada um e suas escolhas
objetais são um substrato vital, não somente para seu próprio sentimento de
identidade sexual como também para sua identidade subjetiva. 
Finalmente,
chego ao que tenho chamado de "neossexualidades". Este termo não é um
conceito, mas é um determinado modo de escutar nossos analisandos, quando
descrevem e exploram suas vidas sexuais. Depois de uma longa cogitação sobre o
significado subjacente aos atos e escolhas que são distinguíveis daquilo que
poderia ser chamado da "norma" homossexual, ou da "norma"
heterossexual, finalmente entendi que estes cenários incomuns serviam não
somente para consertar fraturas nos sentimentos de identidade subjetiva e
sexual, mas também para proteger seus objetos internos de sentimentos de ódio
inconsciente e destrutividade (em parte ligados a impulsos orais e anais
não-elaborados, característicos dos impulsos libidinais infantis incorporativos
e excorporativos). Graças à milagrosa descoberta da criação neossexual, aquilo
que anteriormente parecia sem sentido, se torna significativo e um senso de
vitalidade psíquica prevalece, mesmo que somente de forma pontual, sobre os
sentimentos de morte interior. Estes mesmos conflitos poderiam ter encontrado
soluções menos felizes, expressando-se de formas psicóticas e psicopáticas.
Apesar da urgência, da compulsividade e dos afetos carregados de angústia, que
tão frequentemente acompanham estes cenários incomuns, aí existe um objetivo de
autocura face aos ameaçadores conflitos neuróticos ou psicóticos, o que nos
leva à conclusão de que a erotização é um caminho poderoso para superar o
trauma psíquico do início da vida, permitindo que Eros triunfe sobre Thanatos. 
Resumindo
as considerações feitas acima, poderíamos dizer que "neossexuais",
sejam de orientação homossexual ou heterossexual, foram obrigados a reinventar
o erotismo sexual e as relações de amor (...). A construção destas novas cenas
primitivas representa, então, a melhor solução que a criança do passado foi
capaz de encontrar face ao medo, à confusão e à dor mental, ligadas a cada
ímpeto libidinal, cuja fonte original está no inconsciente biparental. Também
fica claro que as soluções encontradas tendem a durar por toda a vida.
Além
dos desejos e ansiedades dos pais, frequentemente também descobrimos uma série
de eventos traumáticos na infância: histórias de abuso sexual, o
desaparecimento súbito de um genitor devido ao abandono ou à morte, ou,
novamente, experiências de hospitalização pelas quais a criança teve que
passar.
MCDOUGALL, Joyce. Teoria sexual e psicanálise. In: CECCARELLI, Paulo Roberto (org.) Diferenças sexuais. São Paulo: Escuta, 1999. p. 18 a 22.
[1]
Cena primitiva, cena originária ou cena primária: “Cena de relação sexual entre
os pais, observada ou suposta segundo determinados índices e fantasiada pela criança,
que é geralmente interpretada por ela como um ato de violência por parte do
pai. (...) Faz parte daquilo que Freud chama de ‘fantasias originárias’.”
LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,
2016. p. 62 e 63.
[2]
Somente em alguns casos o exibicionismo e o voyeurismo implicam uma
invasão criminosa, isto é, perversa, da liberdade de alguém.
[3]
A ausência de sentimentos de reprovação do analista em relação ao seu
analisando.
[4]
Entretanto, em alguns casos tornam-se sexualidade compulsiva, o que traz um
problema para a analise. 
JOYCE MCDOUGALL: PERVERSÃO COMO
NEGAÇÃO DO OUTRO, COMO NEGAÇÃO
 DA ALTERIDADE
       Se,
por um lado, o sistema sexual do perverso fornece à estrutura psíquica uma
amurada sólida contra as infiltrações psicóticas, existe aí, sem embargo, uma
fragilidade intrinsecamente inscrita, já que ele só pôde ser construído graças à
dissolução de certos elos associativos entre as representações psíquicas e a
realidade externa. Assim, a relação do sujeito com a realidade tende a
enfraquecer-se, ao menos nesse âmbito restrito. (...)
      A normalidade, diz o perverso, “é um Eros castrado”,
e ao afirmá-lo não está totalmente engando, pois a perversão é um triunfo sobre
o Édipo e sobre a sexualidade genital, que por definição, depende de um outro.
A perversão é o “quebra-galho” da sexualidade, a independência encarnada.
Somente o perverso pode conservar a ilusão de ser o “verdadeiro” objeto do
desejo da mãe, condenando-se assim a brincar de sexualidade, a fim de transigir
com a vida e suas verdades insuportáveis. (...)
     Que medidas permitem a essa organização se manter? A recusa
da alteridade, responsável pelo abismo criado entre o sujeito e seus objetos, é
um repúdio radical que tem por consequência a perturbação profunda (...) do
conjunto das relações objetais. Sem embargo, a recusa ou denegação da realidade
é um mecanismo psíquico fundamental, e, como tal, esteve ou está presente e
ativo em todo ser humano. O que importa, na verdade, é como o vazio psíquico
provocado pela recusa será colmatado. (...) O Outro é recusado, como se
a morte emanasse dele. No seio da aventura analítica, deparamo-nos, portanto,
com uma força de antivida que procura anular todo movimento suscetível de despertar
a vida pulsional ou de conduzir o indivíduo até o Outro. Esta força chama-se
instinto de morte.
MCDOUGALL, JOYCE. Em
defesa de uma certa anormalidade: teoria e clínica psicanalítica. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1983. p. 73, 74, 90 e 91.
AUTOEROTISMO
 
 A) Em sentido amplo, característica de um
comportamento sexual em que o sujeito obtém a satisfação recorrendo unicamente
ao seu próprio corpo, sem objeto exterior: neste sentido, a masturbação é considerada
como comportamento autoerótico. 
B) De um modo mais
específico, característica de um comportamento sexual infantil precoce pela
qual uma pulsão parcial, ligada ao funcionamento de um órgão ou à excitação de
uma zona erógena, encontra a sua satisfação no local, isto é: 
1. sem recorrer a um
objeto exterior; 
2. sem referência a uma
imagem do corpo unificada, a um primeiro esboço de ego, tal como ele
caracteriza o narcisismo[1]. (...)
1º.
A teoria do autoerotismo está ligada a essa tese fundamental de Três ensaios:
a contingência do objeto da pulsão sexual. Mostrar como no início da vida
sexual a satisfação pode ser obtida sem recorrer a um objeto é mostrar que não
existe qualquer caminho pré-formado que leve o sujeito para um objeto
determinado. Essa teoria não implica a afirmação de um estado primitivo “anobjetal”.
O ato de sugar ou chupar, que para Freud é o modelo do autoerotismo, é
efetivamente secundário numa primeira fase em que a pulsão sexual se satisfaz
por apoio na pulsão de autoconservação (a fome) e graças a um objeto: o seio
materno. Ao separar-se da fome, a pulsão sexual oral perde o seu objeto e
toma-se assim autoerótica. Se é verdade que se pode dizer que o autoerotismo
não tem objeto, não é porque apareça antes de qualquer relação com um objeto,
nem mesmo porque com a sua chegada qualquer objeto deixe de estar presente na
busca da satisfação, mas apenas porque o modo natural de apreensão do objeto se
acha clivado: a pulsão sexual separa-se das funções não sexuais (a alimentação,
por exemplo) nas quais se apoiava e que lhe indicavam a sua meta e o seu
objeto. A “origem” do autoerotismo seria portanto esse momento, sempre renovado
mais do que localizável em um tempo determinado da evolução, em que a
sexualidade se separa do objeto natural, se vê entregue à fantasia e por isso
mesmo se cria como sexualidade. 
2°
Por outro lado, a noção de autoerotismo implica desde a sua primeira utilização
por Freud um outro quadro de referência diferente da relação com o objeto: a
referência a um estado do organismo em que as pulsões se satisfazem cada uma
por sua própria conta, sem que exista qualquer organização de conjunto. Desde Três
ensaios o autoerotismo é sempre definido como a atividade das diversas
“componentes parciais”; deve ser concebido como uma excitação sexual que nasce
e se apazigua ali mesmo, ao nível de cada zona erógena tomada isoladamente
(prazer de órgão). E evidente que a atividade autoerótica necessita a maior
parte das vezes do contato da zona erógena com outra parte do corpo (sucção do
polegar, masturbação, etc.), mas o seu modelo ideal é o dos lábios que beijam a
si mesmos.
A
introdução da noção de narcisismo vem esclarecer, a posteriori, a de
autoerotismo: no narcisismo é o ego, como imagem unificada do corpo, o objeto
da libido narcísica, e o autoerotismo é definido, por oposição, como a fase
anárquica que precede essa convergência das pulsões parciais para um objeto
comum: “Temos de admitir que não existe no indivíduo, desde o início, uma
unidade comparável ao ego; o ego tem de passar por um desenvolvimento. Mas as
pulsões autoeróticas existem desde a origem; alguma coisa, uma nova ação
psíquica, deve pois vir juntar-se ao autoerotismo para dar o narcisismo.”
Em
numerosos textos, Freud mantém claramente esta ideia: na passagem do autoerotismo
para o narcisismo, “...as pulsões sexuais, até então isoladas, reuniram-se
agora numa unidade, e simultaneamente acharam um objeto”; esse objeto é o ego.
Mais tarde, a distinção ficará menos nítida, sobretudo em certos textos em que
Freud admitirá a existência de um AUTOEROTISMO estado de “narcisismo primário”
desde a origem, e até mesmo desde a vida intrauterina. O autoerotismo, então,
define-se apenas como “a atividade sexual da fase narcisista da organização
libidinal”.
Em
conclusão, vemos que a noção que o termo “autoerotismo” procura conotar pode
ser definida com uma certa coerência a partir da noção de um estado originário
de fragmentação da pulsão sexual. Tal fragmentação implica na verdade, quanto à
relação com o objeto, a ausência de objeto total (ego ou pessoa estranha), mas
de modo nenhum a ausência de um objeto parcial fantasístico.
LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário
de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. Verbete: autoerotismo. p.
47, 48 e 49.
ALOEROTISMO
Termo
às vezes utilizado por oposição a autoerotismo: atividade sexual que encontra a
sua satisfação graças a um objeto exterior. 
Freud,
quando em 1899 usa pela primeira vez o termo “autoerotismo”, emparelha-o com
aloerotismo, que se subdivide por sua vez em homoerotismo (satisfação
encontrada graças a um objeto do mesmo sexo: homossexualidade) e em heteroerotismo
(satisfação encontrada graças a um objeto do outro sexo: heterossexualidade). Este
termo, pouco usado, foi retomado por E. Jones.
LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário
de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. Verbete: aloerotismo. p. 15.
AUTOEROTISMO/ALOEROTISMO
O
termo “autoerotismo” refere-se aos comportamentos que visam obter a satisfação
sexual sem intervenção de uma outra pessoa (sendo o caso mais evidente a masturbação).
Entretanto, esse termo é frequentemente tomado lato sensu, levando em
conta a concepção freudiana da psicossexualidade, segundo a qual muitos
prazeres do corpo apresentam o valor de uma satisfação sexual, mesmo que a zona
genital não esteja em jogo, e, por extenso, certas atividades psíquicas (a
leitura, diz um certo bom senso popular, é “um vício solitário”...)
O
termo aloerotismo, de emprego mais raro, refere-se  pelo contrário às satisfações sexuais obtidas
com o concurso de uma outra pessoa.
Freud,
que foi buscar esses termos em Havelock Ellis, utiliza-os pela primeira vez, ao
que parece, numa carta para Wilhelm Fliess datada de 9 de dezembro de 1899: “Entre
as camadas sexuais, a mais profunda é a do autoerotismo, que não tem nenhum
alvo psicossexual e só exige uma sensação capaz de o satisfazer localmente. É
substituído mais tarde pelo aloerotismo (homo ou hetero), mas continuará subsistindo,
certamente sob a forma de uma corrente independente”.
Portanto,
segundo essa primeira definição, o autoerotismo seria o primeiro mas nunca
desapareceria. Freud esclarece o seu pensamento em termos mais precisos nos Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) e, depois, nas notas
acrescentadas em edições subsequentes desse texto. Ele situa então a sucção
como atividade fundadora: "Diremos que os lábios da criança desempenharam
o papel de zona erógena e que a excitação causada pelo afluxo de leite quente
provocou o prazer. No início, a satisfação da zona erógena foi estreitamente
ligada ao apaziguamento da fome." Em 1915, Freud acrescenta: "No
início, a atividade sexual apoia-se numa função que serve para conservar a vida
e da qual só mais tarde se torna independente.[...] A criança deixa então de se
servir, para a sucção, de um objeto exterior ao seu corpo e prefere urna parte
da sua própria epiderme, mais acessível, porque fica assim independente do
mundo exterior que ela ainda não pode dominar." Esta é uma tese importante
para Freud: a sexualidade infantil desenvolve-se apoiada numa função essencial
à vida, função essa da qual se desligará mais tarde. 
Essa
satisfação autoerótica não é, portanto, anterior a todo o investimento objetal,
visto que, por esse desligamento, a criança emancipa-se do primeiro objeto, o
seio. Aquela está correlacionada com a satisfação alucinatória, cujo despontamento
provocará o nascimento das primeiras representações.
Sobre
o narcisismo – uma introdução (1914) permite a Freud
dar mais um passo: quando a criança se constitui em “objeto” de sua própria
satisfação, não se trata mais, como na atividade autoerótica, de satisfações de
pulsões parciais, localizadas em tal ou tal zona erógena, e sim de um início da
unificação pulsional e objetal: “as pulsões sexuais, até então isoladas, então
doravante reunidas numa unidade e encontraram, ao mesmo tempo, um objeto”; esse
movimento unificador estender-se-á em seguida a uma outra pessoa, quando das
primeiras “escolhas de objeto” que vão reger toda a vida sexual ulterior. Freud
fornecerá um complemento para essas noções e traçará um quadro de conjunto num
artigo de 1923 sobre “a organização genital infantil”.
O
autoerotismo caracteriza, por conseguinte, uma fase precoce do desenvolvimento
sexual. Entretanto, e Freud já o afirmava em 1899 na carta para Fliess acima
citada, ele “subsiste” sempre, tal como é testemunho na clínica mais banal.
Desempenha um papel importante em certas estruturas; nas psicoses, como o
mostra bem o caso de Daniel-Paul Schreber (1911).
MIJOLLA, Alain de. Dicionário
internacional da psicanálise. Vol. I – A-L. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Verbete princípio autoerotismo/aloerotismo. p. 195 e 196. 
[1]
O narcisismo, como se verá logo adiante, será uma fase posterior ao autoerotismo,
caracterizada pela formação de um eu mais estruturado, que se torna o objeto
principal do investimento libidinal.
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