Chamamos de psicanálise o processo pelo qual trazemos o material mental reprimido para a consciência do paciente. Por que ‘análise’ - que significa dividir ou separar, e sugere uma analogia com o trabalho, levado a efeito pelos químicos, com substâncias que encontram na natureza e trazem para os seus laboratórios? Porque, em um importante aspecto, existe realmente uma analogia entre os dois trabalhos. Os sintomas e as manifestações patológicas do paciente, como todas as suas atividades mentais, são de natureza altamente complexa; os elementos desse composto são, no fundo, motivos, impulsos instintuais. O paciente, contudo, nada sabe a respeito desses motivos elementares, ou não os conhece com intimidade suficiente. Ensinamo-lo a compreender a maneira pela qual essas formações mentais altamente complicadas são compostas; remetemos os sintomas aos impulsos instintuais que os motivaram; assinalamos ao paciente esses motivos instintuais, que estão presentes em seus sintomas, e dos quais até então não tinha consciência - como o químico que isola a substância fundamental, o ‘elemento’ químico, do sal em que ele se combinara com outros elementos e no qual era irreconhecível. Da mesma forma, no que diz respeito àquelas manifestações mentais do paciente que não são consideradas patológicas, mostramos-lhe que apenas em certa medida ele estava consciente da sua motivação - que outros impulsos instintuais, dos quais permanecera em ignorância, haviam cooperado na causação dessas manifestações.
Mais uma vez, esclarecemos os impulsos sexuais no homem ao dividi-los em seus elementos componentes; e, quando interpretamos um sonho, ignoramos o sonho como um todo e derivamos associações dos seus elementos em separado.
Essa bem fundamentada comparação da atividade médica psicanalítica com um procedimento químico poderia sugerir à nossa terapia uma nova direção. Analisamos o paciente - isto é, dividimos os processos mentais em seus componentes elementares e demonstramos esses elementos instintuais nele, isoladamente; o que seria mais natural do que esperar que também o ajudemos a fazer uma nova e melhor combinação deles? Os senhores sabem que essa exigência tem sido realmente proposta. Disseram-nos que, após a análise de uma mente enferma, deve-se seguir uma síntese. E, relacionada com isso, tem-se expressado a preocupação de que o paciente recebe análise demais e muito pouca síntese; e segue-se então um movimento para colocar todo o peso nessa síntese, como o principal fator no efeito psicoterapêutico, para, nela, ver-se uma espécie de restauração de algo que foi destruído - destruído, por assim dizer, pela vivissecção.
Senhores, contudo não posso achar que essa psicossíntese nos estabelece qualquer nova tarefa (...). Porque, na vida mental, temos de lidar com tendências que estão sob uma compulsão para a unificação e a combinação. Sempre que conseguimos analisar um sintoma em seus elementos, liberar um impulso instintual de um vínculo, esse impulso não permanece em isolamento, mas entra imediatamente numa nova ligação.
Para dizer a verdade, o paciente neurótico, com efeito, apresenta-se-nos com a mente dilacerada, dividida por resistências. À medida que a analisamos e eliminamos as resistências, ela se unifica; a grande unidade a que chamamos ego, ajusta-se a todos os impulsos instintuais que haviam sido expelidos e separados dele. A psicossíntese é, desse modo, atingida durante o tratamento analítico sem a nossa intervenção, automática e inevitavelmente. Criamos as condições para que isso aconteça, fragmentando os sintomas em seus elementos e removendo as resistências. Não é verdade que algo no paciente tenha sido dividido em seus componentes e aguarde, então, tranquilamente, que de alguma forma o unifiquemos outra vez.
FREUD, Sigmund. Linhas de progresso na terapia analítica. Vol. XVII das Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 173 a 175.
CARÁTER NA PSICANÁLISE
A abordagem caracterológica foi continuada por (...) Wilhelm Reich (...). Ele é sobretudo conhecido pelas modificações técnicas que preconiza com os pacientes que apresentam uma “armadura de caráter”. Trata-se de evitar interpretar os movimentos pulsionais antes de se ter interpretado e desfeito essa resistência, estrato por estrato. (...) Numerosas reações musculares são destinadas a bloquear o avanço das emoções, da excitação e da angústia. (...) Wilhelm Reich colocou em primeiro plano a análise das resistências e a estrutura do caráter, que ele expõe em sua obra de 1933, Análise do caráter, sua mais fecunda contribuição para a psicanálise. O caráter representa a organização estabilizada, mais ou menos rígida, da economia libidinal do indivíduo submetido ao mesmo tempo às pressões pulsionais e às restrições sociais, às experiências gratificantes ou traumáticas e às repetições de defesas que elas suscitam. O caráter é, em primeiro lugar, um mecanismo de proteção narcísica. Os “traços de caráter” que ele reúne sob o nome de “couraça caracterial” correspondem aos procedimentos utilizados pelo sujeito para resolver, da melhor maneira possível, um problema de recalque.
MIJOLLA, Alain de. Dicionário
internacional de psicanálise. Vol. A-L. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
p. 295 e 108.
Coube a Reich, tal como aparece em seu
clássico Análise de Caráter (1933), o grande mérito de conceber que uma
análise não poderia ficar restrita unicamente à resolução de sintomas, um a um,
como era habitual até então. Postulou que, como proteção contra os ameaçadores
estímulos exteriores e interiores, o ego estrutura-se defensivamente de forma
tão organizada, que, na situação analítica, ela pode adquirir a dimensão de uma
verdadeira couraça resistencial.
ZIMERMAN, David. E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 63 e 64.
A noção de caráter é psicológica e
designa o conjunto de maneiras habituais de sentir ou reagir que distinguem um
indivíduo do outro.
MIJOLLA, Alain de. Dicionário
internacional de psicanálise. Vol. A-L. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
p. 296.
Neurose
de caráter: Tipo de neurose em que o conflito defensivo não se traduz pela
formação de sintomas nitidamente isoláveis, mas por traços de caráter, modos de
comportamento, e mesmo uma organização patológica do conjunto da
personalidade.
LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de
psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
clique em cima para ampliar
ANÁLISE DE CARÁTER E
PSICOSSÍNTESE EM FERENCZI
Se a análise deve ser uma verdadeira reeducação do humano, deve-se, com efeito,
remontar na análise a toda a formação do caráter do ser humano, o qual, quando
do recalcamento pulsional, constitui-se como automatismo protetor, retrocedendo
até os seus fundamentos pulsionais. É necessário que tudo volte a ser fluido,
por assim dizer, para que em seguida, a partir desse caos passageiro, uma nova
personalidade mais bem adaptada possa constituir-se em condições mais
favoráveis. Em outras palavras, isso significaria que, teoricamente, nenhuma
análise sintomática pode ser dada por concluída se não for, simultaneamente ou
em seguida, uma análise de caráter. Sabe-se muito bem que, na prática, pode-se
curar pela análise um grande número de sintomas, sem que se produzam mudanças
tão profundas. Certas almas primitivas, ignorantes da aspiração que o homem
cultiva, apesar de si mesmo, no sentido da harmonia e da estabilidade, ficarão
com medo, naturalmente, e perguntarão o que sucederá a um homem que perde seu
caráter na análise. Podemos prometer que estamos em condições de fornecer um
novo caráter sob medida, à maneira de uma roupa nova, para substituir aquele
que se perdeu? Não poderia acontecer que o paciente, uma vez despojado do seu
antigo caráter, decida fugir e se nos escape, nu, sem caráter, antes que o novo
invólucro estivesse pronto? Freud já nos mostrou a que ponto essas dúvidas era
injustificadas e como à psicanálise sucedia automaticamente a síntese. De fato,
a dissolução da estrutura cristalizada de um caráter é apenas, a bem dizer, uma
transição para uma nova estrutura certamente mais adequada, em outros termos,
uma recristalização. Sem dúvida, é impossível descrever em detalhe
o aspecto dessa nova vestimenta, com a única exceção, talvez, de que será com
certeza mais bem ajustada, ou seja, mais adaptada ao seu objetivo.
FERENCZI. O
problema do fim da análise. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 20 e 21.
ANÁLISE DE CARÁTER EM REICH
“Quando
se tem um caráter tem-se também uma experiência típica, que sempre retorna”
(Nietzsche).[1]
Se considerarmos o específico domínio da
psicanálise, o campo da técnica analítica foi o lugar em que Reich alcançou
maior reconhecimento. Esse reconhecimento se deu tanto em função do trabalho
desenvolvido na direção do Seminário da Técnica em Viena (de 1924 a 1930), como
também pela detalhada proposta elaborada pelo autor para a clínica das neuroses:
a Análise do Caráter. (...) No que se refere à Análise de Caráter,
estamos no movediço terreno da técnica psicanalítica, um espaço, segundo Joel
Birman, permeado pela “existência de um número quase infinito de procedimentos
e de manejos técnicos”[2]. Nessa ampla seara, o
próprio Freud, pelo menos conceitualmente, não fechou as portas para a presença
de estilos pessoais. Destacando a importância da singularidade do analista, o
mestre psicanalista chegou a registrar:
Essa técnica revelou-se a única
adequada para a minha individualidade. Não me atrevo a contestar que uma
personalidade médica de outra constituição seja levada a preferir uma outra
atitude ante os pacientes e a tarefa a ser cumprida.[3]
Na Análise do Caráter, tal como a
descritiva denominação da técnica proposta por Reich indica, o foco dos
trabalhos dirige-se para o caráter como um todo. Para o psicanalista argentino
Horácio Etchegoyen[4],
em sentido oposto ao do dissidente da psicanálise Alfred Adler, que "se
serviu do caráter para descartar a teoria da libido"[5] (...), "o caráter se
reintegra à teoria psicanalítica graças principalmente a Reich" (p. 221).
Contudo, cabe assinalar que essa orientação não representava no domínio
psicanalítico uma perspectiva isolada de um autor, mas sim uma direção que, em
elevado grau, já dava sinais de sua existência. Roazen[6], atribuindo relevância ao
efetuado por Reich nessa área, assim sintetizou o movimento que se fez presente
na clínica psicanalítica em direção ao estudo dos traços de caráter.
“Com o passar dos anos, Freud foi
modificando sua abordagem. Seu objetivo precípuo deixou de ser a interpretação
e a cura dos sintomas para se tornar a superação das defesas e resistências.
Compreendeu que, fascinados pela sintomatologia, podemos deixar de ver o ser
humano; de modo que os psicanalistas começaram a se interessar, influenciados,
em parte, peta obra de Wilhelm Reich, pelo estudo dos traços de caráter”[7].
O próprio Freud, em 1916, no artigo Alguns
tipos de caráter encontrados na prática psicanalítica, expressa de forma
clara que o universo da análise dos sintomas não bastava para que um tratamento
fosse levado a bom termo. Segundo o psicanalista, o caráter, como fonte de
resistência, acaba por exigir que a análise se volte, primeiramente, para o seu
domínio. Em suas palavras:
“Quando o médico realiza o
tratamento psicanalítico de um neurótico, de modo algum dirige o interesse
apenas ao caráter dele. Quer saber, antes de mais nada, o que significam seus
sintomas, que impulsos instintuais se escondem por trás deles [...]. Mas a técnica
que tem que seguir obriga o médico a voltar sua curiosidade imediata para
outros objetos. Ele nota que sua investigação é ameaçada por resistências que o
enfermo lhe opõe, e que tais resistências podem ser atribuídas ao caráter do
enfermo. Então é esse caráter que reclama primeiramente o seu interesse”[8].
Se observarmos com acuidade esse fragmento
do artigo de Freud, é possível supor que para o autor, o terapeuta, na posição
de médico, portanto um aliado do paciente, busca analisar, "antes de mais
nada", os sintomas. Entretanto, a fim de efetuar o seu trabalho, ele se vê
impelido a voltar sua investigação clínica, de maneira inevitável, para o
próprio caráter do paciente, na verdade, uma fonte de resistências que
dificulta o desenvolvimento do tratamento. Assim, ao que nos parece, nesse
trecho, de maneira cuidadosa, Freud procura justificar conceitualmente o fato
da atividade analítica não se limitar à esfera dos sintomas. Uma orientação
clínica com implicações muito sérias e delicadas, que a
perspicácia de Freud não deixa de notar: a rigor, a doença psíquica não
constitui uma espécie de bacilo que possa ser tratado de forma separada de seu
portador.
Em 1921, Ferenczi, num artigo dedicado à
chamada "técnica ativa", Prolongamentos da "técnica ativa"
em psicanálise, também aborda a importância do caráter no processo de
análise. A título de ilustração, selecionamos um trecho em que o psicanalista
húngaro efetua uma aguda diferenciação entre sintoma e traço de caráter.
“Num certo sentido, toda análise
deve levar em conta o caráter do paciente na medida em que ela prepara, pouco a
pouco, o ego deste para aceitar dolorosas tomadas de consciência. Entretanto,
há casos em que são os traços de caráter anormais que dominam, em vez dos
sintomas neuróticos. Os traços de caráter diferem dos sintomas neuróticos,
entre outras coisas, pelo fato desses indivíduos, à semelhança dos psicóticos,
não terem geralmente `consciência de sua doença'; esses traços de caráter são,
de certo modo, psicoses privadas, suportadas, até admitidas por um ego
narcísico, em todo caso, anomalias do ego, e é precisamente o ego que opõe a
maior resistência a essa mudança”[9].
No ano seguinte, 1922, Reich, no artigo Dois
tipos narcisistas, assim se pronuncia sobre o assunto: "não há
neurose, não importa quão claramente definida, sem traços de um distúrbio de
toda a personalidade"[10]. A explicitação dessa
mesma perspectiva é também registrada em 1925 nas páginas introdutórias do
livro O caráter impulsivo. Para o autor: "Há muito tempo a
psicanálise deixou de ser apenas terapia do sintoma: ela vem se tornando cada
vez mais uma terapia do caráter como um todo"[11].
Ainda em 1925, tal direcionamento da
clínica psicanalítica é mencionado e comentado no artigo de Karl Abraham A
formação do caráter no nível genital do desenvolvimento da libido. Ao
concluir o trabalho, o psicanalista alemão cita a frequente necessidade de que
uma análise do caráter seja efetuada, mas, ao mesmo tempo, ele alerta para as
dificuldades presentes nessa tarefa. Essa dúvida em relação ao sucesso da
análise do caráter é registrada de forma enfática, a ponto de o autor lançar
para o futuro[12]
a possibilidade de uma avaliação desse caminho da clínica psicanalítica. De
acordo com Abraham:
“A psicanálise não está, de modo
algum, enfrentando simplesmente a tarefa de curar sintomas neuróticos no
sentido estrito da palavra. Ela frequentemente tem de lidar ao mesmo tempo, ou
até mesmo em primeiro lugar, com deformações patológicas do caráter. Até onde
vai nossa experiência, mostra ela que a análise do caráter é um dos trabalhos
mais difíceis que o analista pode empreender, mas que indubitavelmente
demonstrou ser, em alguns casos, o mais compensador. Atualmente, contudo, não
nos achamos em condições de emitir qualquer julgamento geral sobre os
resultados terapêuticos da análise do caráter; isto, devemos deixar à
experiência futura”[13].
Acompanhando e participando -
especialmente nos Seminários de Técnica - desse processo de desenvolvimento da
clínica psicanalítica, Reich organiza e propõe a Análise do Caráter.
Segundo supomos, sem qualquer preocupação com o fato de se ultrapassar o limite
dos sintomas, ele se sentirá à vontade em trabalhos dedicados à leitura e
intervenção em estruturas presentes, sejam elas, instituições sociais ou
formações de caráter. Como um sinal dessa postura, em 1933, no Prefácio da
primeira edição [do livro Análise do Caráter[14]], enxergando uma
articulação entre a esfera social e a pessoal, Reich afirmou:
“Cada organização social produz as
estruturas de caráter de que necessita para existir. Na sociedade de classes, a
classe dominante assegura seu domínio com auxílio da educação e da instituição
da família, tornando suas ideologias as ideologias dominantes de todos os
membros da sociedade [...]. Assim, a psicologia científica natural e a
caracterologia têm uma tarefa claramente definida: traçar os caminhos e
mecanismos pelos quais a existência social dos homens se transforma em
estrutura psíquica e, consequentemente, em ideologia”.
Com essa visão dos fatos, refletindo a
orientação do autor chamada de freudo-marxista, a atividade clínica não deixa
de ser também uma ação política, uma luta contra a ideologia dominante
incrustrada no caráter individual. De qualquer forma, a Análise do Caráter
situa-se na esfera dos trabalhos clínicos que necessariamente envolvem alguma
reestruturação da personalidade. Porém, como essa atividade terapêutica acaba
promovendo, de maneira inevitável e por determinados períodos, algum
desequilíbrio no arranjo que constitui o caráter, ela tende a suscitar forte
resistência, tema que detidamente abordaremos neste escrito.
Nesse campo de estudo, de início, cabe
indagar: com quais sentidos Reich tende a empregar o termo caráter? Para o
autor, tal como o termo vinha sendo utilizado no domínio psicanalítico, caráter
indica a presença de uma orientação psíquica típica resultante da interação
entre fatores constitucionais e históricos. Esse entendimento básico é
registrado, em 1925, no livro O caráter impulsivo:
"Podemos definir 'caráter'
como a atitude psíquica particular em direção ao mundo externo típica de um
dado indivíduo. Essa atitude, por sua vez, é determinada pela disposição e pela
experiência, no sentido da 'série complementar' (Erganzungsreihe) de
Freud"[15].
Quatro anos depois, em 1929 com a
publicação do artigo O caráter genital e o caráter neurótico[16], na Internationale
Zeitschrift für Psychoanalyse, essa compreensão vai ser significativamente
ampliada. No referido artigo, pode-se notar a presença de três empregos do
vocábulo caráter:
a) para indicar a existência de uma
formação egóica organizada (nesse caso o termo tende a ser utilizado sem
qualquer qualificação, apenas caráter);
b) para sugerir a presença de uma
construção psíquica vinculada ao universo das neuroses e marcada pela rigidez e
cronicidade (caráter neurótico);
c) para se referir a uma hipotética
estrutura organizada e permeada pela flexibilidade (caráter genital, a noção
que representou o ideal de saúde na abordagem do autor).
Se relacionarmos essa terminologia
reichiana com a técnica analítica proposta pelo autor, é possível deduzir que a
Análise do Caráter se ajusta às situações clínicas que envolvem o
trabalho com estruturas que comportam, de maneira acentuada, "reações
neuróticas que se tornaram crônicas e foram incorporadas no ego"[17]. (...) No que se refere à
experiência exigida do terapeuta, uma vez que essa técnica tende a suscitar
fortes reações emocionais e fases de desamparo do paciente, Reich não aconselha
o seu emprego por parte de analistas iniciantes[18].
Quanto aos resultados a serem esperados, o
psicanalista pondera que mesmo nas análises bem-sucedidas a estrutura e os
traços básicos do indivíduo não se alteram, mas mudanças de grau tendem a
ocorrer. Em suas palavras: "Embora esses traços persistam, eles, depois da
Análise do Caráter, subsistem dentro de limites que não impedem a capacidade de
trabalho ou de satisfação sexual"[19]. Nesse trecho, Reich de
alguma forma se alinha ao apontado por Freud a respeito do que se pode esperar
da análise: "temos de nos contentar em recuperar [...] algo da capacidade
de realização e de fruição"[20].
Sobre a maneira como o processo de análise
deva ser desenvolvido, Reich atribui importância decisiva à fase inicial do
atendimento. A seu ver, como raramente os pacientes conseguem aderir
prontamente à regra da associação livre, torna-se necessário lidar com as
resistências que dificultam tal adesão e, de maneira geral, não permitem um
real engajamento nos trabalhos. Para o autor, longe de constituírem exceções,
essas defesas são esperadas, pois sempre há forças no sentido da manutenção do
estado neurótico; uma estruturação, em última instância, que possibilitou uma
forma de existência. Assim sendo, pode-se dizer que as diretrizes técnicas
formuladas por Reich estão fortemente voltadas para o desenvolvimento de uma
espécie de preparação do paciente para a análise; atividade que tende no começo
do tratamento, período que, se bem ultrapassado, possibilitará o aprofundamento
do trabalho analítico, agora com menor interferência do analista. Sobre as
dificuldades que tendem a ocorrer no início do processo de análise, Reich
observa:
“[Se] desde o começo do tratamento
nossos pacientes seguissem a regra fundamental, ainda que em grau apenas
razoável, não haveria motivo para se escrever um livro sobre análise do
caráter. Infelizmente, só poucos pacientes são acessíveis à análise desde o começo;
são incapazes de seguir a regra fundamental e só conseguem fazê-lo depois de um
afrouxamento de suas resistências”[21].
(...) O enfoque reichiano aborda os
fenômenos privilegiando o chamado ponto de vista econômico, aquele voltado para
os aspectos quantitativos. Assim sendo, de forma coerente com essa orientação
geral, no trabalho clínico o psicanalista considera fundamental que a análise
mobilize os afetos. Vejamos um trecho em que o autor, apoiando-se em Freud,
chama a atenção para esse fator:
"A experiência clínica
confirma as demandas de Freud no sentido de que o paciente que tende a repetir
suas experiências por acting out deve, a fim de resolver realmente seus
conflitos, não só compreender o que está levando ao acting out, mas
também recordar com afeto"[22].
Sobre a importância dessa dimensão
quantitativa na proposta de Reich voltada para a técnica psicanalítica,
Etchegoyen afirma:
“Na segunda metade da década de
vinte, o Seminário de Técnica Psicanalítica que Wilhelm Reich dava em Viena
inicia uma revisão que logo haveria de cristalizar-se em mudanças
significativas. Essa grande abertura se deu com a chave do fator energético,
isto é, o ponto de vista econômico”[23].
Para Reich, a energia a ser mobilizada
pelo processo analítico estaria presa não só nos sintomas, mas, também, nos
traços neuróticos instalados na estrutura de caráter. Por esse motivo, o
trabalho clínico, além de abranger a patologia óbvia, os sintomas, deveria
avançar de maneira a alcançar a dimensão patológica presente no próprio
caráter, os traços neuróticos. Mas, em termos conceituais, como diferenciar
sintoma de traço neurótico? Se reunirmos as formulações do autor sobre a
matéria, chegaremos às seguintes distinções:
a) em termos da percepção do paciente, ao
contrário do sintoma, o traço não é notado como algo patológico, trata-se,
portanto, de uma formação egossintônica;
b) quando apontados, os traços tendem a
suscitar racionalizações, já os sintomas não;
c) quanto ao significado e origem, os
traços são frutos de construções históricas mais complexas do que as
verificadas nos sintomas;
d) a análise dos traços tende a suscitar
uma resistência mais intensa do que a análise dos sintomas[24].
Numa formulação mais abrangente e
focalizando a resistência vinculada aos traços neuróticos é possível afirmar
que, de acordo com Reich, no processo de análise o conjunto de traços
neuróticos incorporados ao caráter acaba atuando como uma espécie de barreira
contra os esforços terapêuticos. Essa estrutura psíquica defensiva, que ele
inicialmente chama de couraça narcísica[25], em escritos a partir de
meados da década de 1930 vai passar a ser localizada também no corpo,
especialmente como hipertonia muscular crônica[26].
Na técnica da Análise do Caráter
ganha relevo as diretrizes voltadas para o tema das interpretações. O ponto
nodal diz respeito ao fato de que, segundo Reich, do material trazido pelo
paciente, o analista acaba tendo de escolher o que interpretar. Assim sendo, o
autor formula uma regra para nortear essa escolha, qual seja: em períodos de
resistência, as interpretações devem sempre recair sobre as defesas que o
analisando está apresentando. Segundo Reich, se, em vez de se trazer à tona as
resistências presentes, interpretações outras, potencialmente valiosas, porém
inadequadas para o momento, forem lançadas, elas acabarão gerando pouco efeito,
tal como sementes jogadas em terreno árido. Em suas palavras: "a
experiência demonstra que o efeito terapêutico das comunicações ao paciente se
perde se elas forem feitas com a presença de resistências não dissolvidas"[27]. Nessa linha conceitual
que prioriza o trabalho com a resistência, Reich observa que o processo clínico
só seria completo se composto por dois momentos:
"Primeiro, captar a
resistência com base na situação atual, isso por meio da interpretação de seu
significado no presente; segundo, a dissolução da resistência vinculando o
material atual ao infantil"[28].
Nesse tema do manejo da resistência,
talvez seja apropriado dar crédito a uma orientação feita por Freud, ainda em
1914, no artigo Recordar, repetir e elaborar. De acordo com mestre
psicanalista:
"Somente no auge da
resistência podemos, em trabalho comum com o analisando, descobrir os impulsos
instintuais que a estão nutrindo, de cuja existência e poder o doente é
convencido mediante essa vivência"[29].
Vale notar que Freud aponta para a
importância de que o analisando vivencie esse ápice da resistência, experiência
que facilitaria a percepção do próprio paciente, e também do analista, a
respeito do jogo de forças presente. Como ainda veremos neste estudo, a
perspectiva de atribuir relevância ao processo clínico que, pela sua dinâmica
interna, leve à ocorrência de vivências profundas e intensas, permeou, em
muito, não só o enfoque terapêutico de Reich, como também o de Ferenczi.
Com relação ao analista húngaro, ao expor
a sua forma de proceder nos períodos em que o processo analítico encontra-se
paralisado em função da resistência, Reich indica, como um modelo positivo, a
orientação clínica "ativa" de Ferenczi. Mais especificamente, ele
menciona “a ‘terapia da provocação’[30], como a chamava Ferenczi”[31], como um caminho de
perspectiva acertada, isso em comparação a uma atitude centrada na espera do
que vem do analisando. Portanto, na busca por trazer à tona a resistência em
sua plena expressão - necessidade apontada por Freud em Recordar, repetir e
elaborar[32]-,
o procedimento adotado por Reich, em vez de uma orientação de espera, mais
condizente com o modelo freudiano, se inclinou para um trabalho mais ativo, uma
perspectiva mais próxima à de Ferenczi.
Em termos mais amplos, a uma base geral
freudiana, o jovem analista, mobilizado pela procura de soluções a impasses
experimentados na prática clínica, promove ampliações e estas apontam para
linhas que guardam semelhança às sugeridas por Ferenczi. Essa hipótese ganha
reforço se levarmos em conta o que o analista Walter Briehl afirmou sobre as
bases da orientação clínica de Reich:
“Parece que foi Ferenczi, de
Budapeste, quem forneceu as bases para o trabalho de Reich. Ferenczi era muito
respeitado em Viena (...). Assim como Ferenczi desenvolvera seus procedimentos
terapêuticos ativos para serem usados quando e onde uma longa tentativa de
análise clássica não consegue penetrar as estruturas do ego, assim também Reich
desenvolveu a teoria e prática da análise de caráter depois de descobrir que,
com muita frequência, os esforços terapêuticos dos analistas se viam frustrados”[33].
Ainda em relação ao trabalho de
interpretação, um prisma norteador da Análise do Caráter vincula-se à
meta de evitar a ocorrência de atendimentos clínicos que acabem em
"situação caótica"[34]. Nestas, muito material é
produzido pelo paciente e várias interpretações são feitas, mas o processo
analítico não se desenvolve. Para evitar tal incidência, Reich defende que as
comunicações do analista devam ser ordenadas de acordo com a estrutura específica
da neurose. Com o objetivo de explicar essa orientação, ele imagina um exemplo
esquemático no qual um indivíduo primeiro ama a mãe, depois odeia o pai e, por
fim, esse ódio é transformado num amor reativo em relação ao pai. Numa análise,
o terapeuta deveria respeitar essa sequência histórica de camadas, que Reich
compara às sedimentações geológicas, ou seja, ele focalizaria inicialmente a
configuração mais externa, o afeto reativo, e caminharia, passo a passo, em
direção à tomada de consciência dos estratos mais profundos. Na verdade,
segundo Reich, esse trabalho seria facilitado pelo fato de que a neurose de
transferência se desenvolve na sequência inversa ao processo de sua formação,
quer dizer, do atual para o passado. Assim sendo, caberia ao analista não
atrapalhar esse curso de aparecimento natural com interpretações não ordenadas
de acordo com tal processo. Tendo em mente essa compreensão, ele alerta:
"a neurose de transferência se
desenvolverá espontaneamente conforme a estrutura da neurose individual, isso
ocorrerá se evitarmos um erro: fazer interpretações prematuras, que penetrem
fundo demais, e pouco sistemáticas"[35].
Neste ponto cabe indagar: qual o sentido
que Reich atribui quando aponta para erro de se fazer interpretações
"pouco sistemáticas"? Para o formulador da Análise do Caráter,
a fim de que efeitos benéficos sejam realmente alcançados, os traços neuróticos
do paciente precisam ser detidamente circunscritos e analisados, não apenas
tocados e abandonados. Em termos de ação efetuada, Reich, de forma insistente,
chamava a atenção para a formação neurótica incrustada na estrutura de caráter.
Assim o próprio autor explica o procedimento adotado:
“Isolamos o traço de caráter e
colocamos o paciente frente a ele repetidamente, até que o paciente comece a
vê-lo de forma objetiva e a experimentá-lo como um sintoma doloroso; com isso,
o traço de caráter começa a ser experimentado como um corpo estranho do qual o
paciente quer desembaraçar-se”[36].
Na sequência de sua exposição, ele alerta
para o longo e laborioso processo que essa orientação clínica tenderia a
demandar: "Não devemos, porém, alimentar ilusões. Assinalar tal
resistência de caráter e elaborá-la de maneira analítica requer em geral muitos
meses de esforço continuado e de paciente persistência" (p. 72). Cabe
observar que, nesse último trecho citado, Reich usa a expressão
"resistência de caráter" para indicar o papel de defesa exercido pelo
traço de caráter neurótico. Para o autor, essa formação repetitiva, compulsiva
e egossintônica, que traz alguma satisfação pulsional, mas implica numa perda
de liberdade, no processo analítico, pelo seu aspecto de não contato com o
outro, vai atuar como uma barreira narcísica que limita o desenvolvimento do
trabalho.
A respeito do procedimento sistemático de
Reich na análise das defesas, Etchegoyen[37] registra:
“Desde
seus primeiros trabalhos no seminário de Viena, Reich defendeu não só que se
deve interpretar ordenadamente (a defesa antes do conteúdo, seguindo o conselho
de Freud), mas também (e essa já é sua própria contribuição) que esse
tratamento da defesa deve ser sistemático e consequente”.
Dada a orientação que defende a
necessidade de que um trabalho analítico sistemático sobre os traços neuróticos
de caráter seja efetuado pelo terapeuta, uma questão pode ser formulada: a
insistência, a repetição e o apontamento detidamente realizado pelo analista do
caráter não correria o risco de aproximar essa atividade clínica do campo
educativo?
Em defesa de que a técnica proposta por
Reich constitui uma ação clínica isenta de contornos educativos, segundo
supomos, duas linhas de argumentos podem ser traçadas. Na primeira, de
orientação pragmática, a insistência do analista representa, pura e simplesmente,
uma exigência da atividade clínica no terreno da Análise do Caráter. Sem
esse caminho de ação, o processo de análise estaria fadado ao fracasso e o
indivíduo que procura ajuda analítica não teria seu sofrimento neurótico
aliviado. Na segunda, de perspectiva conceitual, o traço neurótico, como uma
formação egossintônica, representa uma forma de estar no mundo com que o
analisando se identifica; um padrão habitual, automatizado, compulsivo e
adaptado de se portar. São tais características que demandam a necessidade de
um detido e insistente trabalho analítico (sempre um longo e atento processo),
atividade desenvolvida no sentido de ampliar o grau de liberdade que, de forma
distinta dos sintomas, ou seja, sem alarde, os traços neuróticos acabam por
restringir. De qualquer maneira, apesar desses bons argumentos, vale estar
atento para os limites que o analista do caráter deve pautar suas intervenções
no procedimento clínico.
Procurando reunir o aqui apresentado a
respeito do trabalho de interpretação na Análise de Caráter, a fim de se
evitar a ocorrência de atendimentos que acabem em situações caóticas, Reich
propõe que as interpretações sejam ordenadas de acordo com a específica
estrutura da neurose. Com isso, caberia ao analista a tarefa de escolher o que
interpretar e essas escolhas seriam condicionadas pelas necessidades do
processo clínico. Além disso, o autor defende que os traços de caráter sejam
isolados e trabalhados de forma sistemática, o que indica uma preocupação com
o, digamos, acompanhamento consequente de fios levantados. Tendo por base tais
diretrizes, a nosso ver, não resta dúvida de que a Análise do Caráter é
uma técnica marcada por aspectos intrusivos destinados a abrir o sistema de
defesas de estruturas neuróticas cristalizadas. Porém, de outra parte, não se
pode deixar de observar que ela comporta também orientações voltadas para a
organização e coerência do atendimento, aspectos que, certamente, tendem a
gerar um contexto de suporte para o analisando. Ou seja, nessa técnica, o
paciente tem motivos de sobra para se ver confuso, afinal a análise não se
desenvolve sem que algum desequilíbrio venha a ocorrer, mas esse estado se dá
num enquadre consistente, campo de sustentação para o delicado processo clínico
em curso.
Discutindo esse assunto das interpretações
em análise, Etchegoyen menciona uma variável que ajuda a compreender a
importância atribuída por Reich à organização do processo de atendimento. Para
o autor, essa orientação da Análise do Caráter deve ser entendida não de forma
isolada, mas no contexto da clínica psicanalítica que se praticava na época.
Para ele,
“não se deve esquecer que a
reflexão de Reich parte da situação caótica, fato concreto e nefasto da práxis
de sua época (e, às vezes, da nossa). Se não respeitarmos a estratificação da
defesa, vamos produzir algo assim como um cataclismo, vamos ter uma zona de
fratura, de falha - falando em termos geológicos”[38].
Pelo exposto, fica claro que a postura
do terapeuta na Análise do Caráter comporta pouca semelhança com uma
atitude marcada pela passividade. Em vez desta, as formulações reichianas
apontam para um analista presente e envolvido, alguém que, por vezes, age e
interfere no processo de atendimento, portanto, uma orientação que não lembra o
modelo de uma tela branca que espera para receber os conteúdos transferidos
pelo paciente. Sobre o assunto, de forma enfática, Reich assim se manifesta:
“É um erro interpretar a regra
geral analítica - de que se deve ser para o paciente como uma folha de papel em
branco sobre a qual ele projeta suas transferências - no sentido de que se
devesse adotar, sempre e em todos os casos, uma atitude como de múmia,
totalmente passiva. Em tais circunstâncias, poucos pacientes podem
"descongelar-se" e isso conduz a medidas artificiais, não analíticas”[39].
A psicanalista norte-americana Clara
Thompson (1893-1958), comentando as diretrizes técnicas da Análise do
Caráter, destacou a forma prioritária e intensa com que, de acordo com
Reich, as resistências de caráter deveriam ser trabalhadas. Segundo a autora,
escritos do livro Análise do Caráter[40] exerceram forte
influência em importantes analistas norte-americanos. Vejamos esses dois
conteúdos nas palavras da norte-americana:
“[Reich] preconizava um ataque
frontal às resistências do caráter. Essa técnica [...] deu-nos o primeiro
critério efetivo para a análise da estrutura do caráter. Horney, Sullivan e
outros promoveram depois diversos melhoramentos, com base nas ideias de Reich,
mas este foi o primeiro a organizar o pensamento psicanalítico sobre o assunto
e ainda hoje suas conferências publicadas, em Análise do Caráter,
continuam entre os melhores guias práticos para uso de estudiosos interessados
na matéria”[41].
Em outro trecho, ainda atribuindo
relevância à produção de Reich no domínio psicanalítico, em especial no que se
refere à esfera da análise do caráter, Thompson ponderou: “[as] críticas ao seu
pensamento ulterior não devem, contudo, prejudicar uma apreciação de suas
primeiras contribuições, especialmente no campo da análise do caráter”[42]. Interessante constatar
que a autora, no livro Evolução da psicanálise, publicado originalmente
ainda em 1950, alertou para a possibilidade de que, em relação a Reich, viesse
a ocorrer o seguinte fenômeno: o que ele estava realizando depois da
psicanálise poderia prejudicar a avaliação do que ele realizou na psicanálise.
Apesar de ser uma hipótese de difícil comprovação, suspeitamos que a autora
norte-americana registrou uma tendência que ela já percebia em curso. De outra
parte, não deixa de ser uma ironia do destino verificar que Reich, um cientista
que morreu numa prisão nos Estados Unidos, representou, no campo da técnica
analítica, uma referência importante para autores da escola norte-americana da
Psicologia do Ego.
Também Anna Freud, em O ego e os
mecanismos de defesa[43], ao discorrer sobre o
tema das defesas permanentes do ego, cita formulações de Reich presentes no
livro Análise do caráter. Mais especificamente, a autora menciona a
formação de traços crônicos de caráter a partir de conflitos na infância, a
explicitação desses traços em atitudes corporais e o papel defensivo que esses
padrões fixos de comportamento desempenham no processo de análise. Em suas
palavras:
“Outro terreno em que as operações
defensivas do ego podem ser estudadas é o dos fenômenos a que Wilhelm Reich se
refere em seus comentários sobre ‘a análise consistente da resistência’. As
atitudes corporais, como a rigidez, as peculiaridades pessoais, como um sorriso
fixo, o comportamento hostil, irônico e arrogante - tudo isso são resíduos de
processos defensivos muito vigorosos, no passado, que acabaram por dissociar-se
de suas situações originais [...] e evoluíram para traços caracterológicos
permanentes, a "blindagem do caráter" (Charakterpanzerung,
como Reich os denomina). Quando, na análise, conseguimos localizar a origem
histórica desses resíduos, estes recuperam sua mobilidade e deixam de bloquear,
por sua fixação, o nosso acesso às operações defensivas em que o ego está,
nesse momento, ativamente empenhado”[44].
O psicanalista Richard F. Sterba,
aproximando as produções de Reich e Anna Freud, faz a seguinte observação a
respeito do livro O ego e os mecanismos de defesa: "Em minha
opinião, as elaborações de Reich sobre a técnica de análise das resistências
prepararam o caminho para o livro de Anna Freud O ego e os mecanismos de
defesa"[45].
Também Roazen[46],
em um tópico dedicado a expor as contribuições de Anna Freud à psicanálise, ao
comentar o mesmo livro da psicanalista, faz menção ao trabalho de Reich nessa
área. Nas palavras do comentador:
“Embora tivesse tido predecessores
em Freud e em outros psicanalistas, e particularmente no trabalho de Reich a
respeito da estrutura do caráter, que veio antes de sua própria contribuição,
seu livro mais famoso, O Ego e os mecanismos de Defesa [...]
sistematizou e codificou o que, então, se conhecia analiticamente da psicologia
do ego”[47].
Além das formulações técnicas voltadas
para o trabalho clínico com as defesas incorporadas no ego, outro conteúdo que
em muito distinguiu a produção de Reich na área da análise do caráter foi a
ênfase dada à análise da transferência negativa, sobretudo a latente e
especialmente na fase mais inicial dos atendimentos. Discorrendo a respeito do
assunto, em Sobre o manejo da transferência[48], o psicanalista relata
que, paradoxalmente, se deparou com a transferência negativa na busca pelo
estabelecimento da transferência positiva duradoura, único meio de sustentação
do processo analítico. Porém, de acordo com o autor, no período inicial das análises
raramente ocorre uma efetiva transferência positiva, mas sim o predomínio de
manifestações afetivas que apenas a aparentam. Como contribuição a essa
matéria, ele identifica três dessas formas ilusórias:
“1) 'transferência positiva
reativa' [...] o paciente compensa um ódio transferindo manifestações de
aparente amor [...];
2) subserviência ao analista
resultante de um sentimento de culpa ou de masoquismo moral [...];
3) transferência de desejos
narcisistas na esperança de que será amado ou admirado pelo analista”[49].
Segundo Reich, a sua experiência clínica e
a adquirida na condução dos trabalhos no Seminário de Técnica evidenciaram que
os analistas, por vários motivos, tendiam a pouco notar a presença de
transferência negativa - uma importante fonte de resistência - e, com isso, os
processos clínicos não deslanchavam. Considerando que esse erro técnico era
muito frequente, ele chamou a atenção dos colegas analistas para algumas
posturas que poderiam sugerir a existência dessa forma de resistência. Nesse
rol, o especialista em técnica alertou para os pacientes:
“Solícitos, ostensivamente cordiais
[...] que estão sempre numa transferência positiva e nunca revelam uma reação
de desapontamento [...]; aqueles que são sempre rigidamente convencionais e
corretos [...]; os pacientes cujos afetos estão paralisados [...]; os pacientes
que se queixam da artificialidade de seus sentimentos e de sua emotividade”[50].
Neste ponto vale assinalar a existência de
uma perspectiva que tende a acompanhar o olhar de Reich sobre os fenômenos,
isso tanto na clínica, como nas leituras sociais efetuadas pelo autor: a busca
pelo desvendar das patologias adaptadas, aquelas que se apresentam sob uma capa
de normalidade. Considerando apenas o âmbito da clínica, como já exposto, na Análise
do Caráter a sensibilidade reichiana está voltada, sobretudo, para a
patologia egossintônica, o traço neurótico de caráter. Em função dessa
orientação basilar, o leitor de seus escritos acaba assistindo a um curioso
desfile de formas defensivas que os seres humanos apresentam e que, na situação
de análise, desempenham a função de evitar que o processo se aprofunde, em
outras palavras, se instaure de verdade. Assim, por exemplo, a polidez, em vez
de simplesmente representar um sinal de boa educação, quando estereotipada,
acaba sendo interpretada como um muro que limita o contato com o mundo em geral
e, no setting clínico, com o analista. Há, também, o analisando que
produz muito material, supostamente de origem inconsciente, mas, estranhamente,
o atendimento anda em círculos, não avança, o que sugere não a presença de um
paciente colaborador, mas sim a existência de uma atitude de proteção narcísica
muito bem sedimentada. Ele produz muito, mas trata-se de uma fala vazia,
marcada pelo intuito de tentar manter a análise sob controle. Para Reich, se o
analista não perceber e não lidar com essas formas não óbvias de resistência,
que ele nomeia como resistências de caráter, o atendimento não terá qualquer
chance de progredir.
Vinculado ao tema da análise da
transferência negativa, o norte-americano Alexander Lowen (1910-2008) - o
criador, juntamente com o grego John C. Pierrakos (1921-2001), da Análise
Bioenergética - efetuou um interessante registro a respeito de sua terapia com
Reich, realizada de 1942 a 1945 nos Estados Unidos. Segundo Lowen:
“[No] início das sessões, ele pedia
aos seus pacientes que lhe dissessem todos os pensamentos negativos que tinham
tido sobre ele. Acreditava que todos os pacientes possuíam uma transferência
negativa para com ele, assim como uma positiva, e ele não acreditaria nesta a
menos que a negativa fosse expressa antes”[51].
Ao que parece, mesmo distante do movimento
psicanalítico e já não trabalhando especificamente com a Análise do Caráter,
Reich não deixou de atribuir relevância central ao papel da transferência
negativa no processo clínico.
Ao avaliar a contribuição de Reich para o
campo da técnica analítica, o psicanalista francês Daniel Lagache (1903-1972),
no tópico “Reich e a transferência negativa” do livro Transferência[52], afirmou em tom
conclusivo: "o mérito de Reich está em ter desenvolvido, com sólidos
argumentos clínicos e técnicos, as implicações do conceito de transferência
negativa. Nisso ele deu provas do mais autêntico freudismo" (p. 53). Ainda
na referida obra, o autor observou: "A despeito de seus desvios
ulteriores, Reich permanece como um dos que mais contribuiu para a teoria e a
prática do tratamento psicanalítico"[53]. Um apontamento a
respeito da produção de Reich na psicanálise que lembra o registrado, apenas
dois anos antes, por Clara Thompson, em Evolução da psicanálise[54], ou seja, os dois autores
atribuíram um considerável crédito ao efetuado por Reich na área da técnica
analítica.
Ainda sobre o tema do manejo da
transferência negativa, Roazen, ao abordar o assunto, pontuou com claro
exagero: "Wilhelm Reich chegou ao extremo de basear todo o seu programa
terapêutico na interpretação das transferências negativas"[55]. Em seguida, o canadense
mencionou a influência exercida por Reich nessa matéria: "Em parte devido
à sua influência [de Reich], 'a agressão reprimida' esteve em voga entre os
analistas do final da década de 1920 e início da de 1930" (p. 195).
Aparentemente sem grande importância, um
evento que envolveu o manejo da transferência negativa foi narrado por Freud em
Análise terminável e interminável[56]. Nesse artigo dedicado à
clínica psicanalítica, publicado apenas dois anos antes da morte do criador da
psicanálise, Freud cita o caso de um psicanalista que foi analisado por outro a
quem considerava superior. Anos depois da atividade clínica, o antigo paciente
censurou o terapeuta pelo fato deste não ter interpretado a transferência
negativa então existente, o que teria resultado numa análise incompleta. Em
defesa do procedimento adotado, o analista argumentou que possivelmente, no
período do atendimento, não havia sinais de transferência negativa e que, mesmo
que esses sinais estivessem presentes, por não se apresentarem de modo ativo,
apontá-los exigiria um comportamento inamistoso da parte do analista. O curioso
nessa história está associado aos nomes das pessoas envolvidas, revelados em
uma nota de rodapé. Segundo Ernest Jones, o analista seria o próprio Freud, já
o paciente, Ferenczi. Ao que parece, pelo menos tendo por base esse
acontecimento, o procedimento técnico a ser adotado em relação à transferência
negativa não ocupou um lugar isento de controvérsia no movimento psicanalítico.
Também relacionado ao tema do manejo da
transferência negativa, em sua biografia científica, A função do orgasmo[57], Reich expôs um episódio
que envolveu uma ríspida intervenção de Freud. De acordo com Reich, em dezembro
de 1926 ele proferiu uma palestra sobre a técnica da Análise do Caráter,
no período ainda em construção, para o círculo íntimo de Freud. Na referida
situação, ele concentrou sua apresentação na seguinte questão: na circunstância
de um estado de transferência negativa, o analista deveria ou não interpretar
os desejos incestuosos do paciente? Frente à linha de trabalho do expositor,
que apontava para que os desejos incestuosos somente fossem interpretados
depois que a transferência negativa tivesse sido trazida à tona e analisada,
Freud, interrompendo, questionou: "Por que é que você não interpreta o
objeto da análise na sequência em que ele surge? Claro que é necessário
analisar e interpretar os sonhos de incesto logo que aparecem!"[58] Reich narra que não
esperava por aquele tipo de comentário, ao que parece, sobretudo, em termos da
maneira com que foi emitido, mas, mesmo assim, continuou desenvolvendo a sua
linha de argumentação no sentido de "dar uma explicação precisa e minuciosa
do meu ponto de vista" (p. 148). A nosso ver, esse evento sugere que,
apesar da Análise do Caráter ter sido gerada no campo conceitual da
psicanálise, certas diretrizes de sua orientação clínica tendem a produzir
atrito se acuradamente comparadas à técnica freudiana.
Das formulações de Reich associadas à
técnica da Análise do Caráter, uma que certamente acabou caracterizando
a produção desse autor ainda não foi apresentada neste ensaio. Estamos nos
referindo à observação do analisando, seu modo de movimenta-se, olhar, falar
etc. Apesar dessa costumeira vinculação - Reich e a leitura da forma -, a
rigor, no próprio Freud já é possível localizar sinais dessa perspectiva. Por
exemplo, ainda no início dos anos 1900, no chamado caso Dora, o criador da
psicanálise afirmou:
"O que tem olhos para ver e
ouvidos para ouvir, não tarda em convencer-se de que os mortais não podem
ocultar segredo algum. Aqueles cujos lábios calam, falam com os dedos. Todos
seus movimentos os delatam"[59].
Também em O início do tratamento,
de 1913, o psicanalista, demonstrando atenção às ações dos pacientes, registrou
sofisticados quadros de observação.
“Um jovem e espirituoso filósofo,
com refinada atitude estética, apressa-se em alinhar o vinco da calça, ao
deitar-se para a primeira sessão; verifica-se que ele foi um coprófilo de
grande requinte, como se esperaria do futuro esteta. Na mesma situação, uma
jovem se precipita em puxar a barra da saia sobre o tornozelo exposto, e com
isso revela o principal daquilo que a análise descobrirá, o seu orgulho
narcísico pela beleza do corpo e suas tendências exibicionistas”[60].
Se escritos de Freud indicam que o mestre
psicanalista era sensível à forma de movimentação de analisandos, Reich
defendeu que esse material deveria ser incorporado ao cotidiano da prática
clínica analítica. Mais especificamente, o jovem diretor do Seminário de
Técnica chegou a eleger a observação dos pacientes - seus maneirismos, padrões
de movimentação e formas típicas de expressão - como a via régia para
identificar a resistência associada ao caráter. Nas palavras do autor:
“A resistência de caráter não se
expressa no conteúdo do material, mas nos aspectos formais do comportamento em
geral, na maneira de falar, de caminhar, nas expressões faciais e nas atitudes
típicas como [...] a modalidade de cortesia ou de agressão”[61].
Um detalhado relato histórico, elaborado
por Richard Sterba, a respeito da atenção que Reich dedicava ao comportamento
dos pacientes ajuda a ampliar o entendimento dessa linha de ação clínica. De
acordo com o psicanalista vienense:
“Reich tinha uma sensibilidade
particular para o reconhecimento de resistências latentes e a sua notável
influência no material consciente do paciente. A forma como o paciente
apresentava seu material, seu modo e peculiaridade de falar, como entrava no consultório,
como apertava as mãos do analista (em Viena esse era um costume estabelecido
para o início e o fim de cada sessão) - tudo isso Reich nos ensinou a usar como
uma informação importante, particularmente sobre as resistências latentes”[62].
No entendimento de Reich, os analistas,
centrados numa prática clínica sustentada por uma noção limitada a respeito do
que poderia ser considerado material analítico, acabavam deixando de lado o
amplo e valioso universo do comportamento geral do paciente. Vejamos um trecho
em que essa perspectiva é formulada de maneira clara.
“Em primeiro lugar, o que significa
"material analítico"? O conceito usual é o seguinte: as comunicações
do paciente, seus sonhos, associações e atos falhos. Por certo, existe uma
apreciação teórica de que a conduta geral do paciente também possui relevância
analítica; mas experiências inequívocas de Seminário mostram que o
comportamento do paciente, sua forma de olhar, maneira de falar, expressão
facial, como se veste, modo de dar a mão etc., que todas essas coisas, não só
são subestimadas quanto ao seu significado analítico, mas, em geral, são
completamente passadas por alto. No Congresso de Innsbruck, Ferenczi e eu, cada
um por si, acentuamos a significação desses elementos formais para a terapia”[63].
Ao defender uma concepção de material
analítico que inclua, além da fala, outras formas de expressão do analisando,
em mais uma menção de afinidade, Reich cita Ferenczi, no caso, a participação
do analista húngaro no X Congresso Internacional de Psicanálise, realizado na
Áustria, em 1927, na cidade de Innsbruck. Um levantamento da produção de
Ferenczi permite saber que o trabalho apresentado no congresso em Innsbruck foi
O problema do fim da análise, publicado no ano seguinte na Revista
Internacional de Psicanálise[64]. No artigo, confirmando a
afirmação de Reich, em determinado trecho, Ferenczi afirma: "vi-me na
obrigação de atribuir também importância a certos aspectos exteriores da
apresentação e do comportamento do doente, quase sempre negligenciados até aí"
(p. 21).
Sobre o tema da observação do paciente na
abordagem do psicanalista húngaro, Sandor Lorand (1893-1987), aluno e amigo de
Ferenczi, comentou:
“A contínua e penetrante observação
do paciente efetuada por Ferenczi [...], seu atento estudo dos movimentos
corporais, das posições, da gesticulação, da modulação de voz e outros aspectos
semelhantes foram fonte inesgotável de informação sobre os processos
inconscientes e a repressão. Para ele, esses dados eram tão significativos
quanto a livre associação e as verbalizações, e deviam ser compreendidos e
interpretados”[65].
De acordo com o exposto, não resta dúvida
de que, no panorama da clínica psicanalítica dos anos 1920, Ferenczi e Reich,
dentre outras aproximações já ventiladas neste estudo, atribuíram forte
relevância à leitura e compreensão das formas expressivas dos pacientes. Em
prol de apreender os movimentos humanos, eles apontaram para a necessidade da
presença de analistas com ouvidos, olhos e poros abertos.
Como se vê, a relação entre as ideias do
analista, ainda novato, Reich e as do analista, já veterano, Ferenczi, sem que
o programássemos, definitivamente se impôs como um tema (...) neste trabalho. (...)
Está na hora de organizarmos um registro,
uma espécie de mapa do apreciado.
De acordo com este ensaio:
-
a Análise do Caráter nasceu nos anos 1920, um período marcado pela busca
de inovações que respondessem a problemas suscitados pela prática psicanalítica
vigente;
-
em sintonia com os rumos que a psicanálise tomava, trata-se de uma técnica não
mais basicamente voltada para a análise dos sintomas, mas para o caráter como
um todo;
-
a leitura dos fenômenos privilegia os fatores quantitativos, o ponto de vista
econômico;
-
desenvolvida para o trabalho clínico com estruturas marcadas por reações
neuróticas incorporadas no ego, não faz sentido empregar a análise do caráter
em casos de fragilização egóica ou estados de angústia;
-
o período inicial do atendimento é considerado fundamental para o bom
desenvolvimento dos trabalhos;
-
na concepção de material analítico, Reich incluiu o comportamento geral do
analisando;
-
como essa orientação clínica tende a suscitar forte resistência, ela comporta
uma série de formulações associadas a esse tema;
-
em fase de resistência, cabe ao analista assumir a direção da análise;
-
como importante fonte de resistência, uma atenção especial deve ser dada à
transferência negativa, sobretudo à latente;
-
na situação analítica, formas estereotipadas de conduta vão funcionar como
barreiras, como resistências de caráter;
-
as resistências de caráter se expressam nos aspectos formais do comportamento
do paciente;
-
a resistência pode se apresentar por meio de padrões de comportamento adaptados
e socialmente valorizados;
-
a postura do terapeuta na Análise do Caráter é a de um analista presente
e envolvido, atitude não representada pelo modelo de uma tela branca que espera
para receber os conteúdos transferidos pelo paciente;
-
a Análise do Caráter é uma técnica marcada por aspectos intrusivos
destinados a abrir o sistema de defesas de estruturas neuróticas cristalizadas;
-
a Análise do Caráter comporta orientações voltadas para a organização e
a coerência do atendimento;
-
as interpretações devem ser ordenadas de acordo com a estratificação da
neurose, da camada mais superficial para a mais profunda;
-
o traço neurótico, como formação egossintônica, deve ser circunscrito e
analisado de forma sistemática;
-
diversos autores do campo psicanalítico citam a Análise do Caráter como
uma contribuição ao acervo de trabalhos voltados para a área da técnica
psicanalítica;
-
em escritos sobre a Análise do Caráter, Reich menciona de maneira
positiva a orientação clínica de Ferenczi.
ALBERTINI,
Paulo. Na psicanálise de Wilhelm Reich. São Paulo: Zagodoni, 2016. p.
147 a 168.
[1] NIETZSCHE,
F. Além do bem e do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Máximas
e interlúdios, § 70. p. 68. E também: “O caráter é o destino de cada homem” (Heráclito).
BORNHEIM, Gerd (org.) Os filósofos pré-socráticos. p. 43. São Paulo:
Cultrix, 1993.
[2] BIRMAN,
Joel. Confusão de língua em psicanálise: uma leitura introdutória aos escritos
de Ferenczi. In: Escritos psicanalíticos 1909-1933. Rio de Janeiro:
Livraria Taurus, s.d. p. 10.
[3] FREUD,
Sigmund. Recomendações ao médico que pratica a psicanálise (1912). In: Sigmund
Freud – Obras Completas. Vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.
148.
[4] ETCHEGOYEN,
H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
[5] “Adler
compara os traços caracterológicos – que de forma alguma considera hereditários
mas adquiridos na infância – com uma linha diretiva ‘que se incorpora no homem
como um padrão e que, sem pensar muito, lhe permite expressar a sua
personalidade me todas as situações’. É o resultado de um jogo de forças que se
encontra condicionado pelos fatores que reciprocamente se influenciam e são
conhecidos como sentimento de solidariedade e desejo de poder
(...). O ‘caráter do homem não constitui, portanto, a base para um juízo moral,
mas um conhecimento social de como o homem age em relação ao meio que o rodeia
e da dependência em que se encontra para com ele’”. DOUCET, F. A psicanálise:
Freud, Adler e Jung. Lisboa: Editores Associados, s.d. p. 38.
[6] ROAZEN,
P. Freud e o seus discípulos. São Paulo: Cultrix, 1974.
[7] ROAZEN,
P. Freud e o seus discípulos. São Paulo: Cultrix, 1974. pp. 170-171.
[8] FREUD,
Sigmund. Alguns tipos de caráter encontrados na prática psicanalítica (1916). In:
Sigmund Freud – Obras Completas. Vol. 14. São Paulo: Companhia das Letras,
2010. p. 254.
[9] FERENCZI,
S. Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise (1921). In: S.Ferenczi,
Obras Completas III. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 130.
[10] REICH, W.
Two Narcissistic Types (1922). In: Early Writings, v. 1. New York:
Farrar, Straus and Giroux, 1975. p. 134 e 135.
[11] REICH, W.
O caráter impulsivo (1925). São Paulo: Martins Fontes, 2009.
[12] Futuro
que Karl Abraham não pôde participar, pois, causando forte comoção em Freud e
no meio psicanalítico, ele faleceu ainda em 1925 aos 48 anos.
[13] ABRAHAM, K.
A formação do caráter no nível genital do desenvolvimento da libido. (1925) In:
K. Abraham, Teoria psicanalítica da libido: sobre o caráter e o
desenvolvimento da libido. Rio de Janeiro: Imago, 1970. p. 205.
[14] REICH, W.
Análise do Caráter (1933). São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 4.
[15] REICH, W.
The impulsive Charcter: a psycoanalytic study of ego pathology (1925).
In: Early Writings, v. 1. New York: Farrar, Straus and Giroux, 1975. p.
250.
[16] REICH, W.
O caráter genital e o caráter neurótico (1929) In: Análise do Caráter (1933).
São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[17] REICH, W.
Indicações e perigos da análise do caráter (1933). In: Análise do Caráter
(1933). São Paulo: Martins Fontes, 1995. Reich, p. 120.
[18] REICH, W.
Indicações e perigos da análise do caráter (1933). In: Análise do Caráter
(1933). São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[19] REICH, W.
Indicaciones y peligros del análisis del carácter (1933). In: Análisis
del Character. Barcelona: Paidós, 1986. p. 133.
[20] FREUD,
Sigmund. Recomendações ao médico que pratica a psicanálise. (1912). In: Sigmund
Freud – Obras Completas. Vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.
160.
[21] REICH, W.
Algunos problema de técnica psicoanalitica (1933). In: Análisis del Character.
Barcelona: Paidós, 1986. p. 32.
[22] REICH, W.
Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las resistencias (1927).
In: Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 44.
[23] ETCHEGOYEN,
H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
p. 213.
[24] REICH, W.
Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986.
[25] REICH, W.
Two narcissistic types (1922). In: W. Reich, Early writings, v.1.
New York: Farrar, Straus and Giroux, 1975.
[26] REICH, W.
Contato psíquico e corrente vegetativa (1935). In: Análise do Caráter.
São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[27] REICH, W.
Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las resistencias (1927).
In: Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 51.
[28] REICH, W.
Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las resistencias (1927).
In: Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 98.
[29] FREUD,
Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. (1914). In: Sigmund Freud – Obras Completas.
Vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 209.
[30] No artigo
Princípio de relaxamento e neocatarse, de 1930, Ferenczi assim se refere
ao procedimento na "terapia ativa": "eu era mais propenso a
pensar que não se devia temer essas resistências do paciente, e até que se
tinha o direito de provocá-las artificialmente" (FERENCZI, S. Princípio
de relaxamento e neocatarse (1930). In: S.Ferenczi, Obras Completas III.
São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 70).
[31] REICH, W.
Sobre a técnica de análise de caráter (1928). In: Análise do Caráter (1933).
São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 87.
[32] FREUD,
Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. (1914). In: Sigmund Freud – Obras Completas.
Vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
[33] BRIEHL,
W. Wilhelm Reich: 1897-1957. Análise de caráter. In: ALEXANDER, F., EISENSTEIN,
S. e GROTJAHN, M. (Orgs.), A história da psicanálise através dos seus
pioneiros. Rio de Janeiro, Imago, 1981. p. 480 e 481.
[34] REICH, W.
Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las resistencias (1927).
In: Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 47.
[35] REICH, W.
Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las resistencias (1927).
In: Análisis del Character (1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 55 e 56.
[36] REICH, W.
Sobre la técnica del análisis de carácter. (1928). In: Análisis del Character
(1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 72.
[37] ETCHEGOYEN,
H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
p. 221.
[38] ETCHEGOYEN,
H. Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
p. 214.
[39] REICH, W.
El manejo de la transferencia. (1933). In: Análisis del Character (1933).
Barcelona: Paidós, 1986. p. 154.
[40] REICH, W.
Análise do Caráter (1933). São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[41] THOMPSON,
C.M. Evolução da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. p.
171.
[42] THOMPSON,
C.M. Evolução da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. p.
172.
[43] FREUD,
Anna. O ego e os mecanismos de defesa (1936). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1986.
[44] FREUD,
Anna. O ego e os mecanismos de defesa (1936). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1986. p. 28.
[45] STERBA,
R.F. Reminiscences of um viennese psychoanalyst. Detroit: Waine State
University Press, 1982. p. 35.
[46] ROAZEN,
P. Freud e o seus discípulos. São Paulo: Cultrix, 1974.
[47] ROAZEN,
P. Freud e o seus discípulos. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 505.
[48] REICH, W.
El manejo de la transferencia. (1933). In: Análisis del Character (1933).
Barcelona: Paidós, 1986.
[49] REICH, W.
El manejo de la transferencia. (1933). In: Análisis del Character (1933).
Barcelona: Paidós, 1986. pp. 136-137.
[50] REICH, W.
Sobre a técnica de interpretação e de análise da resistência (1927). In: Análise
do Caráter (1933). São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 44 e 45.
[51] LOWEN, A.
Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982, p. 19.
[52] LAGACHE,
D. A transferência. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
[53] LAGACHE,
D. A transferência. São Paulo: Martins Fontes, 1990. p. 53.
[54] THOMPSON,
C.M. Evolução da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
[55] ROAZEN,
P. Freud e o seus discípulos. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 95.
[56] FREUD, S.
Analisis terminable e interminable (1937). In: Obras completas de
Sigmund Freud. Vol. 3. Madrid: Biblioteca Nueva, 1973.
[57] REICH, W.
A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica (1942).
São Paulo: Brasiliense, 1978.
[58] REICH, W.
A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica (1942).
São Paulo: Brasiliense, 1978. p. 148.
[59] FREUD, S. Analisis fragmentário de uma
histeria (1905). In: Obras completas de Sigmund Freud. Vol. 1 Madrid:
Biblioteca Nueva, 1973. p. 976. Nietzsche, em Além do bem e do mal,
apontou: "Podemos mentir com a boca, mas com a expressão da boca ao mentir
dizemos a verdade" (NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005. p. 72).
[60] FREUD,
Sigmund. O início do tratamento. (1913). In: Sigmund Freud – Obras Completas.
Vol. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 185 e 186.
[61] REICH, W.
Sobre la técnica del análisis de carácter. (1928). In: Análisis del Character
(1933). Barcelona: Paidós, 1986. p. 69.
[62] STERBA,
R.F. Reminiscences of um viennese psychoanalyst. Detroit: Waine State
University Press, 1982. p. 35.
[63] REICH, W.
REICH, W. Sobre la técnica de la interpretación y el analisis de las
resistencias (1927). In: Análisis del Character (1933). Barcelona:
Paidós, 1986. p. 51 e 52.
[64] FERENCZI,
S. O problema do fim da análise. In: Obras Completas IV. São Paulo:
Martins Fontes, 2011. p. 21.
[65] LORAND,
S. Sándor Ferenczi 1873-1933. O pioneiro dos pioneiros. In: ALEXANDER, F.,
EISENSTEIN, S. e GROTJAHN, M. (Orgs.) A história da psicanálise através dos
seus pioneiros. Rio de Janeiro, Imago, 1981. p. 29.
TEXTOS DE REICH SOBRE A COURAÇA DE CARÁTER
O caráter consiste numa mudança crônica do ego que se poderia descrever como um enrijecimento. Esse enrijecimento é a base real para que o modo de reação característico se torne crônico; sua finalidade e proteger o ego dos perigos internos e externos. Como uma formação protetora que se tornou crônica, merece a designação de “encouraçamento”, pois constitui claramente uma restrição à mobilidade psíquica da personalidade como um todo. (...) Em situações de desprazer a couraça se contrai; em situações de prazer, ela se expande. O grau de flexibilidade do caráter, a capacidade de se abrir ou de se fechar ao mundo exterior, dependendo da situação, constitui a diferença entre uma estrutura orientada para a realidade e uma estrutura de caráter neurótico. Protótipos extremos de encouraçamento patologicamente rígidos são o caráter compulsivo afetivamente bloqueado e o autismo esquizofrênico, ambos tendentes a uma rigidez catatônica.
A couraça de caráter forma-se como resultado crônico de choque entre exigências
pulsionais e um mundo externo que frustra essas exigências. Sua força e
contínua razão de ser provém dos conflitos existentes entre a pulsão e o mundo
externo. A expressão e a soma total dessas influências do mundo externo sobre a
vida pulsional, através da acumulação e da homogeneidade qualitativa,
constituem um todo histórico. Isso fica imediatamente claro quando pensamos em
tipos de caráter conhecidos como os do “burguês”, do "funcionário”, do
“proletário”, do “carrasco” etc. É em torno do ego que essa couraça se forma,
em torno precisamente daquela parte da personalidade que se situa na fronteira
entre a vida pulsional biofisiologica e o mundo exterior. Por isso a designamos
como caráter do ego.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 151 e 152
Uma vez que
o traço de caráter neurótico, em sua função econômica de couraça defensiva,
estabeleceu um certo equilíbrio - ainda que neurótico -,
a analise constitui um perigo para esse equilíbrio. E a partir desse mecanismo
de defesa narcísico do ego que tem origem as resistências que dão à análise do
caso individual suas características específicas.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 57.
Em
determinadas situações, o caráter do paciente torna-se uma resistência. Em
outras palavras, na vida cotidiana, o caráter tem um papel semelhante ao que
ele desempenha enquanto uma resistência durante o tratamento: o de um aparelho
de defesa psíquica. Daí falarmos de “encouraçamento de caráter” do ego contra o
mundo exterior e o id.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 60.
Não deve
haver dúvidas: quando a análise do caráter destrói a compensação do caráter,
especialmente em casos em que aquela defesa é relativamente forte, cria-se uma
condição temporária que pode levar a um colapso do ego. Em tais casos extremos,
é verdade, esse colapso é necessário antes que se possa desenvolver a nova
estrutura do ego orientada para a realidade. (Porem, devemos admitir que o
colapso teria aparecido por si mesmo mais cedo ou mais tarde - a formação de um
sintoma era o primeiro sinal disso.) Contudo, fica-se relutante - a não ser que
haja uma indicação urgente - em adotar uma medida que envolva tão grave
responsabilidade.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 85.
Em
pacientes esquizoides ou em esquizofrênicos precoces, uma análise do caráter
extremamente cautelosa mas muito consistente é a condição prévia para se evitar
a irrupção de pulsões prematuras e incontroláveis, porque fortalece as funções
do ego antes de se ativarem as camadas profundas do inconsciente.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 120.
É
simplesmente incorreto chamar de transferência negativa a defesa do ego como
tal; ela e, antes, uma reação de defesa narcísica.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 128.
O
afrouxamento, na verdade a quebra do mecanismo de defesa do caráter, necessária
para a liberação da maior quantidade possível de libido, torna o ego
temporariamente desamparado. Esta pode ser descrita como a fase do
colapso do narcisismo secundário, na qual, efetivamente, o paciente se
mantém fiel à análise com a ajuda da libido objetal, que nesse meio tempo se
liberou, e essa situação dá a ele algo como uma proteção infantil. Mas o
colapso das formações reativas e das ilusões que o ego inventou para se auto-assegurar
provoca no paciente fortes empenhos negativos contra a análise. Além disso, com
a dissolução da couraça, as pulsões recuperam sua intensidade original e então
o ego sente-se à mercê deles. Tomados em conjunto, esses fatores por vezes
fazem com que as fases transitórias se tornem críticas, aparecem tendências
suicidas; o paciente se desinteressa por seu trabalho; observam-se, no caráter
esquizoide, até mesmo, algumas vezes, regressões autistas.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 128.
Enquanto as
formações reativas estão sendo dissolvidas, a potência masculina, isto é, o que
resta dela, sucumbe. Tenho o habito de informar esse fato aos pacientes
eretivamente potentes, para evitar uma reação que pode ser muito intensa. Para
amortecer o choque da perturbação aguda da potência eretiva em tais pacientes,
e aconselhável recomendar a abstinência logo que se perceba a descompensação a
partir de certas indicações (intensificação dos sintomas e da angústia; aumento
da inquietação; aparição, em sonhos, da angústia de castração). Certos tipos de
caracteres narcísicos, por outro lado, que se recusam a tomar conhecimento da
compensação para seu medo da impotência, devem ser expostos a essa desagradável
experiência. Embora disso resultem reações negativas e narcísicas intensas,
essa exposição, uma vez que a angústia de castração fica evidente, prepara todo
o caminho para a descompensação do narcisismo secundário.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 128.
O aprofundamento
da consciência da doença e a intensificação do sentimento de estar doente são o
resultado da análise consistente do mecanismo de defesa narcísico e da defesa
do ego. Embora essa consciência ampliada leve a uma defesa intensificada - uma
transferência negativa cujo conteúdo e o ódio ao analista, como perturbador do
equilíbrio neurótico essa defesa já contém a semente de uma atitude oposta, que
dá à analise a ajuda mais positiva. Agora o paciente é forçado a se entregar
completamente à análise; começa a considerar o analista um salvador na
desgraça, o único que lhe pode fazer bem. Isso dá um ímpeto considerável à
determinação do paciente de se curar. Essas atitudes estão, é claro,
intimamente ligadas a tendências infantis, à angústia de castração e à
necessidade infantil de proteção.
REICH, Wilhelm. Análise de
caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 135.
Usando a
terminologia comum, falamos de pessoas severas e brandas, nobres e vis,
orgulhosas e subservientes, temperamentais e insensíveis. A psicanálise dessas
diversas características prova que elas são apenas formas diversas de um encouraçamento
do ego contra os perigos do mundo exterior e as exigências pulsionais
recalcadas do id.
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