Módulo 42

 RESISTÊNCIA




Chama-se resistência a tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente. Por extensão, Freud falou de resistência à psicanálise para designar uma atitude de oposição às suas descobertas na medida em que elas revelavam os desejos inconscientes e infligiam ao homem um “vexame psicológico”[1].

O conceito de resistência foi introduzido cedo por Freud; pode dizer- se que exerceu um papel decisivo no aparecimento da psicanálise. Com efeito, Freud renunciou à hipnose e à sugestão essencialmente porque a resistência maciça que certos pacientes lhe opunham parecia ser por um lado legítima e, por outro, não poder ser superada nem interpretada. Isto, pelo contrário, se torna possível pelo método psicanalítico, na medida em que permite a elucidação progressiva das resistências que se traduzirão particularmente pelas diferentes maneiras como o paciente infringe a regra fundamental. Nos Estudos sobre a histeria (Studien über Hysterie, 1895) encontramos uma primeira enumeração de diversos fenômenos clínicos, evidentes ou discretos, de resistência.

Foi como obstáculo à elucidação dos sintomas e à progressão do tratamento que a resistência foi descoberta. “A resistência constitui no fim de contas o que entrava o trabalho [terapêutico].” Freud irá procurar vencer inicialmente este obstáculo pela insistência — força de sentido contrário à resistência — e pela persuasão, antes de reconhecer nele um meio de acesso ao recalcado e ao segredo da neurose; de fato, são as mesmas forças que vemos atuar na resistência e no recalque. Neste sentido, como Freud insiste nos seus escritos técnicos, todo o progresso da técnica analítica consistiu numa apreciação mais correta da resistência, isto é, desse dado clínico segundo o qual não bastava comunicar aos pacientes o sentido dos seus sintomas para que o recalque se dissipasse. Sabemos que Freud sempre considerou a interpretação da resistência, juntamente com a da transferência, como as características específicas da sua técnica. Mais, a transferência deve ser parcialmente considerada como uma resistência, na medida em que substitui a rememoração falada pela repetição atuada; e devemos ainda acrescentar que a resistência a utiliza mas não a constitui.

Sobre a explicação do fenômeno de resistência, os pontos de vista de Freud são mais difíceis de distinguir. Nos Estudos sobre a histeria formula a hipótese seguinte: podemos considerar as lembranças agrupadas, segundo o seu grau de resistência, em camadas concêntricas em redor de um núcleo central patogênico; no decurso do tratamento, cada passagem de um círculo para outro mais aproximado do núcleo irá aumentar outro tanto a resistência. A partir dessa época, Freud faz da resistência uma manifestação - própria do tratamento e da rememoração por ele exigida - da mesma força exercida pelo ego contra as representações penosas. No entanto, parece ver a origem última da resistência numa repulsa que vem do recalcado enquanto tal, na sua dificuldade para se tornar consciente e, sobretudo, plenamente aceito pelo sujeito. Encontramos, pois, aqui, dois elementos de explicação: a resistência é regulada pela sua distância em relação ao recalcado; por outro lado, corresponde a uma função defensiva. Os escritos técnicos mantêm esta ambiguidade.

Com a segunda tópica, porém, a ênfase incide no aspecto defensivo: defesa exercida pelo ego, como vários textos sublinham. “O inconsciente, isto é, o ‘recalcado’, não opõe qualquer espécie de resistência aos esforços do tratamento; de fato, nem tende a outra coisa que não seja vencer a pressão que pesa sobre ele para abrir caminho para a consciência ou para a descarga pela ação real. A resistência no tratamento provém das mesmas camadas e sistemas superiores da vida psíquica que a seu tempo tinham produzido o recalque.” Este papel predominante da defesa do ego será mantido por Freud até um dos seus últimos escritos: ‘‘Os mecanismos de defesa contra perigos antigos retornam no tratamento sob a forma de resistências à cura, e isto porque a cura também é considerada pelo ego como um novo perigo.” Nesta perspectiva, a análise das resistências não se distingue da análise das defesas permanentes do ego, tais como se especificam na situação analítica (Anna Freud).

A verdade é que Freud afirma explicitamente que a resistência evidente do ego não basta para explicar dificuldades encontradas na progressão e acabamento do trabalho analítico; o analista, na sua experiência, encontra resistências que não pode ligar a alterações do ego.

No fim de Inibição, sintoma e angústia (Hemmung, Symptom und Angst, 1926), Freud distingue cinco formas de resistências; três estão ligadas ao ego: o recalque, a resistência de transferência e o benefício secundário da doença, “que se baseia na integração do sintoma ao ego”. Há ainda que contar com a resistência do inconsciente ou do id e com a do superego. A primeira torna tecnicamente necessária a perlaboração (Durcharbeiten): é “... a força da compulsão à repetição, atração dos protótipos in conscientes sobre o processo pulsional recalcado”. Por fim, a resistência do superego deriva da culpabilidade inconsciente e da necessidade de punição.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. Verbete: Resistência. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 459 e 460.

 

Resistência: termo empregado em psicanálise para designar o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise.

No vocabulário freudiano, a palavra resistência aparece de acordo com três modalidades: uma inspira-se na reflexão sobre a técnica e a prática analíticas, cuja evolução determinaria a do estatuto atribuído às possíveis formas de resistência do paciente; a segunda é de ordem teórica e foi vivamente afetada pela instauração da segunda tópica; a terceira, por fim, imutável durante toda a vida de Sigmund Freud, é de ordem interpretativa. Relaciona-se com as manifestações de hostilidade e as formas de rejeição de que a psicanálise possa ter sido objeto. Quanto a esse ponto, a historiografia freudiana é rica em toda sorte de contribuições.

Por este último ponto de vista, a utilização que Freud faz da palavra é totalmente alheia ao contexto terapêutico. Assim, Freud interpreta como respostas defensivas (resistências) as oposições à psicanálise, sejam quais forem suas origens e suas razões explícitas. Convém notar que essa postura é coerente com a constatação que ele fez desde 1917, qual seja, a de que a psicanálise desferiria contra o narcisismo humano um ataque comparável às feridas geradas pelas descobertas de Nicolau Copérnico (1473-1543) e Charles Darwin (1809-1882). A aproximação entre estes, aliás, tinha sido feita, uns cinquenta anos antes, por Ernst Haeckel, como estabeleceu Paul-Laurent Assoun.

O processo da resistência participou, tanto quanto a transferência, do nascimento da psicanálise. Só que esteve ainda mais diretamente associado a ele. Com efeito, Freud empregou essa palavra assim que esbarrou nas primeiras dificuldades na prática da hipnose e da sugestão, chegando até a reconhecer como “legítimas” as resistências dos pacientes confrontados com a “tirania da sugestão”.

A passagem para o método psicanalítico certamente não pôs fim às resistências, mas elas mudaram de estatuto. Tornaram-se passíveis de interpretação e, portanto, passíveis de ser superadas.

Desde os primórdios de sua prática psicanalítica, a atitude de Freud frente à questão do tratamento das resistências assumiu duas formas. Se a resistência foi invariavelmente reconhecida como um entrave ao trabalho analítico, em especial sob a forma do desrespeito à regra fundamental, a princípio Freud julgou ser possível transpor esse obstáculo, explicando seu conteúdo ao paciente com insistência e convicção. Num segundo tempo, ele passou a considerar a resistência como um dado clínico, sintoma do que estaria recalcado. Assim, ela passou a participar do processo de recalque e a depender tanto da interpretação quanto a transferência, sob cuja forma frequentemente se manifesta.

No contexto de sua segunda tópica, Freud identificou cinco formas de resistência: três delas têm sua sede no eu, uma no isso, e a última, no supereu. As resistências ligadas ao eu podem manifestar-se sob a forma do recalque como tal, sob a da resistência da transferência, ou ainda como um lucro secundário ligado à persistência da neurose, sendo a cura vivida como um perigo para o eu. A resistência, cuja sede encontra-se no isso, leva à compulsão à repetição. Pode ser superada quando o sujeito integra uma interpretação (elaboração). A resistência do supereu exprime-se em termos de culpa inconsciente e necessidade de punição.

Essa classificação atesta a recusa freudiana de reduzir a resistência unicamente às defesas do eu. Nessa perspectiva, Freud insiste na existência de elementos residuais da resistência, elementos irredutíveis que ele interpreta de maneiras variadas, mas que podemos situar, a título de hipótese, do lado da pulsão de morte.

Diversamente dos conceitos de transferência e contratransferência, o de resistência suscitou muito poucas discussões na descendência freudiana, com exceção de Melanie Klein, que assimilou a resistência quase que exclusiva mente a uma transferência negativa. Essa tese foi um dos temas de debate durante as grandes controvérsias que a opuseram a Anna Freud.

ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Verbete: Resistência. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 659 e 660.

 

 

         A psicanálise entende por resistência tudo o que se opõe à progressão do trabalho analítico durante o tratamento.

         O termo “resistência” aparece pela primeira vez pelo punho de Freud nos Estudos sobre a histeria (1895), onde ele relata – a propósito do caso Lucy R. – como tinha renunciado a testar o grau de hipnose de suas pacientes porque “isso mobilizava a resistência delas (...) e alterava nelas a confiança de que ele necessitava para o trabalho psíquico mais importante”. Quando trata de Elisabeth von R., Freud, já atento ao seu próprio papel no trabalho clínico do tratamento, percebe essa resistência através dos esforços que teve de despender para obter da paciente a rememoração de certas representações penosas. Esse conceito designa na abordagem psicodinâmica freudiana a força psíquica que o paciente opõe ao acesso à consciência de certas representações desagradáveis durante o tratamento: é a força psíquica desenvolvida para manter o recalque.

         Embora a primeira tópica pudesse induzir a ideia de que a psicanálise nada mais era, segundo a fórmula de Freud, do que uma arte da interpretação que consistia em tornar consciente o inconsciente, a tarefa do analista consiste agora em “levar o paciente a reconhecer sua resistência e a contar com ela”. A análise das resistências tornou-se, pois, uma das pedras angulares da técnica analítica: a análise não tardou em lhe ser associada.

         Em A dinâmica da transferência (1912), Freud se pergunta por que a transferência, o mais eficaz dos fatores de êxito, pode se tornar o mais poderoso agente da resistência. Ele foi assim levado a distinguir transferências positivas e transferências negativas, e a concluir que “a transferência para a pessoa do analista só desempenha o papel de uma resistência na medida em que é uma transferência negativa ou uma transferência positiva composta de elementos eróticos recalcados”.

         Freud concorda que nada é mais difícil em análise do que vencer as resistências. Entretanto, esses fenômenos são valiosos porque permitem elucidar as excitações amorosas secretas e esquecidas dos pacientes; mas sobretudo, ao ser-lhes conferido um caráter de atualidade, facilitam o seu reconhecimento porque, como lembra Freud numa fórmula bem conhecida, “ninguém pode ser morto in absentia ou em efígie”[2].

Ao invés de recordar, o paciente reproduz atitudes e sentimentos de sua vida que, através da transferência, se deixam utilizar como meios de resistência contra o tratamento e contra o terapeuta. Tudo se passa como se a intenção de confundir este último, de o fazer sentir sua impotência, de triunfar sobre ele, superasse no paciente essa outra e melhor intenção de pôr um fim à sua doença.

         O artigo Recordar, repetir e elaborar (1914) assinala um momento culminante em que o esclarecimento da compulsão de repetição põe fim a uma ilusão: Freud admite aí que dar um nome e qualificar uma resistência não a faz desaparecer imediatamente. A técnica analítica pretendia ser uma arte de interpretar que se baseava sobretudo no reconhecimento das resistências e em sua comunicação ao paciente. Freud, ao descobrir que “quanto maior for a resistência, mais a representação em atos (a repetição) se substituirá à lembrança”, afirma portanto a necessidade da perlaboração (neologismo recomendado por Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis para traduzir o alemão durcharbeiten, que significa “trabalhar a fundo”): “É necessário deixar ao paciente tempo bastante para que conheça bem essa resistência que ele ignorava, para que a perlabore, a vença e prossiga, apesar dela, e obedecendo à regra analítica fundamental, com o trabalho começado...” Freud nunca deixará de reafirmar que a perlaboração das resistências é que oferece a maior chance de mudança para o paciente.

         No capítulo Resistência e recalcamento das Conferências introdutórias sobre psicanálise (1916-17), Freud sublinhou as formas muito variadas, extremamente refinadas, muitas vezes difíceis de reconhecer das resistências, seu caráter proteiforme, que impõem ao médico ser desconfiado e precaver-se em face delas. Assim, podem ser compreendidas como resistências durante o tratamento as lacunas na rememoração, as recordações encobridoras ou a superabundância da produção de sonhos, a suspensão das associações livres, a evitação dos vínculos de causalidade, as opiniões sobre a insignificância das ideias que acudiram ao espírito, ou mesmo a fuga da cura. Mas são as formas mais paradoxais de resistência, a compulsão de repetição e a reação terapêutica negativa, que Freud relaciona com um sentimento de culpa inconsciente, formas essas que darão ao trabalho sobre as resistências toda a sua dimensão.

         Em Inibições, sintomas e ansiedade (1926), Freud retorna às formas de resistência e distingue as do Eu, do Isso e do Supereu. A primeira está sob a égide do princípio do prazer e compreende três possibilidades: a resistência ao levantamento do recalque, a resistência à perda dos benefícios secundários da doença e a resistência de transferência que intenta manter o recalcamento. A segunda, a resistência do Isso, corresponde à “força da compulsão de repetição” e necessita do trabalho de perlaboração. A terceira, a do Supereu, é fruto do sentimento de culpa e da necessidade de punição que se opõem ao sucesso do tratamento; ela será ulteriormente descrita como reação terapêutica negativa, relacionada com a pulsão de morte.

         Embora Freud se mantivesse hesitante quanto à natureza própria das resistências e sublinhasse, pelo contrário, sua variabilidade, sua riqueza e sua solidez, ele nunca deixou de considerar que o trabalho do paciente sobre suas próprias resistências era essencial para o êxito do tratamento, considerando até, em seus últimos escritos, que só esse trabalho contém a possibilidade de uma verdadeira e duradoura mudança do Eu.

         Os psicanalistas depois de Freud elaboraram relativamente pouco as manifestações da resistência no tratamento. Entretanto, Melanie Klein, ao considerar a resistência essencialmente como uma manifestação da transferência negativa, abriu caminho para um certo número de outros trabalhos, entre eles os de Bion, que descreveu a resistência psicótica como “ataque contra os vínculos”.

MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 2. Verbete Resistência. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 1627 e 1628.

 

         Freud empregou o termo resistência pela primeira vez ao se referir à paciente Elisabeth von R. (1893), usando a palavra original Widerstand. Em alemão, wider significa contra, como uma oposição ativa. Até então a resistência era considerada exclusivamente um obstáculo à análise, com uma força correspondente à da quantidade de energia com que as ideias e os sentimentos tinham sido recalcados e expulsos de suas associações.

         Assim, por longo tempo, o conceito de resistência, em psicanálise, foi empregado com um significado depreciativo, tal como Freud afirmou em A interpretação dos sonhos (1900), após dizer que as conceituações de resistência e de censura estavam intimamente relacionadas: “Uma das regras da psicanálise é que tudo o que interrompe o progresso do trabalho psicanalítico é uma resistência”.

         Aos poucos, Freud foi concluindo que (...) o fenômeno resistencial não era algo que surgia de tempos em tempos, mas sim que, de alguma forma, está permanentemente presente.

         Freud aprofundou bastante o estudo sobre as resistências em Inibições, sintomas e angústia (1926), quando, utilizando a hipótese estrutural, ele descreveu cinco tipos e três fontes delas. Os tipos derivados da fonte eram:

1 – Resistência de repressão, que consiste na repressão que o ego faz de toda percepção que cause algum sofrimento.

2 – Resistência de transferência, em que o paciente manifesta, em relação a seu analista, resistência contra a emergência de uma transferência negativa ou sexual.

3 – Resistência de ganho secundário, que ocorre em razão do fato de a própria doença conceder um benefício a certos pacientes, como os histéricos, os de personalidades imaturas e as que estão pleiteando alguma forma de aposentadoria por motivo de doença. Essas resistências são muito difíceis de abordar, porque são “egossintônicas”.

4 – As resistências provindas do id, que Freud considerava ligadas à compulsão à repetição e que, juntamente com uma adevisividade da libido[3], promovem uma resistência contra mudanças.

5 – Resistência oriunda do superego, a mais difícil de ser trabalhada, segundo Freud, por causa dos sentimentos de culpa que exigem punição.

 

         No clássico Análise terminável e interminável (1937), (...) Freud aporta outras importantes contribuições sobre as resistências, como são as seguintes: o conceito de reação terapêutica negativa, como sendo aderido à pulsão de morte; a valorização do papel da contratransferência, sendo que ele aponta que a resistência do analisando pode ser causada pelos erros do analista; a observação de que supunha que a resistência no homem se deveria ao medo dos desejos passivo-femininos em relação a outros homens, e nas mulheres seria devido em grande parte à inveja do pênis. Freud também aludiu ao surgimento de uma resistência contra a revelação das resistências.

         A evolução do conceito de resistência na prática analítica sofreu uma profunda transformação. Nos tempos pioneiros, era considerada unicamente como um obstáculo de surgimento inconveniente. Nos dias de hoje, embora se reconheça a existência de resistências que obstruem totalmente o curso exitoso de uma análise, na grande maioria das vezes o aparecimento das resistências no processo analítico é muito bem-vindo, porquanto representam, com fidelidade, a forma como o indivíduo defende-se e resiste no cotidiano da vida. Assim, cabe fazer a seguinte paráfrase: “Dize-me como resistes e dir-te-ei quem és”.

         Não é possível uma clara classificação ou sistematização das resistências, devido às diferenças semânticas entre os autores, os múltiplos vértices de abordagem, sua multideterminação e, na situação analítica, o fato de que cada sujeito tem uma pletora de recursos resistenciais, os quais variam com os distintos momentos do processo analítico. No entanto, de forma genérica, é cabível traçar o esquema que segue:

1 – A partir da teoria estrutural, continua válido o que Freud postulou em 1926 a respeito dos cinco tipos e três fontes de resistências. No entanto, na atualidade, é importante estabelecer as interrelações dentro das respectivas instâncias psíquicas de onde se originam as resistências inconscientes (não só do id, do ego e do superego, mas também do ego ideal, do ideal do ego e das organizações patológicas que sabotam o ego).

2 – A classificação pode ser:

2.1 – Pelo critério das manifestações clínicas, tais como faltas, atrasos, intelectualizações, silêncio exagerado ou prolixidade, segredos, sonolência, ataque às funções do ego (perceber, sentir, pensar, discriminar), em si próprio ou no analista, fuga para a extratransferência etc.

2.2 – Pelo critério das finalidades das resistências, de sorte que, além das descritas por Freud, vale acrescentar resistência contra: a regressão (medo da psicose); a progressão (cujo grau extremo é o surgimento de uma reação terapêutica negativa); a renúncia às ilusões narcisísticas; as mudanças verdadeiras (medo de uma catástrofe psíquica); a vergonha, culpa e humilhação de não corresponder às expectativas do ego ideal e do ideal do ego; a dor da elaboração da posição depressiva. Também deve ser incluída a resistência que se manifesta como um sadio movimento do paciente contra as possíveis inadequações do seu analista. 

2.3 – Pelo critério de relacionar as modalidades de resistências ao tipo, grau e função das defesas mobilizadas (sintomas, traços caratereológicos, actings excessivos, falso self etc.)

2.4 – Pela relação com os pontos de fixação patológicos que correspondem às etapas evolutivas do desenvolvimento emocional que deram origem às resistências (as de natureza narcisista são particularmente importantes pelo fato de constituírem o crisol da formação da personalidade e da identidade). Assim, a maioria das pessoas que hoje procura análise apresenta importantes problemas caractereológicos, baixa autoestima e prejuízo de sentimento de identidade, derivados da permanência de um estado depressivo subjacente, muitas vezes resultante das primitivas feridas narcisísticas. (...)

2.5 – (...) Na situação analítica as resistências podem se manifestar contra o setting instituído, o qual, na sua essência, deve ser preservado ao máximo. (...)

         É frequente que muitos pacientes bastante regressivos oponham sérias resistências às mudanças e desejem manter as coisas como estão, não porque não desejem curar-se, mas porque não acreditam nas melhoras, ou acham que não as merecem, ou que correm o sério risco de voltar a sentir as dolorosas experiências passadas de traição e humilhação. Assim, o seu objetivo de vida é sobreviver, e não viver.

ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 364, 365 e 366.

 


[1] Psicanálise como “vexame psicológico”: ideia que surge em 1896: “A hostilidade que me testemunham e o meu isolamento bem poderiam levar a supor que descobri as maiores verdades”.

[2] Uma punição in absentia ocorre quando uma autoridade julga e condena alguém sem que tal pessoa esteja concretamente presente no julgamento ou sem que esteja custodiada pela justiça. De maneira semelhante, numa “punição” em efígie, “pune-se” uma imagem do infrator mas não o próprio indivíduo que cometeu o crime. Freud quer dizer que, na clínica psicanalítica, a transferência e a resistência elucidam os verdadeiros agentes patogênicos, pois os conteúdos inconscientes do passado tornam-se ação no presente, e dessa maneira já não estão mais escondidos, ausentes (in absentia) ou deslocados (em efígie), mas claros, objetivos e óbvios no aqui e agora.

[3] Adesividade da libido: característica da libido de às vezes insistir numa fixação em objetos arcaicos, recusando-se a procurar objetos mais condizentes com a realidade e com o presente.

[4] João-bobo: brinquedo em formato de boneco flexível cuja base fixa garante que – por mais que se empurre, chute ou bata nele – ele volta sempre a seu eixo central, “teimando” em manter sua posição originalmente ereta.



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