Módulo 26

 FASES LIBIDINAIS OU FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL


FASES LIBIDINAIS OU FASES DE ORGANIZAÇÃO PSICOSSEXUAL

 

Etapa do desenvolvimento da criança caracterizada por uma organização, mais ou menos acentuada, da libido sob o primado de uma zona erógena e pela predominância de uma modalidade de relação de objeto. Deu-se em psicanálise maior extensão à noção de fase, procurando definir as fases da evolução do ego.

Quando em psicanálise se fala de fase, designa-se assim, a maior parte das vezes, as fases da evolução libidinal. Note-se, porém, que antes de a noção de organização da libido ter começado a definir-se, já se manifestava a preocupação freudiana de diferenciar “idades da vida”, “épocas”, “períodos” de desenvolvimento; essa preocupação é paralela à descoberta de que as diferentes afecções psiconeuróticas têm a sua origem na infância. É assim que, por volta dos anos de 1896-7, Freud, na sua correspondência com W. Fliess, o qual sabemos que tinha também elaborado uma teoria dos períodos, procura estabelecer uma sucessão de épocas, na infância e na puberdade, datáveis com maior ou menor precisão (...).

Logo surge a ideia de ligar a sucessão destes diferentes períodos à predominância e ao abandono de determinadas “zonas sexuais” ou “zonas erógenas” (região anal, região buco-faríngica e, na menina, região clitórica); Freud leva bastante longe esta tentativa teórica, como mostra a carta de 14-11-1897: o processo do recalque chamado normal está estreitamente relacionado com o abandono de uma zona por outra, com o “declínio” de determinada zona sexual.

Tais concepções prefiguram em numerosos pontos o que virá a ser, sob a sua forma mais acabada, a teoria das fases da libido. É impressionante, no entanto, constatar que elas desaparecem da primeira exposição apresentada por Freud sobre a evolução da sexualidade, para só ulteriormente serem redescobertas e determinadas. Na edição de 1905 de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie), a oposição principal situa-se entre a sexualidade pubertária e adulta de um lado, organizada sob o primado genital, e, de outro, a sexualidade infantil, onde as metas sexuais são múltiplas, tal como as zonas erógenas que as suportam, sem que se instaure de modo algum o primado de uma delas ou uma escolha de objeto. Não há dúvida de que esta oposição é particularmente acentuada por Freud devido ao aspecto de exposição didática de que se reveste a obra em questão e em virtude da originalidade da tese que se trata de fazer aceitar: o caráter originalmente perverso e polimorfo da sexualidade.

 Progressivamente, entre 1913 e 1923, esta tese é aperfeiçoada com a introdução da noção de fases pré-genitais, que precedem a instauração da fase genital: fases oral, sádico-anal, fálica.

O que caracteriza estas fases é um certo modo de organização da vida sexual. A noção do primado de uma zona erógena é insuficiente para explicar o que há de estruturante e de normativo no conceito de fase: esta só encontra o seu fundamento em um tipo de atividade, ligado a uma zona erógena, é claro, mas que se reconhecerá a diferentes níveis da relação de objeto. Assim, a incorporação, característica da fase oral, seria um esquema que se encontraria em muitas fantasias subjacentes a outras atividades além da nutrição (“comer com os olhos”, por exemplo).

Se foi no registro da evolução da atividade libidinal que a noção de fase encontrou, em psicanálise, o seu modelo, devemos notar que foram esboçadas outras linhas de evolução diferentes:

1. Freud indicou uma sucessão temporal quanto ao acesso ao objeto libidinal, em que o sujeito passa sucessivamente pelo autoerotismo, pelo narcisismo, pela escolha homossexual e pela escolha heterossexual;

2. Outra direção leva a reconhecer diferentes etapas na evolução que resulta numa predominância do princípio de realidade sobre o princípio de prazer. Ferenczi fez uma tentativa sistemática neste sentido;

3. Alguns autores acham que só a formação do ego pode explicar a passagem do princípio de prazer para o princípio de realidade. O ego “... entra no processo como uma variável independente”. E o desenvolvimento do ego que permite a diferenciação entre a pessoa e o mundo exterior, o adiamento da satisfação, o domínio relativo dos estímulos pulsionais etc. (...)

Convém ressaltar que Freud, por seu lado, não seguiu pelo caminho de uma teoria holística das fases, que agruparia não apenas a evolução da libido, mas ainda a das defesas do ego, etc.; tal teoria (...) acabaria por englobar numa só linha genética a evolução do conjunto da personalidade. Isto não é, na nossa opinião, um simples inacabamento do pensamento de Freud; efetivamente, para ele, a defasagem e a possibilidade de uma dialética entre estas diferentes linhas evolutivas são essenciais no determinismo da neurose.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 181, 182 e 183.

 

FASE ORAL

 

Primeira fase da evolução libidinal. O prazer sexual está predominantemente ligado à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. A atividade de nutrição fornece as significações eletivas pelas quais se exprime e se organiza a relação de objeto; por exemplo, a relação de amor com a mãe será marcada pelas significações seguintes: comer, ser comido.

Abraham propôs subdividir-se esta fase em função de duas atividades diferentes: sucção (fase oral precoce) e mordedura (fase sádico-oral).

Na primeira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie, 1905), Freud descreve uma sexualidade oral que ele destaca no adulto (atividades perversas ou preliminares) e reencontra na criança baseando-se nas observações do pediatra Lindner (significação masturbatória da sucção do polegar). No entanto, não fala de fase, de organização oral, assim como não fala de organização anal.

Todavia, a atividade de chupar assume a partir dessa época um valor exemplar, que permite a Freud mostrar como a pulsão sexual, que a princípio se satisfaz por apoio numa função vital, adquire autonomia e se satisfaz de forma autoerótica. Por outro lado, a vivência de satisfação, que fornece o protótipo da fixação do desejo num determinado objeto, é uma experiência oral; é, pois, possível aventar a hipótese de que o desejo e a satisfação fiquem para sempre marcados por essa primeira experiência.

Em 1915, depois de reconhecer a existência da organização anal, Freud descreve como primeira fase da sexualidade a fase oral ou canibalesca. A fonte é a zona oral; o objeto está estreitamente relacionado com o da alimentação; a meta é a incorporação. Portanto, já não se acentua apenas uma zona erógena - uma excitação e um prazer específicos —, mas um modo de relação, a incorporação; a psicanálise mostra que esta, nas fantasias infantis, não está ligada apenas à atividade bucal, mas pode transpor-se para outras funções (respiração e visão, por exemplo).

Segundo Freud, a oposição entre atividade e passividade, que caracteriza a fase anal, não existe na fase oral. Karl Abraham procurou diferenciar os tipos de relação que estão em jogo no período oral, o que o levou a distinguir uma fase precoce de sucção pré-ambivalente - que parece mais próxima daquilo que Freud a princípio descreveu como fase oral - e uma fase sádico-oral que corresponde ao aparecimento dos dentes, em que a atividade de morder e devorar implica uma destruição do objeto; aí se encontra conjuntamente a fantasia de ser comido, destruído pela mãe.

O interesse pelas relações de objeto levou certos psicanalistas (particularmente Melanie Klein e Bertram Lewin) a descrever de forma mais complexa as significações conotadas pelo conceito de fase oral. (...)

Fase sádico-oral: segundo período da fase oral, de acordo com uma subdivisão introduzida por K. Abraham; é caracterizado pelo aparecimento dos dentes e da atividade de morder. A incorporação assume aqui o sentido de uma destruição do objeto, o que implica que entre em jogo a ambivalência na relação de objeto. (...) K. Abraham diferencia dentro da fase oral uma fase precoce de sucção, “pré-ambivalente”, e uma fase sádico-oral que corresponde ao aparecimento dos dentes; a atividade de morder e de devorar implica uma destruição do objeto e aparece a ambivalência pulsional (libido e agressividade dirigidas para um mesmo objeto).

Com Melanie Klein, o sadismo oral assume maior importância. Com efeito, para esta autora a fase oral é o momento culminante do sadismo infantil. Mas, diferentemente de Abraham, faz intervir imediatamente as tendências sádicas: “...a agressividade faz parte da relação mais precoce da criança com o seio, embora nessa fase ela não se exprima habitualmente pela mordedura”. “O desejo libidinal de sugar ou chupar é acompanhado do objetivo destrutivo de aspirar, de esvaziar, de esgotar sugando.” Embora M. Klein conteste a distinção de Abraham entre uma fase oral de sucção e uma fase oral de mordedura, o conjunto da fase oral é, para ela, uma fase sádico-oral.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 184 a 187.

 

FASE ANAL

 

Para Freud, a segunda fase da evolução libidinal, que pode ser situada aproximadamente entre os dois e os quatro anos; é caracterizada por uma organização da libido sob o primado da zona erógena anal; a relação de objeto está impregnada de significações ligadas à função de defecação (expulsão-retenção) e ao valor simbólico das fezes. Vemos aqui afirmar-se o sadomasoquismo em relação com o desenvolvimento do domínio da musculatura.

Freud começou por assinalar traços de um erotismo anal no adulto e descrever o seu funcionamento na criança na defecação e na retenção das matérias fecais. (...)

Nas remodelações ulteriores de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie, 1915, 1924) a fase anal aparece como uma das organizações pré-genitais, situada entre as organizações oral e fálica. É a primeira fase em que se constitui uma polaridade atividade-passividade. Freud faz coincidir a atividade com o sadismo e a passividade com o erotismo anal, e atribui a cada uma das pulsões parciais correspondentes uma fonte distinta: musculatura e mucosa anal. (...)

Como conceber a ligação entre o sadismo e o erotismo anal? O sadismo, bipolar por natureza - visto que visa, contraditoriamente, destruir o objeto e mantê-lo, dominando-o -, encontraria a sua correspondência privilegiada no funcionamento bifásico do esfíncter anal (evacuação-retenção) e no controle deste.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 186 e 187.

 

FASE FÁLICA

 

Fase de organização infantil da libido que vem depois das fases oral e anal e se caracteriza por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos genitais; mas, o que já não será o caso na organização genital pubertária, a criança, de sexo masculino ou feminino, só conhece nesta fase um único órgão genital, o órgão masculino, e a oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico-castrado. A fase fálica corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de Édipo; o complexo de castração é aqui predominante.

A noção de fase fálica é tardia em Freud, pois só em 1923 (A organização genital infantil [Die infantile Genitalorganisation]) aparece explicitamente. É preparada pela evolução das ideias de Freud a' respeito dos modos sucessivos de organização da libido e pelos seus pontos de vista sobre o primado do falo, duas linhas de pensamento que distinguiremos para clareza da exposição.

1. Quanto ao primeiro ponto, recordemos que Freud começou (1905) por considerar que a falta de organização da sexualidade infantil era o que opunha esta à sexualidade pós-pubertária. A criança só sai da anarquia das pulsões parciais depois de assegurado, com a puberdade, o primado da zona genital. A introdução das organizações pré-genitais anal e oral (1913, 1915) põe implicitamente em causa o privilégio, até então atribuído à zona genital, de organizar a libido; mas ainda se trata apenas de “rudimentos e fases precursoras” de uma organização em sentido pleno. “A combinação das pulsões parciais e a sua subordinação sob o primado dos órgãos genitais não se realizam, ou realizam-se apenas de forma muito incompleta.” Quando Freud introduz a noção de fase fálica, reconhece a existência desde a infância de uma verdadeira organização da sexualidade, muito próxima daquela do adulto, “... que já merece o nome de genital, onde se encontra um objeto sexual e uma certa convergência das tendências sexuais sobre esse objeto, mas que se diferencia num ponto essencial da organização definitiva por ocasião da maturidade sexual; com efeito, ela conhece apenas uma única espécie de órgão genital, o órgão masculino”.

2. Esta ideia de um primado do falo já está prefigurada em textos muito anteriores a 1923. Desde Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie, 1905) encontramos duas teses:

a) A libido é “de natureza masculina, tanto na mulher como no homem”;

b) “A zona erógena diretriz na criança de sexo feminino é localizada no clitóris, que é o homólogo da zona genital masculina (glande).” A análise do Pequeno Hans, onde se delineia a noção de complexo de castração, põe em primeiro plano, para o menino, a alternativa: possuir um falo ou ser castrado. Por fim, o artigo Sobre as teorias sexuais das crianças (Über infantile Sexualtheorien, 1908), embora considere, como nos Três ensaios, a sexualidade do ponto de vista do menino, sublinha o interesse singular que a menina tem pelo pênis, a sua inveja deste e a sua sensação de ser lesada em relação ao menino. O essencial da concepção freudiana da fase fálica pode ser encontrado em três artigos: A organização genital infantil (Die infantile Genitalorganisation, 1923); O declínio do complexo de Édipo (Der Untergang des Õdipuskomplexes, 1924); Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos (Einige psychische Folgen des anatomischen Geschlechtsunterschieds, 1925). Esquematicamente, podemos caracterizar assim a fase fálica, segundo Freud:

1. Do ponto de vista genético, o “par de opostos” atividade-passividade que predomina na fase anal transforma-se no par fálico-castrado; só na puberdade se edifica a oposição masculinidade-feminidade.

2. Relativamente ao complexo de Édipo, a existência de uma fase fálica tem um papel essencial: com efeito, o declínio do Édipo (no caso do menino) é condicionado pela ameaça de castração, e este deve a sua eficácia, por um lado, ao interesse narcísico que o menino tem pelo seu próprio pênis e, por outro, à descoberta da ausência de pênis por parte da menina.

3. Existe uma organização fálica na menina. A verificação da diferença entre os sexos suscita uma inveja do pênis; esta acarreta, do ponto de vista da relação com os pais, um ressentimento para com a mãe, que não deu o pênis, e a escolha do pai como objeto de amor, na medida em que ele pode dar o pênis ou o seu equivalente simbólico, o filho. A evolução da menina não é, pois, simétrica à do menino (para Freud, a menina não tem conhecimento da própria vagina); são ambas igualmente centradas em torno do órgão fálico. A significação da fase fálica, principalmente na criança de sexo feminino, deu lugar a importantes discussões na história da psicanálise. Os autores (K. Horney, M. Klein, E. Jones) que admitem a existência, na menina, de sensações sexuais já de início específicas (particularmente um conhecimento primário intuitivo da cavidade vaginal) são levados a ver na fase fálica apenas uma formação secundária de caráter defensivo.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 178, 179 e 180.

 

PERÍODO DE LATÊNCIA

 

Período que vai do declínio da sexualidade infantil (aos cinco ou seis anos) até o início da puberdade, e que marca uma pausa na evolução da sexualidade. Observa-se nele, deste ponto de vista, uma diminuição das atividades sexuais, a dessexualização das relações de objeto e dos sentimentos (e, especialmente, a predominância da ternura sobre os desejos sexuais), o aparecimento de sentimentos como o pudor ou a repugnância e de aspirações morais e estéticas. Segundo a teoria psicanalítica, o período de latência tem origem no declínio do complexo de Édipo; corresponde a uma intensificação do recalque - que tem como efeito uma amnésia que cobre os primeiros anos -, a uma transformação dos investimentos de objetos em identificações com os pais e a um desenvolvimento das sublimações.

Podemos, em primeiro lugar, entender a ideia de um período de latência sexual: (a) de um ponto de vista estritamente biológico, como uma pausa predeterminada entre duas “pressões” da libido; (b) que não precisaria, quanto à sua gênese, de qualquer explicação psicológica. Podemos então descrevê-lo principalmente pelos seus efeitos, como acontece em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexmltheórie, 1905).

Quando Freud articula o período de latência com o declínio do complexo de Édipo, tem em vista esta concepção: “...o complexo de Édipo deve desaparecer porque chegou para ele o momento de se dissolver, tal como caem os dentes de leite quando aparece a segunda dentição”. Mas, se a “pressão” pubertária que marca o fim do período de latência é incontestável, não é possível ver tão bem a que predeterminação biológica corresponderia a entrada no período de latência. Assim também não haveria “... por que exigir plena concordância entre a formação anatômica e o desenvolvimento psicológico”.

E assim, para explicar o declínio do Édipo, Freud é levado a invocar a “impossibilidade interna” deste, uma espécie de discordância entre a estrutura edipiana e a imaturidade biológica: “...a ausência persistente da satisfação esperada, a frustração perpetuada do filho por que espera, obrigam o pequeno apaixonado a renunciar a um sentimento sem esperança”.

Finalmente, a entrada no período de latência só poderia ser entendida com referência à evolução do complexo de Édipo e às modalidades da sua resolução nos dois sexos.

Secundariamente, as formações sociais, conjugando a sua ação com a do superego, vêm reforçar a latência sexual: esta “... só pode provocar uma completa interrupção da vida sexual nas organizações culturais que inscreveram no seu programa uma repressão da sexualidade infantil. Não é o caso da maioria dos primitivos”.

Note-se que Freud fala de período de latência, e não de fase, o que deve ser entendido do seguinte modo: durante o período considerado, embora possamos observar manifestações sexuais, não há, a rigor, uma nova organização da sexualidade.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 263 e 264.

 

FASE GENITAL

 

Fase do desenvolvimento psicossexual caracterizada pela organização das pulsões parciais sob o primado das zonas genitais; compreende dois momentos, separados pelo período de latência: a fase fálica (ou organização genital infantil) e a organização genital propriamente dita que se institui na puberdade. Certos autores reservam a denominação “organização genital" para este momento, incluindo o estágio fálico nas organizações pré-genitais.

Para Freud, a princípio, como o atesta a primeira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie, 1905), houve apenas uma organização da sexualidade, a organização genital que se institui na puberdade e se opõe à “perversidade polimorfa” e ao auto-erotismo da sexualidade infantil. Posteriormente Freud modificaria progressivamente esta primeira concepção:

1) Descreve organizações pré-genitais (1913, 1915);

2) Destaca a ideia de uma escolha de objeto sexual que se realiza desde a infância, num capítulo acrescentado a Três ensaios, denominado Estágio de desenvolvimento da organização sexual: "... todas as tendências sexuais convergem para uma só pessoa e procuram nela a sua satisfação. Assim se realiza nos anos da infância a forma de sexualidade que mais se aproxima da forma definitiva da vida sexual. A diferença [...] reduz-se ao fato de que na criança não está realizada a síntese das pulsões parciais, nem a sua submissão completa ao primado da zona genital. Só o último período do desenvolvimento sexual trará consigo a afirmação desse primado”

3) Volta a questionar a teoria enunciada nesta última frase ao reconhecer a existência de uma “organização genital”, chamada fálica, antes do período de latência, com a única diferença, relativamente à organização genital pós-pubertária, de que para os dois sexos só um órgão genital conta: o falo (1923).

Vemos que a evolução das ideias de Freud sobre o desenvolvimento psicossexual levou-o a aproximar cada vez mais a sexualidade infantil da sexualidade adulta. Nem por isso se anula a ideia primitiva segundo a qual é com a organização genital pubertária que as pulsões parciais se unificam e se hierarquizam definitivamente, que o prazer ligado às zonas erógenas não genitais se torna “preliminar” ao orgasmo, etc.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 180 e 181.



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