ENQUADRE - ENQUADRAMENTO - SETTING
Comumente traduzido como enquadre,
o setting pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que
organizam, normatizam e possibilitam o processo psicanalítico. Assim, ele
resulta de uma conjunção de regras, atitudes e combinações, tanto as contidas
no contrato analítico, como também as que vão se definindo durante a evolução
da análise, como os dias e horários das sessões, os honorários com a respectiva
modalidade de pagamento, o plano de férias...
O setting analítico costuma sofrer uma carga de
pressão por parte de certos pacientes no sentido de se fazer sucessivas
modificações. Na prática analítica, a instituição do setting, e a
preservação ao máximo daquilo que foi combinado, com as correspondentes
frustrações, visa as seguintes funções:
1 – Estabelecer o aporte
de realidade exterior, com as suas inevitáveis frustrações e privações.
2 – Ajudar a definir a
predominância do princípio da realidade sobre o do prazer.
3 – Prover a delimitação
entre o eu e os outros por meio da função de desfazer a
especularidade e a gamelaridade[1] típica dos pacientes que
desenvolvem algum tipo de transferência narcisista.
4 - Auxiliar, a partir
daí, no caso de pacientes bastante regredidos, a obtenção de capacidades de
diferenciação, separação e individuação.
5 – Definir as noções dos
limites, das limitações e desfazer as fantasias de uma ilusória simetria
funcional que o paciente imagina ter com o analista.
Pode-se dizer que o setting, por si mesmo, funciona
como um importante fator terapêutico psicanalítico, pela criação de um
espaço que possibilita ao analisando trazer seus aspectos infantis no
vínculo transferencial e, ao mesmo tempo, poder usar a sua parte adulta para
ajudar o crescimento daquelas partes infantis.
Igualmente o enquadre também age pelo modelo de um provável
novo funcionamento parental que consiste na criação, por parte do terapeuta, de
uma atmosfera de trabalho ao mesmo tempo de muita firmeza (diferente da
rigidez) no indispensável cumprimento e preservação das combinações feitas,
juntamente com uma atitude de acolhimento, respeito e empatia.
É
importante ressaltar a capacidade de “sobrevivência” que deve ter
o analista em face dos mais diferentes tipos de ataques do analisando. Assim, é
perfeitamente aceitável que, diante de certas circunstâncias, o analista aceite
a inclusão de certos parâmetros (ver em seguida o significado desta
palavra na técnica psicanalítica), desde que tenha a segurança de que a análise
pode retornar à situação do setting anterior, se assim for necessário.
(...)
Parâmetro:
palavra usada por Kurt Eissler[2] (The effect of the
structure of the ego on psychoanalytic technique, 1953) para reafirmar
sua posição de que tudo aquilo que transgrida o enquadre deve ser considerado
um parâmetro. Ao mesmo tempo, aventou a possibilidade de o psicanalista
poder se afastar parcialmente das recomendações técnicas preconizadas pela
psicanálise clássica e, assim, introduzir alguns outros aspectos, desde que
nada disso interfira na evolução normal da análise. Aliás, o termo parâmetro
aparece nos dicionários com a significação de que é “todo elemento cuja
variação de valor altera a solução de um problema sem alterar-lhe a natureza
essencial”.
Assim,
na atualidade cabem alguns questionamentos.
É
permissível que, de forma transitória ou até definitiva, uma análise comum se
processe (...) com uma periodicidade (...) anômala? É válida a análise (...)
sem que o analisando use o divã? Perguntas equivalentes poderiam ser
formuladas, como, por exemplo, quanto à (...) conveniência de responder a
algumas perguntas pessoais ou a (…) adequação de concordar com o uso simultâneo
de quimioterápicos etc.
ZIMERMAN, David E. Vocabulário
contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 382, 383 e 314.
A expressão “enquadramento da cura psicanalítica” designa o
dispositivo formal e contratual necessário para que se instaure a situação que
caracteriza um tratamento psicanalítico, por oposição às outras formas de
psicoterapia. Se o que ele representa está no cerne da prática psicanalítica
desde as suas origens, as reflexões sobre a sua estrutura e sua função são mais
recentes, posteriores à Segunda Guerra Mundial, elaboradas como tais pela
primeira vez por José Bleger[3] em seu artigo intitulado Psyco-Analysis
of the Psycho-Analytic Frame (1966).
Esse enquadramento foi progressivamente determinado por
Freud por motivos muitas vezes circunstanciais ou pessoais, mas que resultaram,
por fim, num conjunto de prescrições homogêneas e coerentes com as modalidades
teóricas e práticas do tratamento. Em 1904, ele descreve o seu “método
psicoterápico”: “Sem exercer nenhum outro tipo de influência, convida-os a se
deitarem de costas num sofá, comodamente, enquanto ele próprio senta-se numa
cadeira por trás deles, fora de seu campo visual. Tampouco exige que fechem os
olhos e evita qualquer contato, bem como qualquer outro procedimento que possa
fazer lembrar a hipnose. Assim, a sessão prossegue como uma conversa entre duas
pessoas igualmente despertas, uma das quais é poupada de qualquer esforço
muscular e de qualquer impressão sensorial passível de distraí-la e de
perturbar-lhe a concentração da atenção em sua própria atividade psíquica” (O
método psicanalítico de Freud, 1904). Nove anos mais tarde, ele
especificará as normas estabelecidas: frequência e duração das sessões,
modalidade de pagamento dos honorários, e outros tantos parâmetros tão
importantes para o bom desenrolar do processo quanto as obrigações paralelas de
associação livre ou de interdição de agir para o analisante ou de atenção
igualmente flutuante ou de regra da abstinência para o analista (O início do
tratamento, 1913).
A contenção imposta pelo ritual da sessão é posta à prova
para ambas as partes, mesmo que se esqueça às vezes do seu caráter contratual
para sublinhar a pseudo-onipotência que o analista se atribuiria à custa do
masoquismo de seu paciente. O enquadramento parece funcionar como o
representante da interdição do incesto na situação analítica, interdição que,
de fato, lhe favorece a expressão e a análise. Ele pode ser considerado como
esse “terceiro excluído” que paira acima dos protagonistas da sessão para
lembrar-lhes que toda relação “dual” é ilusória, mesmo nos momentos mais
intensos de regressão.
As opiniões dos autores divergem sobre essas interpretações,
pois os elementos que caracterizam o enquadramento são ricos em simbolizações.
José Bleger distingue o enquadramento, na situação psicanalítica, a par do
processo, como um “não-processo” constituído pelo “conjunto de constantes no
interior do qual se produz o próprio processo”, e ele vê aí a origem da “fusão
mais primitiva com o corpo da mãe”.
O
enquadramento deve ser subdividido em dois: o que é proposto pelo analista e
aceito pelo paciente, e o que é constituído pelas projeções dos mais primitivos
vínculos simbióticos do paciente. É a propósito deste último ponto que serão
citadas as noções de “continente-conteúdo” ou de função alfa do analista
(Wilfred Bion)[4],
ou mesmo o setting de Donald Winnicott. Para este último, o analista
“exprime” o seu amor pelo paciente pelo seu interesse refletido e o seu ódio
por sua observância dos ritos do regulamento e dos horários. Segundo Jean-Luc
Donnet[5], “o enquadramento é ao
mesmo tempo proteção e ameaça, do mesmo modo que sua simbolização é forçada e
libertadora”. Com a imagem da “tina” do psicanalista, Jean Laplanche descreve
um “enquadramento (setting) de parede dupla” da qual a externa,
“puramente legalista, formal”, contratual, é necessária para preservar a
interna, a qual está sujeito aos acasos do processo analítico e é necessária ao
surgimento do sexual e da neurose de transferência.
As
disposições do enquadramento com os doentes psicóticos ou em função das
considerações de Jacques Lacan e seus alunos sobre a escansão do tempo das
sessões colocam a questão de seu vínculo com o establishment e a
coerência duradoura de um processo psicanalítico. Os parâmetros em causa são
numerosos e cada um deles suscita a questão do seu papel e de sua importância
na gestão da situação: número e duração das sessões (quatro sessões de
cinquenta minutos no mínimo, segundo as normas oficiais americanas, três de
quarenta e cinco minutos para os franceses filiados a Associação Psicanalítica
Internacional, menos para outros, mais para Freud...), repartição ao longo da
semana (sessões mais aproximadas, até mesmo várias num dia para pacientes que
residem longe), pagamento de honorários (em espécie ou em cheque), reembolso
por terceiros ou gratuidade da análise (garantia de saúde, seguridade social
etc.), problemas ligados às ausências, às férias, às alterações introduzidas no
ritual (mudança de domicílio, por exemplo), às interferências telefônicas, aos
contatos durante o tempo de divã (experiências de “técnica ativa” ou de
“análise mútua” de Sándor Ferenczi, de holding físico de Michael Balint[6] ou Donald Winnicott) ou
fora dele etc.
Atitudes
rígidas, por um lado, relativismo transgressor, por outro, referência à
interdição paterna do incesto ou quadro-útero do mais completo retorno às
origens, lugar da hipnose ou condição da perlaboração, as condições na prática
da relação singular de cura psicanalítica só têm valor não alienante porque se
apoiam num contrato que as circunscreveu e que pode a cada instante ser rasgado
por um ou outro dos seus co-signatários.
MIJOLLA, Alain de. Dicionário
internacional de psicanálise. Vol. 1. Verbete Resistência. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 563 e 564.
O
SETTING[7]
ANALÍTICO EM WINNICOTT – UM AMBIENTE DE HOLDING[8]
Todas as particularidades do cuidado materno que antecedem e
advêm depois do nascimento convergem para a composição do ambiente de holding.
Isto inclui a preocupação materna primária da mãe, que lhe possibilita fornecer
ao bebê o necessário suporte egóico.
Tanto o holding psicológico como o físico são
essenciais ao bebê ao longo de seu desenvolvimento, e o serão por toda sua
vida. O ambiente de holding jamais perde sua importância. (...)
O emprego que Winnicott faz do paradigma bebê-mãe
suficientemente boa, apresentado como uma forma de compreender melhor aquilo
que poderia ser provido pela relação analítica, torna-se a base da teoria do holding.
Sua atenção voltou-se para um reter-o-bebê-na-mente psicológico combinado com
um alimentar, banhar e vestir físicos:
“O bebê é amparado pela
mãe, e somente compreende o amor que é expresso em termos físicos, ou seja,
através da vida, do holding humano (...)” (Group influences and the maladujsted
child, 1955) (...).
Com bastante frequência Winnicott faz referência ao holding
como uma espécie de manejo – em especial ao dirigir-se aos profissionais que no
cotidiano lidam com pessoas que não podem tomar conta de si mesmas. Manejo foi
também o termo utilizado em relação ao cuidado dispensado a determinados
pacientes no setting psiquiátrico, bem como na relação analítica. (...)
Em termos de relação analítica é o setting, a atenção
dispensada pelo analista, juntamente com o trabalho interpretativo, que criam o
ambiente de holding que norteia as necessidades psicológicas e físicas
do paciente. (...)
Em
seu trabalho de 1954, Metapsychological and Clinical Aspects of Regression within
the Psycho-Analytical Set-Up, Winnicott tece um comentário a respeito de
como Freud veio a escolher, de forma intuitiva, um setting para seus
pacientes psiconeuróticos. Esse setting espelha-se no ambiente
primitivo, sendo que Freud o criou porque inconscientemente sabia sobre o
ambiente precoce suficientemente-bom.
“Freud pressupõe a
situação de maternagem precoce. A polêmica que proponho é que isso aparece
na provisão de um setting em seu trabalho, quase sem que soubesse o que
estava fazendo (...)” (Metapsychological and Clinical Aspects).
Winnicott, em seu
trabalho, começa por estabelecer uma divisão das técnicas da psicanálise em
interpretação e setting. É o setting que, em fins da década de
50, transforma-se no ambiente que proporciona o holding.
Existem dois aspectos fundamentais que dizem respeito às
observações feitas por Winnicott do desenvolvimento psicanalítico daquele
período. Em primeiro lugar, através de seu extenso trabalho com mães e bebês,
Winnicott veio a descobrir a diferença entre um ambiente bom e um que não é
bom. Em segundo lugar, pôde observar que este primeiro e essencial ambiente bom
é duplicado no setting freudiano, de que, é evidente, faz parte a
personalidade do analista. Por esse motivo, o paciente lesado por uma falha
ambiental precoce pode vir a ter chance de curar-se a partir do altamente
específico setting freudiano. No entanto, é o paciente psicótico quem
necessita, de uma forma mais literal, da estabilidade e da confiança fornecidas
pelo ambiente de holding.
“Gostaria de esclarecer
como artificialmente dividi a obra de Freud em duas partes. A primeira delas é
a técnica da psicanálise e como ela foi desenvolvida passo a passo, tal como é
aprendida pelos que a estudam. O material é apresentado pelo paciente, compreendido
e interpretado. A segunda é o setting no qual o trabalho é
desenvolvido” (Metapsychological and Clinical Aspects).
Winnicott enumera doze aspectos imprescindíveis para o
estabelecimento do setting. Distintamente de Freud, não deixa o setting
em segundo plano; ele até mesmo esclarece cada um dos aspectos fundamentais do
ambiente do holding:
“ 1. Cinco ou seis vezes
por semana em sessões diárias Freud colocava-se a disposição de seus pacientes.
(Essas sessões eram acomodadas de acordo com a conveniência do analista e de
seu paciente.)
2. O analista inspira
confiança, é pontual, presente, respirando.
3. Pelo período de tempo
preestabelecido (cerca de uma hora) o analista está alerta e preocupado com o
paciente.
4. O analista expressa
seu amor através de um interesse positivo. O ódio, rigorosamente, tem um início
e um fim com a questão do pagamento. Amor e ódio foram honestamente expressos.
Isso quer dizer que não foram negados pelo analista.
5. O objetivo da
psicanálise é entrar em contato com o processo do paciente, compreender o
material apresentado, e comunicar esta compreensão em palavras. A resistência
implica um sofrimento que pode ser atenuado através da interpretação.
6. O modelo empregado
pelo analista é o da observação objetiva.
7. O trabalho deve ser
executado em um cômodo, e não em um lugar de passagem. O cômodo deve ser
tranquilo e não pode estar sujeito a ruídos indesejáveis, contudo, não deve ter
uma quietude que lembre a morte, e nem livre dos ruídos comuns a uma casa. É preciso
que receba uma iluminação apropriada. A luz não deve ser dirigida para o rosto
e nem deve ser irregular. Este cômodo certamente não pode ser escuro. Deve ser
também convenientemente aquecido. O paciente deita-se no divã confortavelmente,
se for capaz de ficar confortável, ficando à disposição de um cobertor e um
pouco de água.
8. O analista (como é bem
sabido) mantém o julgamento moral afastado da relação, não entra em detalhes
quanto a sua vida particular ou ideias, e não toma partido nos sistemas
persecutórios, nem mesmo quando isso aparece na forma de situações compartilhadas
reais, locais, políticas etc. Naturalmente, se uma guerra for deflagrada, ou
ocorrer um terremoto, ou se o rei morrer, o analista não está desavisado.
9. Na situação analítica
o analista inspira uma maior confiança do que outras pessoas da vida comum; de
uma maneira geral, está livre de acessos de raiva, livre de apaixonar-se etc.
10. Existe uma distinção
bastante clara na análise entre o fato e a fantasia, de tal forma que o
analista não é atingido por um sonho agressivo.
11. A ausência de reação
de um Talião pode ser esperada.
12. O analista
sobrevive.” (Metapsychological and Clinical Aspects).
Winnicott acentua que a conduta do analista é o que
realmente possui relevância no ambiente físico e temporal. Embora não seja
específico, são a transferência e a contratransferência que se constituem nos
dois aspectos basilares deste ambiente específico. Além disso, o funcionamento
deste ambiente segue as mesmas linhas traçadas pelo ambiente parental.
“Encontraremos aqui um
riquíssimo material para estudo. Podemos notar uma similaridade marcante entre
todas essas coisas e incumbência dos pais, especialmente aquela que a mãe tem
para com o seu bebê ou do pai que desempenha o papel da mãe, e de alguma forma
com a tarefa materna inicial (...). O setting analítico reproduz as
técnicas de maternagem mais precoces. Ele induz a regressão em função da
confiança que inspira. A regressão do paciente constitui-se em um retorno
organizado à dependência inicial ou a uma dupla dependência. Paciente e setting
fundem-se em uma situação de satisfação original” (Metapsychological and
Clinical Aspects).
ABRAM, Jan. A
linguagem de Winnicott. Dicionário das palavras e expressões utilizados por
Donald W. Winnicott. Rio de Janeiro: Editora RevinteR, 2000. p. 26, 27, 28,
135, 136, 139 e 215.
ANDRÉ
GREEN E O ENQUADRE INTERNO
Winnicott
estava sobretudo preocupado com certas formas de regressão (...) nas quais
certos pacientes modificavam o enquadre. Pois em certos casos eram incapazes de
utilizá-lo. Constata-se, então, que o nascimento do conceito de
"enquadre" (devido em grande medida a Winnicott) é quase
contemporâneo de seu questionamento. A aceitação e a utilização do enquadre são
corolários da capacidade de brincar do paciente com o analista. Com Winnicott,
o brincar substitui o sonho como paradigma. A pergunta fundamental é o que
ocorre quando o paciente já não é capaz de associar livremente: a possibilidade
de simbolização e de elaboração exigirá um trabalho suplementar do analista.
Por isso interessa-me (...) a ideia de enquadre interno. Penso que a
heterogeneidade introduziu-se no pensamento clínico com a tomada de consciência
de que o enquadre não era viável para um grande número de pacientes. Quando ele
não funciona, pode-se dizer que o enquadre já não é um conceito compartilhado
entre o paciente e o analista. O enquadre torna-se uma noção interna ao
analista. Será ele quem terá de avaliar o que escuta em relação a uma falha do
funcionamento do enquadre que só ele está em condições de perceber e
compreender. Agora, como você disse, é o enquadre interno do analista que faz
com que o enquadre possa variar para conservar seu papel no processo. Nesses
casos, não podemos buscar a unidade do campo analítico do lado dos pacientes,
pois nos damos conta de que sua diversidade implica modos de abordagem muito
diferentes e, inclusive, em certas ocasiões, a renúncia a vários aspectos do
enquadre em sua dimensão de “estojo”. Isso significa que quanto menos o
enquadre clássico funciona, mais me vejo levado a pensar que a unidade do campo
psicanalítico só pode estar situada no próprio analista, em seu pensamento
clínico.
O enquadre interno parece-me resultante da interação de dois
fatores. O primeiro é a análise do analista. Ou seja, este viveu a experiência
de um enquadre "externo" realizado, efetivo, com seu próprio
analista. O segundo é o acúmulo de experiências com seus pacientes, que o abriu
para um descentramento em relação a sua própria análise, e portanto, o analista
pode verificar que com alguns pacientes se reproduz algo do que ele mesmo viveu
em sua análise, e com outros pacientes constatará que as coisas apresentam-se
de um modo diferente.
Pode-se
dizer que a escuta analítica é em si mesma uma metaforização do enquadre. Por
isso é que enquanto a escuta analítica é preservada, algo que a liga ao
enquadre também se vê preservado, mesmo que os outros elementos do enquadre não
se achem presentes. Com estruturas não neuróticas, o enquadre interno do
analista é imprescindível para possibilitar a constituição de um diálogo e um
espaço potencial para passar da repetição mortífera para a representação, dando
lugar a um processo de transformação (até mesmo de estruturação) subjetiva.
GREEN, André. A
clínica contemporânea e o enquadre interno do analista. Revista
Brasileira de Psicanálise, volume 46, n. 3, 2012. p. 224 e 225.
[1]
A “transferência especular” e “gamelar”, segundo o psicanalista austríaco Heinz
Kohut (1913-1981), são exemplos de “transferência narcisista”. Por meio desta,
o analisando contempla o analista como uma imagem ideal de si mesmo. O olhar
constrói no setting um espelho de Narciso, em que a idealização do outro
funciona como uma compensação para a própria insegurança e a desvalia.
[2]
Kurt Eissler (1908-1999) foi um psicanalista austríaco.
[3] José
Bleger (1922-1972) foi um psicanalista argentino.
[4]
Wilfred Bion (1897-1979) foi um psicanalista britânico. O “continente” é o
conceito que designa a capacidade da mãe, ou do analista, de receber, dar
acolhimento, dar forma ao “conteúdo” (desejos, medos, demandas etc.) do
psiquismo do bebê ou do analisante. Segundo Bion, neste processo, a pessoa que
ocupa o papel de continente transforma os “elementos beta” que lhe são
transmitidos (protopensamentos, impressões sensoriais e experiências emocionais
arcaicas que se manifestam como actings e somatizações) em “elementos
alfa” (pensamentos, imagens, recordações); após a decodificação, por meio da
“função alfa”, o conteúdo adquire forma, sentido, consistência, e é então
devolvido para a criança ou para o analisando.
[5]
Jean-Luc Donnet (1932-2022) foi um psicanalista francês.
[6]
Michael Balint (1896-1970) foi um psicanalista húngaro.
[7] Setting:
em português, contexto, ambiente, cenário.
[8] Holding:
em português, ação de manter, sustentar, conservar, segurar, abraçar.
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