Módulo 43

 

ENQUADRE - ENQUADRAMENTO - SETTING




    Comumente traduzido como enquadre, o setting pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo psicanalítico. Assim, ele resulta de uma conjunção de regras, atitudes e combinações, tanto as contidas no contrato analítico, como também as que vão se definindo durante a evolução da análise, como os dias e horários das sessões, os honorários com a respectiva modalidade de pagamento, o plano de férias...

         O setting analítico costuma sofrer uma carga de pressão por parte de certos pacientes no sentido de se fazer sucessivas modificações. Na prática analítica, a instituição do setting, e a preservação ao máximo daquilo que foi combinado, com as correspondentes frustrações, visa as seguintes funções:

1 – Estabelecer o aporte de realidade exterior, com as suas inevitáveis frustrações e privações.

2 – Ajudar a definir a predominância do princípio da realidade sobre o do prazer.

3 – Prover a delimitação entre o eu e os outros por meio da função de desfazer a especularidade e a gamelaridade[1] típica dos pacientes que desenvolvem algum tipo de transferência narcisista.

4 - Auxiliar, a partir daí, no caso de pacientes bastante regredidos, a obtenção de capacidades de diferenciação, separação e individuação.

5 – Definir as noções dos limites, das limitações e desfazer as fantasias de uma ilusória simetria funcional que o paciente imagina ter com o analista.

         Pode-se dizer que o setting, por si mesmo, funciona como um importante fator terapêutico psicanalítico, pela criação de um espaço que possibilita ao analisando trazer seus aspectos infantis no vínculo transferencial e, ao mesmo tempo, poder usar a sua parte adulta para ajudar o crescimento daquelas partes infantis.

         Igualmente o enquadre também age pelo modelo de um provável novo funcionamento parental que consiste na criação, por parte do terapeuta, de uma atmosfera de trabalho ao mesmo tempo de muita firmeza (diferente da rigidez) no indispensável cumprimento e preservação das combinações feitas, juntamente com uma atitude de acolhimento, respeito e empatia.

É importante ressaltar a capacidade de sobrevivência” que deve ter o analista em face dos mais diferentes tipos de ataques do analisando. Assim, é perfeitamente aceitável que, diante de certas circunstâncias, o analista aceite a inclusão de certos parâmetros (ver em seguida o significado desta palavra na técnica psicanalítica), desde que tenha a segurança de que a análise pode retornar à situação do setting anterior, se assim for necessário. (...)

Parâmetro: palavra usada por Kurt Eissler[2] (The effect of the structure of the ego on psychoanalytic technique, 1953) para reafirmar sua posição de que tudo aquilo que transgrida o enquadre deve ser considerado um parâmetro. Ao mesmo tempo, aventou a possibilidade de o psicanalista poder se afastar parcialmente das recomendações técnicas preconizadas pela psicanálise clássica e, assim, introduzir alguns outros aspectos, desde que nada disso interfira na evolução normal da análise. Aliás, o termo parâmetro aparece nos dicionários com a significação de que é “todo elemento cuja variação de valor altera a solução de um problema sem alterar-lhe a natureza essencial”.

Assim, na atualidade cabem alguns questionamentos.

É permissível que, de forma transitória ou até definitiva, uma análise comum se processe (...) com uma periodicidade (...) anômala? É válida a análise (...) sem que o analisando use o divã? Perguntas equivalentes poderiam ser formuladas, como, por exemplo, quanto à (...) conveniência de responder a algumas perguntas pessoais ou a (…) adequação de concordar com o uso simultâneo de quimioterápicos etc.

ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 382, 383 e 314.

 

         A expressão “enquadramento da cura psicanalítica” designa o dispositivo formal e contratual necessário para que se instaure a situação que caracteriza um tratamento psicanalítico, por oposição às outras formas de psicoterapia. Se o que ele representa está no cerne da prática psicanalítica desde as suas origens, as reflexões sobre a sua estrutura e sua função são mais recentes, posteriores à Segunda Guerra Mundial, elaboradas como tais pela primeira vez por José Bleger[3] em seu artigo intitulado Psyco-Analysis of the Psycho-Analytic Frame (1966).

         Esse enquadramento foi progressivamente determinado por Freud por motivos muitas vezes circunstanciais ou pessoais, mas que resultaram, por fim, num conjunto de prescrições homogêneas e coerentes com as modalidades teóricas e práticas do tratamento. Em 1904, ele descreve o seu “método psicoterápico”: “Sem exercer nenhum outro tipo de influência, convida-os a se deitarem de costas num sofá, comodamente, enquanto ele próprio senta-se numa cadeira por trás deles, fora de seu campo visual. Tampouco exige que fechem os olhos e evita qualquer contato, bem como qualquer outro procedimento que possa fazer lembrar a hipnose. Assim, a sessão prossegue como uma conversa entre duas pessoas igualmente despertas, uma das quais é poupada de qualquer esforço muscular e de qualquer impressão sensorial passível de distraí-la e de perturbar-lhe a concentração da atenção em sua própria atividade psíquica” (O método psicanalítico de Freud, 1904). Nove anos mais tarde, ele especificará as normas estabelecidas: frequência e duração das sessões, modalidade de pagamento dos honorários, e outros tantos parâmetros tão importantes para o bom desenrolar do processo quanto as obrigações paralelas de associação livre ou de interdição de agir para o analisante ou de atenção igualmente flutuante ou de regra da abstinência para o analista (O início do tratamento, 1913).

         A contenção imposta pelo ritual da sessão é posta à prova para ambas as partes, mesmo que se esqueça às vezes do seu caráter contratual para sublinhar a pseudo-onipotência que o analista se atribuiria à custa do masoquismo de seu paciente. O enquadramento parece funcionar como o representante da interdição do incesto na situação analítica, interdição que, de fato, lhe favorece a expressão e a análise. Ele pode ser considerado como esse “terceiro excluído” que paira acima dos protagonistas da sessão para lembrar-lhes que toda relação “dual” é ilusória, mesmo nos momentos mais intensos de regressão.

         As opiniões dos autores divergem sobre essas interpretações, pois os elementos que caracterizam o enquadramento são ricos em simbolizações. José Bleger distingue o enquadramento, na situação psicanalítica, a par do processo, como um “não-processo” constituído pelo “conjunto de constantes no interior do qual se produz o próprio processo”, e ele vê aí a origem da “fusão mais primitiva com o corpo da mãe”.

O enquadramento deve ser subdividido em dois: o que é proposto pelo analista e aceito pelo paciente, e o que é constituído pelas projeções dos mais primitivos vínculos simbióticos do paciente. É a propósito deste último ponto que serão citadas as noções de “continente-conteúdo” ou de função alfa do analista (Wilfred Bion)[4], ou mesmo o setting de Donald Winnicott. Para este último, o analista “exprime” o seu amor pelo paciente pelo seu interesse refletido e o seu ódio por sua observância dos ritos do regulamento e dos horários. Segundo Jean-Luc Donnet[5], “o enquadramento é ao mesmo tempo proteção e ameaça, do mesmo modo que sua simbolização é forçada e libertadora”. Com a imagem da “tina” do psicanalista, Jean Laplanche descreve um “enquadramento (setting) de parede dupla” da qual a externa, “puramente legalista, formal”, contratual, é necessária para preservar a interna, a qual está sujeito aos acasos do processo analítico e é necessária ao surgimento do sexual e da neurose de transferência.

As disposições do enquadramento com os doentes psicóticos ou em função das considerações de Jacques Lacan e seus alunos sobre a escansão do tempo das sessões colocam a questão de seu vínculo com o establishment e a coerência duradoura de um processo psicanalítico. Os parâmetros em causa são numerosos e cada um deles suscita a questão do seu papel e de sua importância na gestão da situação: número e duração das sessões (quatro sessões de cinquenta minutos no mínimo, segundo as normas oficiais americanas, três de quarenta e cinco minutos para os franceses filiados a Associação Psicanalítica Internacional, menos para outros, mais para Freud...), repartição ao longo da semana (sessões mais aproximadas, até mesmo várias num dia para pacientes que residem longe), pagamento de honorários (em espécie ou em cheque), reembolso por terceiros ou gratuidade da análise (garantia de saúde, seguridade social etc.), problemas ligados às ausências, às férias, às alterações introduzidas no ritual (mudança de domicílio, por exemplo), às interferências telefônicas, aos contatos durante o tempo de divã (experiências de “técnica ativa” ou de “análise mútua” de Sándor Ferenczi, de holding físico de Michael Balint[6] ou Donald Winnicott) ou fora dele etc.

Atitudes rígidas, por um lado, relativismo transgressor, por outro, referência à interdição paterna do incesto ou quadro-útero do mais completo retorno às origens, lugar da hipnose ou condição da perlaboração, as condições na prática da relação singular de cura psicanalítica só têm valor não alienante porque se apoiam num contrato que as circunscreveu e que pode a cada instante ser rasgado por um ou outro dos seus co-signatários.

MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 1. Verbete Resistência. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 563 e 564.

 

O SETTING[7] ANALÍTICO EM WINNICOTT – UM AMBIENTE DE HOLDING[8]

 

         Todas as particularidades do cuidado materno que antecedem e advêm depois do nascimento convergem para a composição do ambiente de holding. Isto inclui a preocupação materna primária da mãe, que lhe possibilita fornecer ao bebê o necessário suporte egóico.

         Tanto o holding psicológico como o físico são essenciais ao bebê ao longo de seu desenvolvimento, e o serão por toda sua vida. O ambiente de holding jamais perde sua importância. (...)

         O emprego que Winnicott faz do paradigma bebê-mãe suficientemente boa, apresentado como uma forma de compreender melhor aquilo que poderia ser provido pela relação analítica, torna-se a base da teoria do holding. Sua atenção voltou-se para um reter-o-bebê-na-mente psicológico combinado com um alimentar, banhar e vestir físicos:

“O bebê é amparado pela mãe, e somente compreende o amor que é expresso em termos físicos, ou seja, através da vida, do holding humano (...)”  (Group influences and the maladujsted child, 1955) (...).

         Com bastante frequência Winnicott faz referência ao holding como uma espécie de manejo – em especial ao dirigir-se aos profissionais que no cotidiano lidam com pessoas que não podem tomar conta de si mesmas. Manejo foi também o termo utilizado em relação ao cuidado dispensado a determinados pacientes no setting psiquiátrico, bem como na relação analítica. (...)

         Em termos de relação analítica é o setting, a atenção dispensada pelo analista, juntamente com o trabalho interpretativo, que criam o ambiente de holding que norteia as necessidades psicológicas e físicas do paciente. (...)

Em seu trabalho de 1954, Metapsychological and Clinical Aspects of Regression within the Psycho-Analytical Set-Up, Winnicott tece um comentário a respeito de como Freud veio a escolher, de forma intuitiva, um setting para seus pacientes psiconeuróticos. Esse setting espelha-se no ambiente primitivo, sendo que Freud o criou porque inconscientemente sabia sobre o ambiente precoce suficientemente-bom.

“Freud pressupõe a situação de maternagem precoce. A polêmica que proponho é que isso aparece na provisão de um setting em seu trabalho, quase sem que soubesse o que estava fazendo (...)” (Metapsychological and Clinical Aspects).

Winnicott, em seu trabalho, começa por estabelecer uma divisão das técnicas da psicanálise em interpretação e setting. É o setting que, em fins da década de 50, transforma-se no ambiente que proporciona o holding.

         Existem dois aspectos fundamentais que dizem respeito às observações feitas por Winnicott do desenvolvimento psicanalítico daquele período. Em primeiro lugar, através de seu extenso trabalho com mães e bebês, Winnicott veio a descobrir a diferença entre um ambiente bom e um que não é bom. Em segundo lugar, pôde observar que este primeiro e essencial ambiente bom é duplicado no setting freudiano, de que, é evidente, faz parte a personalidade do analista. Por esse motivo, o paciente lesado por uma falha ambiental precoce pode vir a ter chance de curar-se a partir do altamente específico setting freudiano. No entanto, é o paciente psicótico quem necessita, de uma forma mais literal, da estabilidade e da confiança fornecidas pelo ambiente de holding.

“Gostaria de esclarecer como artificialmente dividi a obra de Freud em duas partes. A primeira delas é a técnica da psicanálise e como ela foi desenvolvida passo a passo, tal como é aprendida pelos que a estudam. O material é apresentado pelo paciente, compreendido e interpretado. A segunda é o setting no qual o trabalho é desenvolvido” (Metapsychological and Clinical Aspects).

         Winnicott enumera doze aspectos imprescindíveis para o estabelecimento do setting. Distintamente de Freud, não deixa o setting em segundo plano; ele até mesmo esclarece cada um dos aspectos fundamentais do ambiente do holding:

“ 1. Cinco ou seis vezes por semana em sessões diárias Freud colocava-se a disposição de seus pacientes. (Essas sessões eram acomodadas de acordo com a conveniência do analista e de seu paciente.)

2. O analista inspira confiança, é pontual, presente, respirando.

3. Pelo período de tempo preestabelecido (cerca de uma hora) o analista está alerta e preocupado com o paciente.

4. O analista expressa seu amor através de um interesse positivo. O ódio, rigorosamente, tem um início e um fim com a questão do pagamento. Amor e ódio foram honestamente expressos. Isso quer dizer que não foram negados pelo analista.

5. O objetivo da psicanálise é entrar em contato com o processo do paciente, compreender o material apresentado, e comunicar esta compreensão em palavras. A resistência implica um sofrimento que pode ser atenuado através da interpretação.

6. O modelo empregado pelo analista é o da observação objetiva.

7. O trabalho deve ser executado em um cômodo, e não em um lugar de passagem. O cômodo deve ser tranquilo e não pode estar sujeito a ruídos indesejáveis, contudo, não deve ter uma quietude que lembre a morte, e nem livre dos ruídos comuns a uma casa. É preciso que receba uma iluminação apropriada. A luz não deve ser dirigida para o rosto e nem deve ser irregular. Este cômodo certamente não pode ser escuro. Deve ser também convenientemente aquecido. O paciente deita-se no divã confortavelmente, se for capaz de ficar confortável, ficando à disposição de um cobertor e um pouco de água.

8. O analista (como é bem sabido) mantém o julgamento moral afastado da relação, não entra em detalhes quanto a sua vida particular ou ideias, e não toma partido nos sistemas persecutórios, nem mesmo quando isso aparece na forma de situações compartilhadas reais, locais, políticas etc. Naturalmente, se uma guerra for deflagrada, ou ocorrer um terremoto, ou se o rei morrer, o analista não está desavisado.

9. Na situação analítica o analista inspira uma maior confiança do que outras pessoas da vida comum; de uma maneira geral, está livre de acessos de raiva, livre de apaixonar-se etc.

10. Existe uma distinção bastante clara na análise entre o fato e a fantasia, de tal forma que o analista não é atingido por um sonho agressivo.

11. A ausência de reação de um Talião pode ser esperada.

12. O analista sobrevive.” (Metapsychological and Clinical Aspects).

         Winnicott acentua que a conduta do analista é o que realmente possui relevância no ambiente físico e temporal. Embora não seja específico, são a transferência e a contratransferência que se constituem nos dois aspectos basilares deste ambiente específico. Além disso, o funcionamento deste ambiente segue as mesmas linhas traçadas pelo ambiente parental.

“Encontraremos aqui um riquíssimo material para estudo. Podemos notar uma similaridade marcante entre todas essas coisas e incumbência dos pais, especialmente aquela que a mãe tem para com o seu bebê ou do pai que desempenha o papel da mãe, e de alguma forma com a tarefa materna inicial (...). O setting analítico reproduz as técnicas de maternagem mais precoces. Ele induz a regressão em função da confiança que inspira. A regressão do paciente constitui-se em um retorno organizado à dependência inicial ou a uma dupla dependência. Paciente e setting fundem-se em uma situação de satisfação original” (Metapsychological and Clinical Aspects).

ABRAM, Jan. A linguagem de Winnicott. Dicionário das palavras e expressões utilizados por Donald W. Winnicott. Rio de Janeiro: Editora RevinteR, 2000. p. 26, 27, 28, 135, 136, 139 e 215.

 

ANDRÉ GREEN E O ENQUADRE INTERNO

 

Winnicott estava sobretudo preocupado com certas formas de regressão (...) nas quais certos pacientes modificavam o enquadre. Pois em certos casos eram incapazes de utilizá-lo. Constata-se, então, que o nascimento do conceito de "enquadre" (devido em grande medida a Winnicott) é quase contemporâneo de seu questionamento. A aceitação e a utilização do enquadre são corolários da capacidade de brincar do paciente com o analista. Com Winnicott, o brincar substitui o sonho como paradigma. A pergunta fundamental é o que ocorre quando o paciente já não é capaz de associar livremente: a possibilidade de simbolização e de elaboração exigirá um trabalho suplementar do analista. Por isso interessa-me (...) a ideia de enquadre interno. Penso que a heterogeneidade introduziu-se no pensamento clínico com a tomada de consciência de que o enquadre não era viável para um grande número de pacientes. Quando ele não funciona, pode-se dizer que o enquadre já não é um conceito compartilhado entre o paciente e o analista. O enquadre torna-se uma noção interna ao analista. Será ele quem terá de avaliar o que escuta em relação a uma falha do funcionamento do enquadre que só ele está em condições de perceber e compreender. Agora, como você disse, é o enquadre interno do analista que faz com que o enquadre possa variar para conservar seu papel no processo. Nesses casos, não podemos buscar a unidade do campo analítico do lado dos pacientes, pois nos damos conta de que sua diversidade implica modos de abordagem muito diferentes e, inclusive, em certas ocasiões, a renúncia a vários aspectos do enquadre em sua dimensão de “estojo”. Isso significa que quanto menos o enquadre clássico funciona, mais me vejo levado a pensar que a unidade do campo psicanalítico só pode estar situada no próprio analista, em seu pensamento clínico.

         O enquadre interno parece-me resultante da interação de dois fatores. O primeiro é a análise do analista. Ou seja, este viveu a experiência de um enquadre "externo" realizado, efetivo, com seu próprio analista. O segundo é o acúmulo de experiências com seus pacientes, que o abriu para um descentramento em relação a sua própria análise, e portanto, o analista pode verificar que com alguns pacientes se reproduz algo do que ele mesmo viveu em sua análise, e com outros pacientes constatará que as coisas apresentam-se de um modo diferente.

Pode-se dizer que a escuta analítica é em si mesma uma metaforização do enquadre. Por isso é que enquanto a escuta analítica é preservada, algo que a liga ao enquadre também se vê preservado, mesmo que os outros elementos do enquadre não se achem presentes. Com estruturas não neuróticas, o enquadre interno do analista é imprescindível para possibilitar a constituição de um diálogo e um espaço potencial para passar da repetição mortífera para a representação, dando lugar a um processo de transformação (até mesmo de estruturação) subjetiva.

GREEN, André. A clínica contemporânea e o enquadre interno do analista. Revista Brasileira de Psicanálise, volume 46, n. 3, 2012. p. 224 e 225.



[1] A “transferência especular” e “gamelar”, segundo o psicanalista austríaco Heinz Kohut (1913-1981), são exemplos de “transferência narcisista”. Por meio desta, o analisando contempla o analista como uma imagem ideal de si mesmo. O olhar constrói no setting um espelho de Narciso, em que a idealização do outro funciona como uma compensação para a própria insegurança e a desvalia.

[2] Kurt Eissler (1908-1999) foi um psicanalista austríaco.

[3] José Bleger (1922-1972) foi um psicanalista argentino.

[4] Wilfred Bion (1897-1979) foi um psicanalista britânico. O “continente” é o conceito que designa a capacidade da mãe, ou do analista, de receber, dar acolhimento, dar forma ao “conteúdo” (desejos, medos, demandas etc.) do psiquismo do bebê ou do analisante. Segundo Bion, neste processo, a pessoa que ocupa o papel de continente transforma os “elementos beta” que lhe são transmitidos (protopensamentos, impressões sensoriais e experiências emocionais arcaicas que se manifestam como actings e somatizações) em “elementos alfa” (pensamentos, imagens, recordações); após a decodificação, por meio da “função alfa”, o conteúdo adquire forma, sentido, consistência, e é então devolvido para a criança ou para o analisando.

[5] Jean-Luc Donnet (1932-2022) foi um psicanalista francês.

[6] Michael Balint (1896-1970) foi um psicanalista húngaro.

[7] Setting: em português, contexto, ambiente, cenário.

[8] Holding: em português, ação de manter, sustentar, conservar, segurar, abraçar.


CLIQUE EM CIMA PARA AMPLIAR


CLIQUE EM CIMA PARA AMPLIAR


CLIQUE EM CIMA PARA AMPLIAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário