INTERPRETAÇÃO
A) Destaque, pela investigação analítica,
do sentido latente nas palavras e nos comportamentos de um sujeito. A
interpretação traz à luz as modalidades do conflito defensivo e, em última
análise, tem em vista o desejo que se formula em qualquer produção do inconsciente.
B) No tratamento, comunicação feita ao
sujeito, visando dar-lhe acesso a esse sentido latente, segundo as regras
determinadas pela direção e evolução do tratamento.
A interpretação está no centro da doutrina
e da técnica freudianas. Poderíamos caracterizar a psicanálise pela
interpretação, isto é, pela evidenciação do sentido latente de um material.
Foi a atitude freudiana para com o sonho
que constituiu o primeiro exemplo e o modelo da interpretação. As teorias
“científicas” do sonho tentavam explicá-lo como fenômeno da vida mental,
invocando uma redução da atividade psíquica, um relaxamento das associações;
algumas definiam o sonho como uma atividade específica, mas nenhuma levava em
consideração o seu conteúdo e, a fortiori, a relação existente entre
este e a história pessoal do sonhante. Em contrapartida, os métodos de
intepretação do tipo “chave dos sonhos” (Antiguidade, Oriente) não desdenham o
conteúdo do sonho e reconhecem nele um significado. Neste sentido, Freud
declara-se ligado a esta tradição. Mas acentua exclusivamente a inserção
singular do simbolismo da pessoa e, nesse sentido, o seu método desvia-se das “chaves
dos sonhos”.
A interpretação, para Freud, destaca, a
partir do relato feito pelo sonhante (conteúdo manifesto), o sentido do sonho
tal qual ele se formula no conteúdo latente a que conduzem as associações
livres. O objetivo último da interpretação é o desejo inconsciente e a fantasia
em que este toma corpo.
É claro que o termo interpretação
não é reservado a esta produção fundamental do inconsciente que é o sonho.
Aplica-se às outras produções do inconsciente (atos falhos, sintomas etc.) e,
mais geralmente, àquilo que, no discurso e no comportamento do sujeito, traz a
marca do conflito defensivo.
A comunicação da interpretação sendo por
excelência o modo de ação do analista, o termo interpretação, usado de
forma absoluta, tem igualmente o sentido técnico de interpretação comunicada ao
paciente.
A interpretação, neste sentido técnico,
está presente desde as origens da psicanálise. Note-se, todavia, que na fase
dos Estudos sobre a histeria (Studien über Hysterie, 1895), na
medida em que o objetivo principal é fazer ressurgir as recordações patogênicas
inconscientes, a interpretação não é ainda definida como o modo principal da
ação terapêutica (nem o termo, aliás, se encontra nesse texto).
Isso acontecerá logo que a técnica
psicanalítica começar a se definir. A interpretação é então integrada na
dinâmica do tratamento, como o ilustra o artigo sobre O manejo da
interpretação de sonhos na psicanálise (Die Handhabung der Traumdeutung
in der Psychoanalyse, 1911): “Afirmo, pois, que a interpretação dos sonhos
não deve ser praticada, no decorrer do tratamento analítico, como uma arte em
si mesma, mas que a sua manipulação continua submetida às regras técnicas a que
deve obedecer o tratamento no seu conjunto.” E a consideração destas “regras
técnicas” que deve determinar o nível (mais ou menos “profundo”), o tipo
(interpretação das resistências, da transferência etc.), a ordem eventual das
interpretações.
Mas não pretendemos tratar aqui dos
problemas referentes à interpretação, que foram objeto de numerosas discussões
técnicas: critérios, forma e formulação, oportunidade, “profundidade”, ordem
etc. Indiquemos apenas que a interpretação não abrange o conjunto das
intervenções do analista no tratamento (como, por exemplo, o encorajamento a
falar, a tranquilização, a explicação de um mecanismo ou de um símbolo, as
injunções, as construções etc.), ainda que estas possam todas assumir no seio
da situação analítica um valor interpretativo. (...)
Freud (...) não (...) deixou de frisar o
parentesco entre interpretação, no sentido analítico do termo, e outros
processos mentais em que se manifesta uma atividade interpretativa. É assim que
a elaboração secundária constitui, da parte do sonhante, uma “primeira
interpretação” destinada a introduzir uma certa coerência nos elementos a que
conduz o trabalho do sonho: “... certos sonhos sofreram até o fundo uma
elaboração realizada por uma função psíquica análoga ao pensamento desperto;
parecem ter um sentido, mas esse sentido é tudo o que há de mais afastado da
significação (Bedeutung) do sonho [...]. São sonhos que, por assim
dizer, já haviam sido interpretados, antes que os submetêssemos à
interpretação, em estado de vigília”. Na elaboração secundária, o sujeito trata
o conteúdo do sonho da mesma forma que qualquer conteúdo perceptivo inédito,
tendendo a reconduzi-lo ao já conhecido por meio de certas “representações de
espera” (Erwartungsvorstellungen). Freud acentua ainda as relações que
existem entre a interpretação paranoica (ou ainda a interpretação dos sinais na
superstição) e a interpretação analítica. Para os paranoicos, com efeito, tudo
é interpretável: “... atribuem a maior significação aos pequenos pormenores que
geralmente desprezamos no comportamento dos outros, interpretam a fundo (ausdeuten)
e tiram daí conclusões de grande alcance”. Nas suas interpretações do
comportamento dos outros, os paranoicos dão muitas vezes provas de maior
argúcia do que o sujeito normal. A lucidez de que o paranoico dá provas para
com os outros tem por contrapartida um desconhecimento fundamental do seu
próprio inconsciente.
LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. Verbete:
Interpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p.
245 a 247.
A interpretação tem por objetivo
colocar em evidência, no âmbito do método analítico, o sentido latente das
palavras e dos comportamentos de um sujeito; trata-se de esclarecer os desejos
inconscientes e os conflitos defensivos que lhe estão ligados. Tecnicamente, a
interpretação consiste na comunicação desse sentido latente segundo as regras
comandadas pela evolução do tratamento.
A primeira teoria da interpretação foi
elaborada durante o estudo psicanalítico dos sonhos, por Freud; ela aplica-se
às outras produções do inconsciente, como os atos falhos, os lapsos e os
sintomas. Para Freud, a psicanálise é uma “arte” da interpretação, mas ele
preferirá o termo “construção” para caracterizar a essência do método
psicanalítico, o desvendamento do inconsciente: a construção do inconsciente
repousa inteiramente no uso de interpretações sucessivas a respeito de
elementos isolados; as interpretações permitem que se elucide uma perspectiva
global suscetível de definir uma estratégia do tratamento, mas não devem
negligenciar nunca uma preocupação tática, para a qual não existe outra
alternativa senão adaptar-se a seus movimentos imprevisíveis. (...)
Simultaneamente enunciado (sentido) e
enunciação (ação), a interpretação veicula um sentido, mas o que ela significa
desafia os planejamentos defensivos responsáveis pela estabilidade do
recalcamento; é importante não fornecer “tradução” prematura dos conteúdos
inconscientes, para não se correr o risco de desencorajar o paciente, de
reforçar suas resistências ou de criar uma pura intelectualização dessa
compreensão. Cumpre mobilizar os afetos solicitados nesses planejamentos
defensivos, o que implica também um jogo de forças. Caracterizada por uma
necessária inteligibilidade de sua formulação, redutora, próxima do mais
manifesto da representação, do generalizável e do teórico, a interpretação tem
uma dimensão mais obscura e mais complexa em relação à polissemia da linguagem,
aos símbolos pessoais ou à história dos afetos. A mobilização dos afetos abre
para a dimensão econômica e para o ímpeto pulsional subjacente no representado.
Esta abordagem é possibilitada pelo jogo da transferência e da
contratransferência.
Freud em A dinâmica da transferência
(1912), sublinha que não se deve começar a interpretar antes do aparecimento da
transferência, e especifica que o intuito da interpretação da transferência é
“compelir o paciente a ajustar esses impulsos emocionais ao nexo do tratamento
e da história de sua vida, a submetê-los à consideração intelectual e a
compreendê-los à luz de seu valor psíquico. Esta luta entre o intelecto e a
vida pulsional, entre a compreensão e a procura da ação, é travada quase
exclusivamente, nos fenômenos da transferência. É nesse campo de batalha que a
vitória tem de ser conquistada”.
O que as interpretações comunicam,
passo a passo, ao paciente para a construção do seu inconsciente a partir do
que a transferência lhe apresentou é indissociável do que o analista
reconstruiu graças à análise de sua própria contratransferência; o analista só
reagiu às solicitações transferenciais com o controle, o autodomínio que convém
e que permite fazer dessa contratransferência uma ferramenta de exploração do
inconsciente do paciente. Este, para Freud, é conhecido, portanto, através do
próprio inconsciente do analista.
A interpretação visa, primeiro que
tudo, a eliminação das resistências: a cura não passa por um conhecimento
prévio do que está recalcado, mas por uma vitória sobre as resistências na
origem dessa ignorância; graças ao amor de transferência e à prudência do
psicanalista, o paciente deve poder aceitar a “tradução” do psicanalista sem
que as revelações sobre o seu inconsciente aumentem os conflitos ou sintomas.
Freud recusa uma interpretação isolada do material simbólico oriundo do
inconsciente e sublinha que seria um erro pensar que a interpretação dos sonhos
detém um papel central em todas as análises.
Como escreveu Michel Fain: “Se o ponto
de mutação de 1920 (Além do princípio de prazer) desconcertou
profundamente a metapsicologia de 1915, as concepções provenientes da primeira
tópica continuarão, porém, a exercer sua influência sobre a concepção por Freud
da interpretação”. Talvez seja útil sublinhar a necessária articulação das duas
tópicas: nenhuma delas pode explicar sozinha o status teórico da interpretação.
MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 1. Verbete Interpretação. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 977, 978 e 979.
Interpretação: termo extraído do
vocabulário corrente e utilizado por Sigmund Freud em A interpretação dos
sonhos para explicar a maneira como a psicanálise pode dar uma significação
ao conteúdo latente do sonho, a fim de evidenciar o desejo inconsciente de um
sujeito.
Por extensão, o termo designa qualquer
intervenção psicanalítica que vise a fazer um sujeito compreender a
significação inconsciente de seus atos ou de seu discurso, quer estes se
manifestem através de um dito, um lapso, um sonho, um ato falho, de uma resistência,
da transferência etc.
Como sublinham Jean Laplanche e Jean
Bertrand Pontalis, a interpretação acha-se no cerne da doutrina e da técnica
freudianas. Desde a publicação de A interpretação dos sonhos, Freud
sempre se pautou numa longa tradição filosófica (de Aristóteles ao romantismo
alemão) que afirma que o sonho tem uma significação. Contudo, ao enfatizar o
esteio do simbolismo na pessoa humana, ele fez do sonho a expressão da vida
fantasística do homem e a tradução de seu desejo inconsciente. Em função disso
construiu uma técnica de interpretação que tinha que ser parte integrante da
própria técnica psicanalítica, isto é, da dinâmica da análise: “Afirmo”,
escreveu ele num artigo de 1911, “que a interpretação dos sonhos não deve ser
praticada ao longo do tratamento psicanalítico como uma arte em si, mas que seu
manejo está sujeito às regras técnicas a que deve obedecer a totalidade do
tratamento.”
Nesse sentido, a interpretação não deve
decorrer de um delírio, nem de uma selvageria, nem de uma mania. Não é um jogo
gratuito nem fruto de um gozo ou de um princípio de prazer. Por isso, deve ser
manejada em função de um certo número de regras, dentre elas o cuidado de não
ceder a uma atitude supersticiosa, paranoica, interpretativa ou sugestiva,
segundo a qual tudo seria interpretável. Em A psicopatologia da vida
cotidiana, ao falar dos paranoicos, Freud indica claramente o que a
interpretação não deve ser: estes, diz ele em síntese, interpretam os pequenos
detalhes do comportamento corriqueiro da vida alheia e, com frequência, dão
mostras de uma lucidez maior que a do sujeito normal. Essa qualidade,
entretanto, tem como contrapartida um desconhecimento radical deles mesmos.
Se Freud define dessa maneira negativa o
que a interpretação não deve ser na psicanálise, é porque essa noção abrange
muitas variações, desde a simples explicação significativa até o delírio,
passando pela selvageria e pela mania.
Na nosografia psiquiátrica, chama-se
delírio de interpretação a uma forma de delírio crônico, caracterizada pela
preponderância de um tema persecutório e de um raciocínio monoideativo, que
impele o sujeito a proceder a construções alucinatórias, convencido de que
todas as manifestações da realidade externa se referem a ele.
Se esse delírio de interpretação é próprio
da psicose em geral e da paranoia em particular, a interpretação selvagem é uma
das modalidades de funcionamento da transferência na análise. E, para
caracterizá-la, Freud emprega o termo “psicanálise selvagem”. Já em 1901, em
seu artigo sobre a psicoterapia, ele cita uma declaração feita por Hamlet aos
dois cortesãos (Rosenkranz e Guildenstern) encarregados pelo rei de vigiá-lo:
“Julgais”, indaga o príncipe, “que sou mais fácil de tocar do que uma flauta?
Chamai-me do instrumento que quiserdes, pois, se podeis desafinar-me, ainda
assim não me podeis tocar”. Depois, em 1910, a propósito de um médico novato
que cometera o erro de explicar “selvagemente” a uma paciente que ela sofria de
falta de atividade sexual, ele dá pela primeira vez o nome de “psicanálise
selvagem” a um erro técnico cometido pelos praticantes ignorantes, que consiste
em atirar no rosto do paciente, logo no primeiro encontro, os segredos que eles
adivinharam. Nesse caso, seja ela “verdadeira” ou “falsa”, a interpretação é
inaceitável, já que provém de um completo desconhecimento da estrutura psíquica
do sujeito, de suas resistências e de seu recalque.
Em 1929, numa carta ao historiador francês
Maxime Leroy (1873-1957), que lhe pedira que interpretasse três sonhos de René
Descartes (1596-1650), Freud sublinhou a dificuldade que tinha em trabalhar com
tal material na ausência do principal interessado. Nessa mesma perspectiva,
condenou as tentativas de “diagnóstico relâmpago”, assimilando-as a um
verdadeiro abuso de poder.
Freud sempre foi atento à mania de
interpretação, tais eram os estragos que ela provocava. (Seus primeiros
discípulos da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, aliás, não
escaparam a ela.) Essa mistura de psicanálise selvagem, delírio interpretativo
e utilização dogmática da doutrina freudiana, para fins de explicação da
realidade, manifestou-se desde muito cedo entre os que pretendiam servir-se do
freudismo para fazer surgir verdades ocultas de um texto ou de um indivíduo.
O gozo interpretativo, longe de regredir
diante das advertências de Freud, chegou até a aumentar de intensidade à medida
que o movimento interessou-se pela clínica das psicoses e dos borderlines.
Para tratar desses casos, o analista, amiúde também marcado pela loucura, era
levado a manejar a interpretação em plena transferência fusional com o
analisando. Daí seu caráter desenfreado. Essa paixão, que aliás foi denunciada
pelos próprios psicanalistas (Edward Glover, Heinz Kohut e muitos outros),
permitiu que os adversários de Freud se apoiassem em tolices publicadas por
autores medíocres para apresentar a doutrina vienense como uma nova variedade
de charlatanismo: vidência, astrologia, ocultismo, superstições etc.
Consciente do perigo, também Jacques
Lacan, em 1958, no contexto de sua teoria do significante, tratou de revisar
essa noção e sua utilização técnica. Colocou ênfase na necessidade de
interrogar incessantemente, no correr da análise, o desejo do analisando, sem
no entanto despejar sobre ele verdades já prontas. Mas seus discípulos, por seu
turno, cederam à mania da interpretação. Enquanto os freudianos faziam surgir
por toda parte símbolos sexuais e os kleinianos “adivinhavam” por trás de todo
discurso o ódio arcaico à mãe, os lacanianos inventaram um novo jargão
interpretativo, feito de trocadilhos, matemas e nós borromeanos.
Se a doutrina freudiana teve tanta
dificuldade para se proteger dessa paixão, foi porque o mecanismo da
interpretação é inerente a seu sistema de pensamento. Por isso é que Freud
sempre procurou temperar a onipotência da interpretação com um outro processo:
a construção.
Foi em 1937 que ele conferiu a esse termo
um verdadeiro conteúdo teórico, definindo-o como uma elaboração que o analista
certamente deve realizar na análise (tal como um cientista em seu laboratório)
para reconstituir literalmente a história infantil e inconsciente do sujeito.
Nesse aspecto, pode-se dizer que a construção é, ao mesmo tempo, a
quintessência da interpretação e uma crítica da interpretação, na medida em que
permite restabelecer de modo coerente a significação global da história de um
sujeito em vez de se ater à apreensão de alguns detalhes sintomáticos. Freud
usava permanentemente esse processo de construção, tanto em suas análises (na
da Serguei Constantinovitch Pankejeff, por exemplo, durante a qual literalmente
inventou a cena do “coito a tergo[1]”) quanto em suas hipóteses
sobre a metapsicologia ou a pulsão de morte, ou ainda em suas obras literárias
sobre Leonardo da Vinci (1452-1519) ou Moisés.
Duas correntes filosóficas comentaram a
noção freudiana de interpretação. A primeira, representada por Karl Popper
(1902-1994) e seus herdeiros, afirmou que a psicanálise, na medida em que não é
refutável, não pode ser promovida à categoria de ciência. A segunda, próxima de
Paul Ricoeur e da fenomenologia, reivindicou para o freudismo o estatuto
positivo de uma hermenêutica, passível de fornecer à filosofia os instrumentos
de uma verdadeira crítica das ilusões da consciência.
ROUDINESCO,
Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Verbete: Interpretação. Rio de
Janeiro: Zahar, 1998. p. 388 a 390.
Nos trabalhos de Freud sobre técnica
psicanalítica, interpretar aparece como uma forma de o analista explicar
o significado de um desejo (pulsão) inconsciente, que surja através de sonhos,
lapsos, atos falhos, alguma resistência e na associação de ideias contidas no
discurso do analisando. Surgida em A interpretação dos sonhos, embora
com uma conceituação ainda embrionária, a interpretação adquiriu, e mantém até
a atualidade, a condição de estar no centro da doutrina e da técnica
psicanalítica.
Visto de um vértice contemporâneo, o
termo interpretação está bem adequado, levando-se em conta que o prefixo
inter designa uma relação de vincularidade entre o analisando e o
analista, o que é muito diferente daquela ideia clássica de que caberia ao
paciente o papel de trazer seu material, e ao psicanalista, a tarefa
única de descodificar e traduzi-las para o analisando.
Em sua essência, a interpretação é
entendida hoje como o resultado final da comunicação entre as mensagens,
geralmente transferenciais, emitidas pelo analisando e a repercussão
contratransferencial que despertam na mente do psicanalista, em três tempos: o
de um acolhimento, seguida de um de transformações em seu
psiquismo e, finalmente, o de devolução sob a forma de formulações
verbais. (...)
Em relação aos elementos constituintes
de uma interpretação, cabe discriminar sete elementos essenciais na sua
composição:
1
– O conteúdo.
2
– A forma (muito particularmente, o tom de voz do analista).
3
– A oportunidade (isto é, o timing).
4
– A finalidade (para o quê o analista está interpretando).
5
– Para quem é dirigida a intepretação (isto é, para qual personagem que
está dentro do paciente e que, num dado momento, está mais à tona).
6
– A significação que determinada lembrança, sentimento ou fantasia
representa para o paciente, assim como também a significação que ele empresta
às palavras do paciente.
7
– Finalmente, um aspecto que pouco aparece nos textos de técnica psicanalítica
e que tem uma importância fundamental consiste no destino que a intepretação
vai tomar na mente do paciente.
As modalidades de intepretação
podem ser discriminadas, conforme sua finalidade nos 6 tipos:
1
– Compreensiva (acima de tudo, o paciente sentiu-se compreendido pelo
analista).
2
– Integradora (juntar os aspectos do paciente dissociados, dentro e fora
dele.)
3
– Instigadora (instigar o analisando a saber pensar suas experiências
emocionais).
4
– Disruptora (tornar egodistônico[2] o que está egossintônico[3] no paciente, como
pode ser um sintoma, um falso self, uma ilusão narcisista etc.)[4]
5
– Nomeadora (através de sua função alfa, o analista dará nomes às
experiências emocionais primitivas representadas no sujeito, ainda sem nome, ou
seja, como um terror sem nome, conforme diz Bion).
6
– Reconstrutora (uma espécie de costura, de reconstrução, dos
sentimentos e significados contidos nos fatos passados com os presentes).
ZIMERMAN,
David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed,
2001. p. 116, 220, 221 e 222.
[1] Coito
a tergo: penetração sexual do homem por trás.
[2] Egodistônico:
conflituoso em relação ao eu.
[3] Egossintônico:
harmônico em relação ao eu.
[4]
Egossintonia: estado mental que o analisando tem a respeito de sua
própria neurose. Frequentemente os analistas encontram uma forte forma de
resistência do paciente a uma boa evolução da análise. Embora sejam evidentes
seus conflitos, inibições e estereótipos, o sujeito está harmonizado com a sua
deficitária qualidade de vida e sempre consegue encontrar racionalizações que
lhe justificam a tese de que não tem o que mudar. Nesses casos, antes de tudo,
é necessário que o analista consiga transformar em egodistônico o que
está egossintônico no analisando.
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