Módulo 44

 INTERPRETAÇÃO

 

A) Destaque, pela investigação analítica, do sentido latente nas palavras e nos comportamentos de um sujeito. A interpretação traz à luz as modalidades do conflito defensivo e, em última análise, tem em vista o desejo que se formula em qualquer produção do inconsciente.

B) No tratamento, comunicação feita ao sujeito, visando dar-lhe acesso a esse sentido latente, segundo as regras determinadas pela direção e evolução do tratamento.

A interpretação está no centro da doutrina e da técnica freudianas. Poderíamos caracterizar a psicanálise pela interpretação, isto é, pela evidenciação do sentido latente de um material.

Foi a atitude freudiana para com o sonho que constituiu o primeiro exemplo e o modelo da interpretação. As teorias “científicas” do sonho tentavam explicá-lo como fenômeno da vida mental, invocando uma redução da atividade psíquica, um relaxamento das associações; algumas definiam o sonho como uma atividade específica, mas nenhuma levava em consideração o seu conteúdo e, a fortiori, a relação existente entre este e a história pessoal do sonhante. Em contrapartida, os métodos de intepretação do tipo “chave dos sonhos” (Antiguidade, Oriente) não desdenham o conteúdo do sonho e reconhecem nele um significado. Neste sentido, Freud declara-se ligado a esta tradição. Mas acentua exclusivamente a inserção singular do simbolismo da pessoa e, nesse sentido, o seu método desvia-se das “chaves dos sonhos”.

A interpretação, para Freud, destaca, a partir do relato feito pelo sonhante (conteúdo manifesto), o sentido do sonho tal qual ele se formula no conteúdo latente a que conduzem as associações livres. O objetivo último da interpretação é o desejo inconsciente e a fantasia em que este toma corpo.

É claro que o termo interpretação não é reservado a esta produção fundamental do inconsciente que é o sonho. Aplica-se às outras produções do inconsciente (atos falhos, sintomas etc.) e, mais geralmente, àquilo que, no discurso e no comportamento do sujeito, traz a marca do conflito defensivo.

A comunicação da interpretação sendo por excelência o modo de ação do analista, o termo interpretação, usado de forma absoluta, tem igualmente o sentido técnico de interpretação comunicada ao paciente.

A interpretação, neste sentido técnico, está presente desde as origens da psicanálise. Note-se, todavia, que na fase dos Estudos sobre a histeria (Studien über Hysterie, 1895), na medida em que o objetivo principal é fazer ressurgir as recordações patogênicas inconscientes, a interpretação não é ainda definida como o modo principal da ação terapêutica (nem o termo, aliás, se encontra nesse texto).

Isso acontecerá logo que a técnica psicanalítica começar a se definir. A interpretação é então integrada na dinâmica do tratamento, como o ilustra o artigo sobre O manejo da interpretação de sonhos na psicanálise (Die Handhabung der Traumdeutung in der Psychoanalyse, 1911): “Afirmo, pois, que a interpretação dos sonhos não deve ser praticada, no decorrer do tratamento analítico, como uma arte em si mesma, mas que a sua manipulação continua submetida às regras técnicas a que deve obedecer o tratamento no seu conjunto.” E a consideração destas “regras técnicas” que deve determinar o nível (mais ou menos “profundo”), o tipo (interpretação das resistências, da transferência etc.), a ordem eventual das interpretações.

Mas não pretendemos tratar aqui dos problemas referentes à interpretação, que foram objeto de numerosas discussões técnicas: critérios, forma e formulação, oportunidade, “profundidade”, ordem etc. Indiquemos apenas que a interpretação não abrange o conjunto das intervenções do analista no tratamento (como, por exemplo, o encorajamento a falar, a tranquilização, a explicação de um mecanismo ou de um símbolo, as injunções, as construções etc.), ainda que estas possam todas assumir no seio da situação analítica um valor interpretativo. (...)

Freud (...) não (...) deixou de frisar o parentesco entre interpretação, no sentido analítico do termo, e outros processos mentais em que se manifesta uma atividade interpretativa. É assim que a elaboração secundária constitui, da parte do sonhante, uma “primeira interpretação” destinada a introduzir uma certa coerência nos elementos a que conduz o trabalho do sonho: “... certos sonhos sofreram até o fundo uma elaboração realizada por uma função psíquica análoga ao pensamento desperto; parecem ter um sentido, mas esse sentido é tudo o que há de mais afastado da significação (Bedeutung) do sonho [...]. São sonhos que, por assim dizer, já haviam sido interpretados, antes que os submetêssemos à interpretação, em estado de vigília”. Na elaboração secundária, o sujeito trata o conteúdo do sonho da mesma forma que qualquer conteúdo perceptivo inédito, tendendo a reconduzi-lo ao já conhecido por meio de certas “representações de espera” (Erwartungsvorstellungen). Freud acentua ainda as relações que existem entre a interpretação paranoica (ou ainda a interpretação dos sinais na superstição) e a interpretação analítica. Para os paranoicos, com efeito, tudo é interpretável: “... atribuem a maior significação aos pequenos pormenores que geralmente desprezamos no comportamento dos outros, interpretam a fundo (ausdeuten) e tiram daí conclusões de grande alcance”. Nas suas interpretações do comportamento dos outros, os paranoicos dão muitas vezes provas de maior argúcia do que o sujeito normal. A lucidez de que o paranoico dá provas para com os outros tem por contrapartida um desconhecimento fundamental do seu próprio inconsciente.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. Verbete: Interpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 245 a 247.

 

         A interpretação tem por objetivo colocar em evidência, no âmbito do método analítico, o sentido latente das palavras e dos comportamentos de um sujeito; trata-se de esclarecer os desejos inconscientes e os conflitos defensivos que lhe estão ligados. Tecnicamente, a interpretação consiste na comunicação desse sentido latente segundo as regras comandadas pela evolução do tratamento.

         A primeira teoria da interpretação foi elaborada durante o estudo psicanalítico dos sonhos, por Freud; ela aplica-se às outras produções do inconsciente, como os atos falhos, os lapsos e os sintomas. Para Freud, a psicanálise é uma “arte” da interpretação, mas ele preferirá o termo “construção” para caracterizar a essência do método psicanalítico, o desvendamento do inconsciente: a construção do inconsciente repousa inteiramente no uso de interpretações sucessivas a respeito de elementos isolados; as interpretações permitem que se elucide uma perspectiva global suscetível de definir uma estratégia do tratamento, mas não devem negligenciar nunca uma preocupação tática, para a qual não existe outra alternativa senão adaptar-se a seus movimentos imprevisíveis. (...)

         Simultaneamente enunciado (sentido) e enunciação (ação), a interpretação veicula um sentido, mas o que ela significa desafia os planejamentos defensivos responsáveis pela estabilidade do recalcamento; é importante não fornecer “tradução” prematura dos conteúdos inconscientes, para não se correr o risco de desencorajar o paciente, de reforçar suas resistências ou de criar uma pura intelectualização dessa compreensão. Cumpre mobilizar os afetos solicitados nesses planejamentos defensivos, o que implica também um jogo de forças. Caracterizada por uma necessária inteligibilidade de sua formulação, redutora, próxima do mais manifesto da representação, do generalizável e do teórico, a interpretação tem uma dimensão mais obscura e mais complexa em relação à polissemia da linguagem, aos símbolos pessoais ou à história dos afetos. A mobilização dos afetos abre para a dimensão econômica e para o ímpeto pulsional subjacente no representado. Esta abordagem é possibilitada pelo jogo da transferência e da contratransferência.

         Freud em A dinâmica da transferência (1912), sublinha que não se deve começar a interpretar antes do aparecimento da transferência, e especifica que o intuito da interpretação da transferência é “compelir o paciente a ajustar esses impulsos emocionais ao nexo do tratamento e da história de sua vida, a submetê-los à consideração intelectual e a compreendê-los à luz de seu valor psíquico. Esta luta entre o intelecto e a vida pulsional, entre a compreensão e a procura da ação, é travada quase exclusivamente, nos fenômenos da transferência. É nesse campo de batalha que a vitória tem de ser conquistada”.

         O que as interpretações comunicam, passo a passo, ao paciente para a construção do seu inconsciente a partir do que a transferência lhe apresentou é indissociável do que o analista reconstruiu graças à análise de sua própria contratransferência; o analista só reagiu às solicitações transferenciais com o controle, o autodomínio que convém e que permite fazer dessa contratransferência uma ferramenta de exploração do inconsciente do paciente. Este, para Freud, é conhecido, portanto, através do próprio inconsciente do analista.

         A interpretação visa, primeiro que tudo, a eliminação das resistências: a cura não passa por um conhecimento prévio do que está recalcado, mas por uma vitória sobre as resistências na origem dessa ignorância; graças ao amor de transferência e à prudência do psicanalista, o paciente deve poder aceitar a “tradução” do psicanalista sem que as revelações sobre o seu inconsciente aumentem os conflitos ou sintomas. Freud recusa uma interpretação isolada do material simbólico oriundo do inconsciente e sublinha que seria um erro pensar que a interpretação dos sonhos detém um papel central em todas as análises.

         Como escreveu Michel Fain: “Se o ponto de mutação de 1920 (Além do princípio de prazer) desconcertou profundamente a metapsicologia de 1915, as concepções provenientes da primeira tópica continuarão, porém, a exercer sua influência sobre a concepção por Freud da interpretação”. Talvez seja útil sublinhar a necessária articulação das duas tópicas: nenhuma delas pode explicar sozinha o status teórico da interpretação.

MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 1. Verbete Interpretação. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 977, 978 e 979.

 

Interpretação: termo extraído do vocabulário corrente e utilizado por Sigmund Freud em A interpretação dos sonhos para explicar a maneira como a psicanálise pode dar uma significação ao conteúdo latente do sonho, a fim de evidenciar o desejo inconsciente de um sujeito.

Por extensão, o termo designa qualquer intervenção psicanalítica que vise a fazer um sujeito compreender a significação inconsciente de seus atos ou de seu discurso, quer estes se manifestem através de um dito, um lapso, um sonho, um ato falho, de uma resistência, da transferência etc.

Como sublinham Jean Laplanche e Jean Bertrand Pontalis, a interpretação acha-se no cerne da doutrina e da técnica freudianas. Desde a publicação de A interpretação dos sonhos, Freud sempre se pautou numa longa tradição filosófica (de Aristóteles ao romantismo alemão) que afirma que o sonho tem uma significação. Contudo, ao enfatizar o esteio do simbolismo na pessoa humana, ele fez do sonho a expressão da vida fantasística do homem e a tradução de seu desejo inconsciente. Em função disso construiu uma técnica de interpretação que tinha que ser parte integrante da própria técnica psicanalítica, isto é, da dinâmica da análise: “Afirmo”, escreveu ele num artigo de 1911, “que a interpretação dos sonhos não deve ser praticada ao longo do tratamento psicanalítico como uma arte em si, mas que seu manejo está sujeito às regras técnicas a que deve obedecer a totalidade do tratamento.”

Nesse sentido, a interpretação não deve decorrer de um delírio, nem de uma selvageria, nem de uma mania. Não é um jogo gratuito nem fruto de um gozo ou de um princípio de prazer. Por isso, deve ser manejada em função de um certo número de regras, dentre elas o cuidado de não ceder a uma atitude supersticiosa, paranoica, interpretativa ou sugestiva, segundo a qual tudo seria interpretável. Em A psicopatologia da vida cotidiana, ao falar dos paranoicos, Freud indica claramente o que a interpretação não deve ser: estes, diz ele em síntese, interpretam os pequenos detalhes do comportamento corriqueiro da vida alheia e, com frequência, dão mostras de uma lucidez maior que a do sujeito normal. Essa qualidade, entretanto, tem como contrapartida um desconhecimento radical deles mesmos.

Se Freud define dessa maneira negativa o que a interpretação não deve ser na psicanálise, é porque essa noção abrange muitas variações, desde a simples explicação significativa até o delírio, passando pela selvageria e pela mania.

Na nosografia psiquiátrica, chama-se delírio de interpretação a uma forma de delírio crônico, caracterizada pela preponderância de um tema persecutório e de um raciocínio monoideativo, que impele o sujeito a proceder a construções alucinatórias, convencido de que todas as manifestações da realidade externa se referem a ele.

Se esse delírio de interpretação é próprio da psicose em geral e da paranoia em particular, a interpretação selvagem é uma das modalidades de funcionamento da transferência na análise. E, para caracterizá-la, Freud emprega o termo “psicanálise selvagem”. Já em 1901, em seu artigo sobre a psicoterapia, ele cita uma declaração feita por Hamlet aos dois cortesãos (Rosenkranz e Guildenstern) encarregados pelo rei de vigiá-lo: “Julgais”, indaga o príncipe, “que sou mais fácil de tocar do que uma flauta? Chamai-me do instrumento que quiserdes, pois, se podeis desafinar-me, ainda assim não me podeis tocar”. Depois, em 1910, a propósito de um médico novato que cometera o erro de explicar “selvagemente” a uma paciente que ela sofria de falta de atividade sexual, ele dá pela primeira vez o nome de “psicanálise selvagem” a um erro técnico cometido pelos praticantes ignorantes, que consiste em atirar no rosto do paciente, logo no primeiro encontro, os segredos que eles adivinharam. Nesse caso, seja ela “verdadeira” ou “falsa”, a interpretação é inaceitável, já que provém de um completo desconhecimento da estrutura psíquica do sujeito, de suas resistências e de seu recalque.

Em 1929, numa carta ao historiador francês Maxime Leroy (1873-1957), que lhe pedira que interpretasse três sonhos de René Descartes (1596-1650), Freud sublinhou a dificuldade que tinha em trabalhar com tal material na ausência do principal interessado. Nessa mesma perspectiva, condenou as tentativas de “diagnóstico relâmpago”, assimilando-as a um verdadeiro abuso de poder.

Freud sempre foi atento à mania de interpretação, tais eram os estragos que ela provocava. (Seus primeiros discípulos da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, aliás, não escaparam a ela.) Essa mistura de psicanálise selvagem, delírio interpretativo e utilização dogmática da doutrina freudiana, para fins de explicação da realidade, manifestou-se desde muito cedo entre os que pretendiam servir-se do freudismo para fazer surgir verdades ocultas de um texto ou de um indivíduo.

O gozo interpretativo, longe de regredir diante das advertências de Freud, chegou até a aumentar de intensidade à medida que o movimento interessou-se pela clínica das psicoses e dos borderlines. Para tratar desses casos, o analista, amiúde também marcado pela loucura, era levado a manejar a interpretação em plena transferência fusional com o analisando. Daí seu caráter desenfreado. Essa paixão, que aliás foi denunciada pelos próprios psicanalistas (Edward Glover, Heinz Kohut e muitos outros), permitiu que os adversários de Freud se apoiassem em tolices publicadas por autores medíocres para apresentar a doutrina vienense como uma nova variedade de charlatanismo: vidência, astrologia, ocultismo, superstições etc.

Consciente do perigo, também Jacques Lacan, em 1958, no contexto de sua teoria do significante, tratou de revisar essa noção e sua utilização técnica. Colocou ênfase na necessidade de interrogar incessantemente, no correr da análise, o desejo do analisando, sem no entanto despejar sobre ele verdades já prontas. Mas seus discípulos, por seu turno, cederam à mania da interpretação. Enquanto os freudianos faziam surgir por toda parte símbolos sexuais e os kleinianos “adivinhavam” por trás de todo discurso o ódio arcaico à mãe, os lacanianos inventaram um novo jargão interpretativo, feito de trocadilhos, matemas e nós borromeanos.

Se a doutrina freudiana teve tanta dificuldade para se proteger dessa paixão, foi porque o mecanismo da interpretação é inerente a seu sistema de pensamento. Por isso é que Freud sempre procurou temperar a onipotência da interpretação com um outro processo: a construção.

Foi em 1937 que ele conferiu a esse termo um verdadeiro conteúdo teórico, definindo-o como uma elaboração que o analista certamente deve realizar na análise (tal como um cientista em seu laboratório) para reconstituir literalmente a história infantil e inconsciente do sujeito. Nesse aspecto, pode-se dizer que a construção é, ao mesmo tempo, a quintessência da interpretação e uma crítica da interpretação, na medida em que permite restabelecer de modo coerente a significação global da história de um sujeito em vez de se ater à apreensão de alguns detalhes sintomáticos. Freud usava permanentemente esse processo de construção, tanto em suas análises (na da Serguei Constantinovitch Pankejeff, por exemplo, durante a qual literalmente inventou a cena do “coito a tergo[1]”) quanto em suas hipóteses sobre a metapsicologia ou a pulsão de morte, ou ainda em suas obras literárias sobre Leonardo da Vinci (1452-1519) ou Moisés.

Duas correntes filosóficas comentaram a noção freudiana de interpretação. A primeira, representada por Karl Popper (1902-1994) e seus herdeiros, afirmou que a psicanálise, na medida em que não é refutável, não pode ser promovida à categoria de ciência. A segunda, próxima de Paul Ricoeur e da fenomenologia, reivindicou para o freudismo o estatuto positivo de uma hermenêutica, passível de fornecer à filosofia os instrumentos de uma verdadeira crítica das ilusões da consciência.

ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Verbete: Interpretação. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 388 a 390.

 

         Nos trabalhos de Freud sobre técnica psicanalítica, interpretar aparece como uma forma de o analista explicar o significado de um desejo (pulsão) inconsciente, que surja através de sonhos, lapsos, atos falhos, alguma resistência e na associação de ideias contidas no discurso do analisando. Surgida em A interpretação dos sonhos, embora com uma conceituação ainda embrionária, a interpretação adquiriu, e mantém até a atualidade, a condição de estar no centro da doutrina e da técnica psicanalítica.

         Visto de um vértice contemporâneo, o termo interpretação está bem adequado, levando-se em conta que o prefixo inter designa uma relação de vincularidade entre o analisando e o analista, o que é muito diferente daquela ideia clássica de que caberia ao paciente o papel de trazer seu material, e ao psicanalista, a tarefa única de descodificar e traduzi-las para o analisando.

         Em sua essência, a interpretação é entendida hoje como o resultado final da comunicação entre as mensagens, geralmente transferenciais, emitidas pelo analisando e a repercussão contratransferencial que despertam na mente do psicanalista, em três tempos: o de um acolhimento, seguida de um de transformações em seu psiquismo e, finalmente, o de devolução sob a forma de formulações verbais. (...)

         Em relação aos elementos constituintes de uma interpretação, cabe discriminar sete elementos essenciais na sua composição:

1 – O conteúdo.

2 – A forma (muito particularmente, o tom de voz do analista).

3 – A oportunidade (isto é, o timing).

4 – A finalidade (para o quê o analista está interpretando).

5 – Para quem é dirigida a intepretação (isto é, para qual personagem que está dentro do paciente e que, num dado momento, está mais à tona).

6 – A significação que determinada lembrança, sentimento ou fantasia representa para o paciente, assim como também a significação que ele empresta às palavras do paciente.

7 – Finalmente, um aspecto que pouco aparece nos textos de técnica psicanalítica e que tem uma importância fundamental consiste no destino que a intepretação vai tomar na mente do paciente.

         As modalidades de intepretação podem ser discriminadas, conforme sua finalidade nos 6 tipos:

1 – Compreensiva (acima de tudo, o paciente sentiu-se compreendido pelo analista).

2 – Integradora (juntar os aspectos do paciente dissociados, dentro e fora dele.)

3 – Instigadora (instigar o analisando a saber pensar suas experiências emocionais).

4 – Disruptora (tornar egodistônico[2] o que está egossintônico[3] no paciente, como pode ser um sintoma, um falso self, uma ilusão narcisista etc.)[4]

5 – Nomeadora (através de sua função alfa, o analista dará nomes às experiências emocionais primitivas representadas no sujeito, ainda sem nome, ou seja, como um terror sem nome, conforme diz Bion).

6 – Reconstrutora (uma espécie de costura, de reconstrução, dos sentimentos e significados contidos nos fatos passados com os presentes).

ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 116, 220, 221 e 222.



[1] Coito a tergo: penetração sexual do homem por trás.

[2] Egodistônico: conflituoso em relação ao eu.

[3] Egossintônico: harmônico em relação ao eu.

[4] Egossintonia: estado mental que o analisando tem a respeito de sua própria neurose. Frequentemente os analistas encontram uma forte forma de resistência do paciente a uma boa evolução da análise. Embora sejam evidentes seus conflitos, inibições e estereótipos, o sujeito está harmonizado com a sua deficitária qualidade de vida e sempre consegue encontrar racionalizações que lhe justificam a tese de que não tem o que mudar. Nesses casos, antes de tudo, é necessário que o analista consiga transformar em egodistônico o que está egossintônico no analisando.


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