Módulo 21

 COURAÇAS MUSCULARES, SEGUNDO REICH

 


Reich descreveu em seu texto A linguagem Expressiva da Vida, apresentado no livro Análise do caráter[1], a ordem dos segmentos da couraça muscular. Ressaltando que ao examinar os casos típicos de doenças, pôde se perceber que a couraça muscular está ordenada de forma circular, e segmentada em anéis que circundam o corpo humano, dividindo-os em sete grupos. Sendo: primeiro nível, ocular; segundo nível, oral; terceiro nível, cervical; quarto nível, torácico; quinto nível, diafragmático; sexto nível, abdominal; sétimo nível, pélvico. De acordo com essa divisão, Reich[2] (p.342) descreve que: “[...] um segmento de couraça compreende aqueles órgãos e grupos de músculos que têm um contato funcional entre si e que podem induzir-se mutuamente a participar no movimento expressivo emocional”. Portanto, a organização dos segmentos proposta por ele, se dá através da funcionalidade e capacidade expressiva das emoções.

O primeiro segmento é chamado ocular, e Reich[3] afirma que ele exerce uma função e conexão importante com os demais segmentos pela localização do encéfalo que é o centro integrador das funções somáticas. Seu encouraçamento pode afetar olhos, nariz e músculos superficiais, assim como o cérebro, quando se dá em níveis mais profundos.

O segundo segmento é chamado oral, e é composto por estruturas da boca, seus anexos e músculos da mímica facial. Durante a fase oral, a boca é o principal órgão erótico, e é entrelaçada pela relação psicoafetiva com a figura materna. Ele relaciona-se com os olhos, nariz, ouvidos, garganta e com as mãos, assim como com o aparelho digestivo e com os genitais, por representarem o segundo grande centro libidinal. O encouraçamento manifesta-se por alterações anatômicas e funcionais da boca, envolvendo musculatura, dentição e articulação temporo-mandibular, assim como perturbações alimentares[4].

O terceiro segmento, cervical, está relacionado às vértebras cervicais, músculos do pescoço e sua ligação com a cabeça, incluindo também língua e garganta. É diretamente ligada à expressão das emoções e da identidade através da fala e da apresentação da face. No encouraçamento deste segmento, a principal expressão reprimida é o grito e secundariamente o choro[5]. Trotta[6], relata que este encouraçamento pode se manifestar com alterações na voz, engasgos, coceira na garganta, náuseas, vômitos, entre outros. Apresenta-se em descontrole, insegurança e incapacidade de posicionar-se.

O quarto segmento é chamado de torácico e é composto pela caixa torácica e órgãos internos, como coração, pulmão e timo, incluindo mamas, braços e mãos. E segundo Reich[7], este segmento encontra-se no centro da couraça, por sempre haver contenção respiratória na apresentação dos encouraçamentos, mesmo sendo mais explícitos em outros segmentos. A respiração é a função mais associada ao Ego em razão do início da função pulmonar no nascimento que é originado por uma angústia respiratória. O tórax é considerado por Reich[8] a sede da identidade humana, por haver órgãos vitais e também o timo, responsável pela identidade imunológica. Considerando o quarto segmento, o centro da afetividade e emocionalidade. O encouraçamento neste segmento provoca uma diminuição da atividade respiratória, assim como a contenção do choro, da raiva e dos impulsos afetivos. O bloqueio do choro relaciona-se com resignação, medo de viver e de morrer[9].

O quinto segmento é o diafragmático, composto por diafragma e últimas costelas, estômago, duodeno, fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço, plexo solar, glândulas suprarrenais, rins, músculos da região torácica e lombar e do abdômen. Este segmento relaciona-se com os olhos, pois no nascimento dá-se início da função diafragmática e ocular, com a boca, pois recebe o alimento que será depositado no estômago, pescoço, peito, diafragma, sensações genitais, e participação da defecação e micção. O encouraçamento neste segmento provoca uma limitação da mobilidade do diafragma, e a principal emoção bloqueada é a raiva, associada ao medo[10]. Para os sintomas desse nível, Reich[11] afirma que uma característica clara do encouraçamento, é a lordose da coluna vertebral.

O sexto segmento, abdominal, é composto pelo intestino delgado e grosso, cavidade peritoneal, umbigo, músculos abdominais entre outros. Guardam uma ligação com a fase neonatal pelo funcionamento do intestino logo após a primeira mamada, guardando emoções muito primitivas e profundas. O medo desencadeia reações neste segmento, e a região do umbigo guarda memórias ligadas à vida intrauterina, e assim se conecta com o ouvido. O encouraçamento neste segmento está associada ao medo neonatal ou às sensações pélvicas[12]. Descrito por Reich[13] (p. 358), “O afrouxamento do sexto segmento da couraça é mais simples do que o de todos os outros segmentos. Depois de dissolvido, é fácil abordar a couraça do sétimo segmento”.

O sétimo e último segmento, é chamado pélvico e é composto por todas as estruturas do baixo ventre, da cintura pélvica e de todas as estruturas dos membros inferiores e apresentam duas funções fundamentais, a genitalidade e o embasamento postural. O encouraçamento pode apresentar-se em disfunções da tonicidade muscular e os principais conteúdos associados a este segmento são ansiedade de queda, angústia de castração, ansiedade pré-orgástica, e sadomasoquismo anal e fálico[14].

Ferri[15] entende os níveis corporais como áreas, onde são deixados imprintings, ou seja, deixa suas impressões, suas marcas e sinais, originados pelas relações objetais. São as áreas nas quais a vivência emocional deixa seu registro, e permitem uma leitura da história do sujeito não somente por seu psiquismo, mas também pelo modo físico de sua expressão.

O encouraçamento causa alterações nas funções e estruturas do segmento afetado, sendo chamado, portanto de ‘unidade de encouraçamento’ como descreve:

Reich observou algumas manifestações da couraça em “distúrbios como respiração curta e presa, diafragma contraído, atitude inspiratória crônica, tensão abdominal, tensões na musculatura da face responsáveis pelas expressões faciais, tensões na musculatura dos olhos, da testa, da cabeça, do pescoço, da boca e garganta, tensões na região pélvica e na musculatura dos membros inferiores. Sendo que o conjunto dessas tensões musculares está sempre relacionado com a contenção da expressão de emoções e a supressão das sensações sexuais-genitais[16].

Através da segmentação da couraça, Reich[17] indica um princípio metodológico básico da orgonoterapia que consiste em trabalhar a dissolução da couraça de cima para baixo, ou seja, do primeiro segmento da couraça em direção ao sétimo segmento, orientando o trabalho psicoterápico de desencouraçamento.

Ao se fazer uma análise biopsíquica dos segmentos, observou-se que cada elemento da couraça corresponde a um aspecto psíquico, um componente somático do mecanismo de defesa. Os eventos iniciais de encouraçamento se dão bem no começo da vida, atingindo primeiros os segmentos superiores e mais tarde os inferiores e ao se deparar com a angústia genital da puberdade o encouraçamento é reforçado de baixo para cima, ampliando a todos os segmentos, um conteúdo sexual-genital, estruturando a couraça em sua forma final, trazendo o entrelaçamento dos diversos bloqueios, de diversas fases da vida[18].

Navarro[19] afirma que através dos níveis propostos por Reich[20], é possível localizar os aspectos psicológicos bloqueados, manifestados corporalmente, e através da verbalização. A terapia reichiana se baseia na relação de contato com o outro e consigo mesmo, logo, a sensação é o estimulo produzido pela emoção, caracterizado pelo movimento do interior para o exterior (ex-movere).

ROCHA, Carla Nascimento Doro. RIBEIRO, Anna Costa Pinto. BARBOSA, Heloisa Soares. CADERNOS DE PSICOLOGIA, Juiz de Fora, v. 2, n. 4, p. 139-161, jul./dez. 2020 – ISSN 2674-9483



[1] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes. 1998.

[2] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[3] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[4] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[5] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[6] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia. Rio de Janeiro: Cortesia Raízes, 1996.

[7] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[8] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[9] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia.

[10] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia.

[11] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[12] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia.

[13] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[14] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia.

[15] FERRI, Genovino; CIMINI, Giuseppe. Psicopatologia e caráter: A psicanálise no corpo e o corpo na psicanálise. São Paulo: Escuta, 2011.

[16] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia. p. 24-25.

[17] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.

[18] TROTTA, Ernani Eduardo. Psicossomática Reichiana e Metodologia da Orgonoterapia.

[19] NAVARRO, Federico. Metodologia da vegetoterapia caractero-analítica: sistemática, semiótica, semiologia, semântica. São Paulo: Summus, 1996.

[20] REICH, Wilhelm. Análise do Caráter.


Todo organismo vivo responde às ações e agressões do mundo exterior fabricando um invólucro protetor: cortiça, membrana, pele, pelo e carapaça: processo vital e universal de adaptação biológica. Quando a pressão do meio ambiente se toma mais brutal e perigosa, se produz em certos organismos elementares, como os infusórios ciliados[1], um notável fenômeno de defesa, o enquistamento: sob o eleito, por exemplo, de uma dissecção, o infusório se encolhe e se encerra dentro de uma película resistente e impermeável, toma uma forma esférica, perde sua habitual motilidade e adota um ritmo de vida extremamente lento, que provoca uma não-diferenciação dos organitos[2].

Este duplo processo de defesa - formação de um invólucro protetor que preserva das relações normais permanentes com o mundo exterior e endurecimento seguido de encerramento num quisto[3] para sobreviver num estado degradado à agressão dura e traumatizante do meio - oferece uma espécie de modelo biológico primário do conceito de couraça proposto por Reich: além disso, fica perfeitamente clara a sua função preponderante, vital, de defesa e distinguem-se nitidamente as duas grandes formas entre as quais oscila o conceito reichiano; de um lado, a forma adaptativa normal ou sadia, que se expressa através de relações dinâmicas, positivas, eficazes e satisfatórias com o meio e que se define pelo grau ótimo de expressão energética do indivíduo; e, de outro, a forma mórbida ou biopática[4], caracterizada por relações falseadas, deformadas, penosas, reduzidas, com o mundo exterior e que con­siste principalmente num encolhimento vital que já é quase uma presença da morte.

Ao assinalar de entrada estes dois polos de significação, resiste-se melhor à conotação pejorativa veiculada pela metáfora da couraça (em alemão, Panzer, em inglês Armour - que se pode traduzir também por Armadura) e mantém-se uma ambivalência semântica que talvez expresse melhor que qualquer sentido unívoco a realidade concreta do fenômeno.

Em sua intensa atividade psicanalítica dos anos vinte, Reich enfrenta, como os outros analistas, o problema da transferência “negativa”, da oposição inconsciente do paciente aos progressos e ao êxito da cura analítica; comprova, além disso, que os progressos são muito magros e os sucessos quase inexistentes, mesmo quando os sintomas neuróticos parecem ter sido corretamente explicitados e resolvidos e ainda que o material inconsciente reprimido tenha sido posto em evidência e interpretado frequentemente com vigor e que as experiências infantis consideradas cruciais em boa teoria freudiana - cena originária, traumatismos sexuais, conflitos edipianos etc. - tenham sido bem desentranhadas e bem percebidas pelo sujeito...

Há pacientes dóceis, corteses, aplicados, que cooperam no mais alto grau e trazem montes de material para interpretar - e a análise não avança um palmo! Não será, então, esta maneira de ser que causa em si mesma o obstáculo, a barreira, para o trabalho analítico? E se as defesas mais sutis e mais eficazes contra a análise se localizarem nos próprios traços de caráter, até então insuspeitos porque constituíam aos olhos de todos o temperamento, a personalidade, a própria natureza do sujeito? É com uma mesma intuição global - um mesmo insight (penetração, golpe de vista) de acordo com este excelente termo inglês - intensamente requerida pelas dificuldades técnicas da análise e ativamente preparada por uma autocrítica e por uma crítica permanentes das curas efetuadas que Reich apreende estes três fatores: as resistências caracteriais, a estrutura caracterial, a couraça caracterial – triplo e único fenômeno do caráter cercado por formas intercambiáveis, sendo a escolha de uma ou de outra determinada por razões táticas, pela forma de enfoque, pelo ângulo de ataque. Reich fala de preferência em resistência no trabalho cotidiano específico, no qual se deve proceder por etapas e localizações concretas; de estrutura quando se envolve era generalizações e desenvolvimentos teóricos; de couraça em uma perspectiva operativa ampla, uma estratégia que não se limita ao domínio psicológico, mas que engloba tanto os aspectos biológicos mais primitivos (economia celular) como as formas políticas e culturais mais elaboradas (problema da peste emocional[5]).

O predomínio operativo do conceito de couraça ou armadura - termos emprestados ao mundo militar, à realidade bélica - suscita na linguagem reichiana todo um armamento verbal de metáforas militares: posto que “a couraça caracterial representa a soma de todas as forças de defesa repressivas”, que é a última fortaleza na qual o sujeito se entrincheira para organizar da melhor maneira possível as suas resistências, então ela se torna o alvo preferido da intervenção analítica, que fixa como objetivos atacar, desarmar, desmantelar, eliminar e destruir esta couraça, correndo o risco inevitável, por outro lado, de que o sujeito, desalojado de seus refúgios, converta-se em presa do pânico e do terror, e contra-ataque com ódio, violência e desespero, lançando as forças de que dispõe contra outro ou contra si mesmo. Assim, prevalece às vezes a impressão de que o instrumento linguístico, o meio metafórico, o significante “couraça”, conduz a análise além do que é legítimo no trabalho prático e sobretudo introduz uma iluminação, um jogo de reflexos metálicos e um ruído de armas tinindo e de placas blindadas que podem ser perigosos, quando não se acompanhou Reich suficientemente em suas descrições e análises concretas, precisas, matizadas, sutis e respeitando a diversidade e a pluralidade dos planos e das contradições - para adestrar-se na percepção do fenômeno. (...)

As observações, análises e interpretações de Reich concernentes à estrutura e às resistências caracteriais valem também para a couraça. O primordial, lembramos, é a função de defesa, ao mesmo tempo contra o mundo exterior e contra as forças pulsionais internas. Essa dupla oposição faz da couraça um lugar permanente de contato, confronto, enovelamento, compromisso e equilíbrio entre a realidade externa e a realidade interna. Reich tinha a tendência de privilegiar exageradamente a função defensiva da couraça; ora, pelo próprio fato de que se levanta contra dois sistemas de realidade antagônicos, não está somente contra, mas também entre, quer dizer que ela chega necessariamente a assumir uma função de ordenação, de organização e de controle das relações que ligam os dois sistemas em questão.

Sendo o caráter a “soma das experiências passadas do sujeito”, essas experiências subsistem, acumulam-se, depositam-se em camadas estratificadas na couraça. Esta “estratificação do encouraçamento” (Panzerschichtung) é comparável “às estratificações geológicas ou arqueológicas, que são (...) história solidificada”. História sólida que Reich toma solidamente ao pé da letra: as experiências infantis, os conflitos, as repressões, as frustrações e as cargas energéticas que se ligam a eles formam depósitos, deixam traços precisos, fixam-se, para dizer tudo, no organismo, e o sistema muscular constitui o lugar privilegiado para tais fixações, para tais inscrições. O músculo é ao mesmo tempo suporte material e código binário (tonicidade crescente ou decrescente) com os quais se escreve a história do indivíduo. Reich insiste nisto incansavelmente: "Todo acréscimo da tonicidade muscular no sentido de uma rigidez maior assinala a ligação com uma excitação vegetativa: angústia ou sexualidade” ou ainda em que: “A hipertensão muscular crônica traduz uma inibição de alguma excitação, quer se trate de prazer, quer de angústia ou de ódio”. Inibir a excitação sexual, ligar a angústia, bloquear a agressividade é a própria função de defesa da couraça: portanto, existe “identidade da couraça caracterial e da hipertensão muscular”. Levada a um limite extremo, a “couraça caracterial total” manifesta-se pela “rigidez total dos estados catatônicos”. (...)

Esta fórmula abre (...) a perspectiva sócio-política e ideológica de um adestramento cultural, do qual a couraça é o produto, o arraigamento orgânico, a forma musculada, se é que se pode falar assim - adestramento que a couraça repassa, por sua vez, de geração a geração (tradição, educação, valores), quando pais e adultos encouraçados infligem às crianças frustrações repletas de renúncia e repressão, causam “traumatismos ontogenéticos”, segundo a expressão de Géza Roheim, que se encontram na origem das retenções, atitudes caracteriais, estases energéticas, bloqueios afetivos e outros modos de vivência orgânica constitutivos da couraça (...).

Reich define o segmento de couraça como o conjunto de “todos os órgãos e grupos de músculos que mantêm um contato funcional entre si, capaz de fazê-los participar do movimento expressivo”. Quando esse movimento expressivo não alcança os órgãos vizinhos, é porque estes pertencem a um outro segmento. A descrição dos diferentes segmentos esboçada por Reich abrange, pois, além dos principais elementos orgânicos colocados em jogo, a indicação das expressões específicas de que são portadores, e que se manifestam com particular nitidez nos sujeitos fortemente encouraçados, neuróticos e psicóticos, que Reich cita com mais frequência em sua perspectiva terapêutica, preconizando a eliminação da couraça segmento por segmento e o restabelecimento das correntes plasmáticas. A couraça muscular se decompõe nos seguintes anéis ou segmentos:

- segmento ocular: testas, olhos, região dos ossos malares; a atitude caracterial dominante exprime-se por uma imobilidade (“testa inexpressiva”) e por uma falta de expressão (olhar vazio ou fixo, ausência de choro), proporcionando um aspecto de máscara;

- segmento oral: lábios, queixo, garganta; as expressões afetivas correspondentes são: “a vontade de chorar, de morder furiosamente, de vociferar, de chupar etc.” e dependem da “livre mobilidade” do segmento anterior;

- segmento cervical: músculos profundos do pescoço, subclavicular e esternoclidomastóideo; sinal característico: os movimentos do pomo-de-adão mostram “como um impulso de raiva ou de dor é literalmente ‘tragado’, sem que o paciente tenha consciência disto; “tragar” as emoções pode ter um antagonismo no reflexo vomitório;

- segmento torácico: músculos intercostais, grandes peitorais, deltoides e subclaviculares; “a couraça torácica exprime em primeiro lugar o “autocontrole” e a “reserva” - bem como “despeito” e “obstinação”; vê-se a importância da inspiração, que constitui “o meio mais poderoso para bloquear todo tipo de emoção”; as principais emoções ligadas a este segmento são a “raiva”, as “crises de choro”, os “soluços”, as “nostalgias devoradoras”; os gestos expressivos dos braços e das mãos estão unidos à couraça torácica, responsável por atitudes de “embaraço”, “dureza”, “inacessibilidade”; a ela se ligam também a sensação de ter um “nó” no peito, de que se queixam certos pacientes. Levando mais longe sua análise das mensagens caracteriais inscritas na musculatura, Reich propõe algumas sugestivas e saborosas leituras das tonicidades musculares; por exemplo, “entre as duas omoplatas, na zona do trapézio, encontram-se dois feixes musculares particularmente sensíveis, cuja couraça dá a impressão de um despeito reprimido: juntando-se à retração dos ombros, parece expressar esta pequena frase: “Eu não quero!”;

- segmento diafragmático: diafragma, epigástrico, parte inferior do esterno, costelas inferiores, estômago, plexo solar, pâncreas, fígado, e dois feixes musculares próximos às vértebras dorsais inferiores; forte curvatura inferior da coluna vertebral; atitude de oposição à expiração e, de modo geral, à pulsação do diafragma, o que provoca sensações de prazer ou de angústia; a couraça diafragmática é particularmente difícil de eliminar;

- segmento abdominal: os músculos que o constituem - abdominais, laterais, músculos que acompanhara a região correspondente à coluna vertebral - dão a impressão, quando apalpados, de feixes rígidos, dolorosos, sensíveis ao menor contato; de todas a couraça abdominal é a mais fácil de reduzir.

- segmento pélvico: compreende praticamente todos os músculos da pélvis; esta se encontra retraída, curvada para trás, inexpressiva, “morta”; “esta falta de expressão, diz Reich, é a expressão emotiva da assexualidade”; a penúria de sensações e de excitações vem acompanhada por numerosos sintomas patológicos extremamente disseminados, tais como a constipação, o lumbago, os diversos tumores e inflamações que afetam os órgãos desta região - reto, útero, bexiga, uretra etc.

DADOUN, Roger. Cem flores para Wilhelm Reich. São Paulo: Editora Moraes, 1991. p. 129 a 137.



[1] Infusórios ciliados: organismos unicelulares com cílios, isto é, tentáculos por meio dos quais alimentam-se e investigam o entorno.

[2] Organito: cada um dos elementos que compõem a célula.

[3] Quisto: película ou capa protetora criada como resistência por certos organismos unicelulares.

[4] Biopatia: termo criado por Reich que significa “doença provocada por perturbações no ritmo biológico de pulsação da vida”.

[5] Peste emocional: para Reich, biopatia (doença psicofísica) crônica do organismo com causas sociais e históricas.




Nenhum comentário:

Postar um comentário