Módulo 25

TÉCNICA ATIVA




Método preconizado por Ferenczi a partir de 1919, a técnica ativa consiste em formular ao paciente, em certos momentos de estagnação do tratamento, injunções ou proibições a respeito de suas condutas, de modo a provocar variações de tensão no aparelho psíquico, com o objetivo de reativar o processo e favorecer a elucidação do material recalcado.

Só o paciente é encorajado a cumprir certas ações, mantendo-se o psicanalista, por seu lado, inativo e atento ao surgimento de novo material mnésico nas associações do paciente. O processo, por conseguinte, serve como “coadjuvante” para precipitar o aparecimento de novas associações cuja interpretação continua sendo, como na técnica clássica, a principal tarefa da análise. (...)

“É ao próprio Freud que devemos o protótipo da técnica ativa”, escreveu Ferenczi em 1919. Ele observou, com efeito, que no início da descoberta freudiana, o método catártico era uma técnica de grande “atividade” por parte tanto do analista quanto do paciente. Tratava-se, nessa época, de fazer pressão, de despertar as lembranças, a fim de obter a ab-reação dos afetos bloqueados. Sucedeu-lhe tempos depois, a técnica das associações livres, método não-diretivo baseado na receptividade e na escuta, de certo modo “passivo”, do analista.

Entretanto, recorda Ferenczi, foi no decorrer do desenvolvimento da técnica analítica que Freud foi levado, durante as análises de histeria da angústia, a exigir de seus pacientes que enfrentassem diretamente as situações críticas que lhes suscitavam angústia, e isso não para as habituar a suportar situações angustiantes mas para “represar as vias inconscientes habituais de escoamento da excitação e obter, por coação, o investimento pré-consciente, assim como a versão consciente do recalcado.”

Ferenczi foi, portanto, levado, na esteira de Freud, a romper, em certos momentos do tratamento, com a atitude receptiva e passiva do analista acolhendo o material associativo de seus pacientes, para intervir “ativamente” ao nível dos mecanismos psíquicos deles.

“Os pacientes, apesar de uma observância da ‘regra fundamental’ e de uma profunda penetração em seus complexos inconscientes, não chegavam a superar certos pontos mortos da análise enquanto não eram incitados a ousar sair do seguro abrigo constituído por sua fobia e a expor-se, a título de ensaio, à situação de que haviam fugido com angústia em virtude do seu caráter penoso. Como era de esperar, essa tentativa provocava um agudo acesso de angústia. Entretanto, ao se exporem a esse afeto, superavam a resistência contra uma parte do material inconsciente até então recalcado, que a partir daí tornava-se acessível à análise sob forma de ideias e lembranças” (Ferenczi, Prolongamentos da ‘técnica ativa’ em psicanálise, 1921). “Daí em diante, escreve ainda Ferenczi, foi esse o procedimento que resolvi designar pelo termo de ‘técnica ativa’, que, por conseguinte, significava uma intervenção ativa muito menos por parte do médico do que por parte do paciente, ao qual era agora imposta, além da observância da regra fundamental, uma tarefa particular. No caso das fobias, essa tarefa consistia em realizar certas ações desagradáveis”.

Assim, “estimulando o que estava inibido e inibindo o que não estava”, ao pedir ao paciente para renunciar a certas satisfações e aconselhando-o a realizar certos atos desagradáveis, Ferenczi esperava provocar um recrudescimento da tensão psíquica, uma nova repartição da economia libidinal e, portanto, permitir que um novo material mnésico ficasse acessível e contribuísse, no fim das contas, para acelerar o curso da análise.

A técnica ativa tem assim, para Ferenczi, um papel de “agente provocador”, sendo as injunções e proibições utilizadas tão-só como “coadjuvante” para favorecer a repetição que deverá ser, em seguida, interpretada ou reconstruída em lembrança.

Depois, Sándor Ferenczi virá a fazer sérias reservas quanto à utilização da técnica ativa. Mal utilizada, ou mal empregada por psicanalistas principiantes, esse método corre o risco, sobretudo, de exacerbar as resistências do paciente e de perturbar o desenvolvimento da transferência. Corre o risco de acabar por reforçar o masoquismo do paciente, organizando a sua submissão. Ferenczi questionará, inclusive, a decisão de fixar arbitrariamente um término do tratamento.

Progressivamente, Ferenczi distancia-se então, sobretudo depois do seu estudo crítica “Contra-indicações da técnica ativa” (1926), de uma conduta autoritária do tratamento fundada na frustração e abstinência, para introduzir as novas noções de “elasticidade”, ou seja, de paciência e empatia, e de “relaxamento”. Ela mencionará até (em “Confusão de língua entre os adultos e a criança”) os “traços agressivos” da técnica ativa tendo em vista
“forçar o relaxamento do paciente”.

Não é mais ao analista, mas ao paciente, que compete determinar o momento oportuno da “atividade”, ou seja, o momento em que os progressos suficientes do tratamento lhe permitirão abordar ele próprio a obrigação de renunciar às satisfações neuróticas e superar suas inibições.

Em “Análise terminável e interminável”, Freud (1937) rejeita com a maior firmeza toda intervenção do psicanalista ao nível da realidade material, na intenção de fazer progredir a análise ou de fazer aparecer artificialmente uma transferência negativa que não se tivesse ainda manifestado.

MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional da psicanálise. Vol. II – M-Z. Rio de Janeiro: Imago, 2005. Verbete Técnica ativa. p. 1842 e 1843.


Conjunto de processos técnicos recomendados por Ferenczi: o analista, não limitando mais a sua ação às interpretações, formula injunções e proibições a respeito de certos comportamentos repetitivos do analisando, no tratamento e fora dele, quando eles proporcionam ao sujeito satisfações tais que impedem a rememoração e o progresso do tratamento. 

A ideia e a expressão “técnica ativa” estão associadas na história da psicanálise ao nome de Sandor Ferenczi. Falou dela pela primeira vez a respeito de formas de masturbações latentes, sutis encontradas na análise de casos de histeria, e que conviria proibir; efetivamente, o paciente “...corre o risco de referir a elas as suas fantasias patogênicas e de interromper constantemente o caminho destas pela descarga motora, em vez de levá-las à consciência”. Ferenczi mostra que o recurso a essas interdições destina-se apenas a facilitar a ultrapassagem dos pontos mortos do trabalho analítico; refere-se, por outro lado, ao exemplo de Freud, que, em determinado momento da análise dos fóbicos, lhes prescrevia que enfrentassem a situação fobogênica. 

No Congresso de Haia, em 1920, Ferenczi, encorajado pela aprovação de Freud, que no Congresso de Budapeste em 1919 tinha formulado a regra de abstinência, apresenta uma descrição de conjunto da sua terapêutica ativa. Ela compreende duas fases que devem permitir a ativação e o controle das tendências eróticas, ainda que sublimadas. A primeira fase é constituída por injunções destinadas a transformar moções pulsionais recalcadas numa satisfação manifesta e a fazer delas formações plenamente conscientes. A segunda é constituída por proibições que incidem nessas mesmas formações; o analista pode então ligar as atividades e os afetos evidenciados pela primeira fase a situações infantis. 

Teoricamente, o recurso às medidas ativas justificar-se-ia do seguinte modo: ao contrário do método catártico, em que o aparecimento de uma lembrança induz uma reação emocional, o método ativo, provocando a atuação e a manifestação do afeto, facilita o retomo do recalcado. “Pode acontecer que certos conteúdos infantis precoces [...] não possam ser rememorados, mas apenas revividos.” 

Tecnicamente, Ferenczi acha que não convém recorrer às medidas ativas a não ser em casos excepcionais, durante um tempo muito limitado, só quando a transferência se tornou uma compulsão, e essencialmente no fim do tratamento. Por fim, sublinha que não pretende modificar a regra fundamental; os “artifícios” que propõe são destinados a facilitar a sua observância. 

Mais tarde, Ferenczi iria ampliar consideravelmente o campo de aplicação das medidas ativas. Numa pequena obra escrita em colaboração com Otto Rank, Entwicklungsziele der Psychoanalyse (Os objetivos de desenvolvimento da psicanálise, 1924), apresenta uma interpretação em termos libidinais do processo do tratamento segundo a qual seria necessário recorrer a medidas ativas (fixação de um termo ao tratamento) particularmente na última fase (“desmame da libido”) 

Numa última etapa da sua evolução, Ferenczi iria corrigir esta maneira de ver. As medidas ativas aumentam consideravelmente as resistências do paciente; ao formular injunções e proibições, o analista desempenha o papel de um superego parental, e mesmo de um professor; quanto à fixação de um termo ao tratamento, os fracassos encontrados mostram que convém recorrer a ele raramente e, como com qualquer outra medida ativa eventual, apenas de acordo com o paciente e com a possibilidade de renunciar a ela. Finalmente, Ferenczi é levado a abandonar as medidas ativas: “...devemos contentar-nos com interpretar na atuação as tendências escondidas do doente e apoiá-lo nos fracos esforços que faz para superar as inibições neuróticas de que sofria até então, mas isto sem o obrigar a tomar medidas violentas, e mesmo sem aconselhá-las. Se formos suficientemente pacientes, o próprio doente abordará a questão de determinado esforço a fazer, por exemplo desafiar uma situação fóbica. [...]. É ao próprio doente que cabe decidir o memento da atividade, ou pelo menos fornecer indicações evidentes de que esse momento chegou”. 

É frequente contrapor-se a técnica ativa à atitude puramente “expectante”, passiva, que o método analítico exigiria. Na realidade, esta oposição é forçada; por um lado, porque Ferenczi não deixou de considerar as medidas que preconizava como um auxiliar, e não uma variante do método analítico; por outro lado, porque este não exclui uma certa atividade por parte do analista (perguntas, espaçamento das sessões, etc.), e a própria interpretação é ativa na medida em que altera necessariamente o curso das associações. O que especificaria a técnica ativa seria a importância que dá à repetição, na medida em que Freud a contrapôs à rememoração; para superar esta compulsão à repetição e tornar finalmente possível a rememoração, ou pelo menos o progresso do trabalho analítico, pareceu necessário a Ferenczi não apenas permitir como encorajar a repetição. E este o elemento propulsor real da técnica ativa.

LAPLANCHE e PONTALIS. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2016. p. 502 e 503.




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FERENCZI, REICH E A TÉCNICA ATIVA

 

Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919)

O artigo que inaugura a formulação clínica conhecida como técnica ativa contém, num estilo tanto circunstanciado como reflexivo, o relato de um atendimento no qual Ferenczi, frente a uma longa ausência de melhora no estado de uma paciente, expõe as medidas inovadoras tomadas, as razões que as embasaram, os efeitos alcançados e o rendimento teórico obtido.

Em síntese, o autor conta que, a partir de uma fala da analisanda de que ela tinha "sensações por baixo"[1], um olhar fortuito permitiu notar que ela, deitada no divã, permanecia com as pernas cruzadas e apertadas, de forma a efetuar, de maneira disfarçada, uma atividade masturbatória na sessão de análise. Entendendo que essa prática sexual possibilitava descarregar moções inconscientes, numa ação direta na motilidade, em vez de um trabalho voltado para a tomada de consciência, ele, depois de explicar tal compreensão à paciente, a proibiu de continuar com aquele comportamento.

Comentando essa interdição relatada por Ferenczi, Mezan[2]  insere uma ponderação que, pelo seu ângulo original de leitura, voltado para os aspectos contratransferenciais, merece ser citada. Lembrando que a paciente parou o trabalho de análise por três vezes, o psicanalista brasileiro supõe um desejo no húngaro de que ela fizesse a análise, assim sendo, a proibição formulada carregaria o seguinte recado: "a libido que está nas tuas pernas tem que ser dirigida a mim, Ferenczi!"[3]. Com todo envolvimento do terapeuta húngaro com a melhora de seus pacientes, difícil não imaginar a presença de desejos no sentido de que os analisandos se engajassem profundamente nos atendimentos e realizassem suas análises. Em nosso comentário, ficaremos até aí.

Segundo Ferenczi, como resultado da medida de interdição, a analisanda passou a manifestar acentuada agitação física e psíquica durante as sessões, processo de onde finalmente emergiram fragmentos de lembranças que, aos poucos, se reuniram em torno de certos acontecimentos de sua infância e revelaram as circunstâncias traumáticas mais relevantes de sua enfermidade.

Porém, ainda de acordo com a narrativa do autor, após uma significativa melhora no estado geral da analisanda, outro período de estagnação se impôs, implicando, com isso, numa cristalização dos trabalhos no patamar recém-alcançado. Procurando investigar as razões dessa nova acomodação, eles apuraram que a paciente, de forma imperceptível, erotizava a maioria de suas atividades de dona de casa, apertando as pernas e abandonando-se a fantasias inconscientes, tal como fazia nas sessões. Para lidar com a situação descoberta, Ferenczi ampliou a interdição para além das sessões, mas o progresso verificado também foi momentâneo. A seguir, ele observou que, com o cerceamento das maneiras de satisfação que funcionavam como escapes do árduo processo clínico, atos sintomáticos da paciente, como beliscar diversas partes do corpo, tornaram-se equivalentes ao onanismo.

Por fim, com o quadro todo delineado, a analisanda compreendeu que, devido às dificuldades no caminho da genitalidade verificadas numa certa época do seu desenvolvimento, ela passou a descarregar sua sexualidade em uma série de hábitos menores dissimulados. O artigo, no que diz respeito ao relato do caso clínico, termina com o analista húngaro indicando a progressiva satisfação alcançada pela paciente por meio de relações sexuais, algo anteriormente não presente, ao mesmo tempo em que "vários sintomas histéricos ainda não resolvidos encontraram sua explicação em fantasias e lembranças genitais que se tornaram agora manifestas"[4].

Na parte final do escrito, Ferenczi discute determinados aspectos teóricos vinculados ao caso clínico exposto e, também, procura associar o protótipo de sua "técnica ativa" a procedimentos já adotados por Freud. Passemos a focalizar tais conteúdos.

De início, ele procura esclarecer uma hipotética contradição entre a sua intervenção no sentido de cercear a prática masturbatória realizada pela paciente e o que a literatura psicanalítica tem sustentado em relação ao onanismo, ou seja, uma prática não vista como prejudicial. A coerência de seu procedimento psicanalítico é explicada por meio de uma distinção conceitual entre a prática masturbatória não danosa, aquela mobilizada pela privação e acompanhada de fantasia erótica consciente, e as múltiplas maneiras de atividade que funcionam como vias inconscientes e habituais de escoamento da excitação. No caso dos homens, como exemplo de prática não sadia, o autor cita o comportamento dos que tendem a ficar com as mãos nos bolsos apertando e tocando os genitais. Assim, na teorização do analista húngaro, a depender da forma de onanismo, uma provisória injunção proibitiva pode ser empregada como intuito de

"barrar as vias inconscientes de escoamento à excitação psíquica para obrigá-la, graças ao 'aumento de pressão' da energia assim obtido, a vencer a resistência oposta pela censura e a estabelecer um 'investimento estável' por meio dos sistemas psíquicos superiores"[5].

E quanto à denominação "técnica ativa", tendo por base o artigo de Ferenczi em questão, o que pode ser dito? Ampliando o que já afirmamos sobre o assunto, ao que parece, a palavra "ativa", que qualifica a técnica, foi escolhida por se tratar do antônimo de "passiva", postura usualmente associada ao papel do psicanalista na situação clínica. Contudo, para uma pertinente vinculação do nome à técnica, cabe um acréscimo explicativo a respeito da atividade exercida pelo analista nessa orientação. Em linhas gerais, em contextos de atendimentos muito particulares, marcados pela estagnação do processo, o psicanalista pode introduzir injunções - e essa é a sua atividade - destinadas a aumentar a tensão no analisando. Essas proibições, na realidade, interdições de formas habituais de satisfação do analisando, portanto, algo que sempre leva a alguma frustração, geram um incômodo que, por sua vez, tende a alterar a estagnação presente e ampliar o investimento do paciente no trabalho de análise por meio de seus sistemas psíquicos superiores. Em síntese, a ação do analista, a interposição de medidas frustrantes, visa interferir no momentâneo estado de passividade do analisando, ou, em outros termos, as proibições do analista objetivam promover a atividade do paciente.

Nas palavras de Ferenczi fica patente que ele lançou mão de alterações na habitual postura do analista como uma busca, um meio de encontrar saídas para lidar com a paralisia que insistia em se impor no atendimento efetuado. Assim esse construtor da clínica se expressa:

“Neste caso, fui levado a abandonar o papel passivo que o psicanalista desempenha habitualmente no tratamento, quando se limita a escutar e a interpretar as associações do paciente, e ajudei a paciente a ultrapassar os pontos mortos do trabalho analítico intervindo ativamente em seus mecanismos psíquicos”[6].

No que tange à vinculação das suas formulações técnicas ao campo freudiano, Ferenczi observa que, na análise de histerias de angústia, Freud, também visando encontrar saídas para períodos de estagnação no processo analítico, recorreu a medidas indicativas aos pacientes, mais especificamente a determinações para que estes enfrentassem as situações críticas geradoras de angústia. Qual seja, de maneira similar à sua, Freud, com essa atitude, buscava "barrar as vias inconscientes e habituais de escoamento da excitação e de obter por coação o investimento pré-consciente, assim como a versão consciente do recalcado"[7]. Assim, o analista húngaro procura mostrar que o seu atual procedimento técnico teria precedente no fazer clínico de Freud e, também, a mesma sustentação conceitual como base.

Além da temática vinculada ao domínio da técnica psicanalítica, outro importante conteúdo desse artigo de Ferenczi refere-se à maneira como o autor demonstra compreender a sexualidade e o seu desenvolvimento. Nesse território, o prisma quantitativo a respeito de uma energia (a libido) ganha relevo e, também, salta aos olhos um quadro em que a genitalidade parece meta do desenvolvimento psicossexual. Tal orientação enreda de forma capilar o texto e é assim expressa no último e conclusivo parágrafo do trabalho:

“Um exemplo como este mostra-nos, uma vez mais, não serem simples 'energias psíquicas' as que estão em ação na histeria, mas forças libidinais, mais exatamente, forças pulsionais genitais; e que cessa a formação de sintomas se conduzir para os órgãos genitais a libido utilizada de maneira anômala”[8].

Apresentada a nossa leitura do artigo de Ferenczi que inaugurou a técnica ativa, Dificuldades técnicas de uma análise de histeria, cabe agora indagar: quais relações conceituais podem ser estabelecidas entre esse trabalho do analista húngaro e o enfoque teórico desenvolvido por Reich?

Em primeiro lugar, chama a atenção no relato de Ferenczi o papel relevante que o ponto de vista econômico desempenhou no atendimento efetuado. Mais especificamente, as orientações proibitivas do analista constituíram meios de procurar intervir nas formas habituais que a paciente tendia a descarregar libido. Por tudo o que já foi exposto neste estudo, desnecessário repetir a importância decisiva que o ponto de vista econômico, aquele voltado para a quantidade energética dos fenômenos, exerceu na abordagem teórica de Reich. Também nessa linha de clara aproximação entre o veterano e o jovem psicanalista, nota-se no caso clínico apresentado pelo húngaro uma orientação conceitual que sugere enxergar na atividade sexual-genital, por meio de relações sexuais, a presença de um desenvolvimento psicossexual que se completou. Não vamos, por enquanto, aprofundar a análise desse tema - a visão de cada um desse dois autores a respeito da genitalidade -, pois ele ainda vai aparecer de maneira mais nítida na produção de Ferenczi sobre a técnica ativa.

Até o momento, apontamos duas aproximações entre o texto de Ferenczi[9] e o enfoque depois desenvolvido por Reich, grosso modo: o considerável valor atribuído ao ponto de vista econômico e à genitalidade. Sem dúvida, esses dois fatores, em função de constituírem importantes alicerces teóricos das abordagens dos dois autores, possibilitam prismas de análise que servem para olhar fenômenos vinculados a diversos campos de aplicação, o que atesta a relevância conceitual dos mesmos. Porém, eles não dizem respeito, de maneira mais particular, às estratégicas empregadas no trabalho clínico.

Já terreno do arsenal técnico utilizado por Ferenczi, no caso apresentado há um procedimento que precisa ser destacado e comentado: as injunções do analista, sempre no sentido de barrar a habitual satisfação masturbatória da paciente (o escoamento de libido que a ação sexual gerava), visavam ocasionar um "aumento de pressão'" e, com isso, "vencer a resistência oposta pela censura"[10]. Em termos mais completos, em situações do atendimento marcadas pela estagnação, nas quais as defesas estavam preponderando, Ferenczi agia no sentido de ocasionar um momentâneo aumento na carga energética da paciente. Tal ação produzia um desequilíbrio energético, um estado de incômodo que acabava catalisando os "sistemas psíquicos superiores" (p. 7); ou seja, fomentava a atividade analítica da analisanda. Além disso, ao que parece, o incremento na carga energética afetava as defesas estabelecidas, ou, no mínimo, tornava mais explícito o conflito de forças existente. Portanto, uma medida técnica empregada pelo analista húngaro consistiu em aumentar a carga energética da paciente com o intuito de promover o trabalho de análise. E qual a relação entre essa orientação realizada por Ferenczi ainda em 1919 com o fazer clínico desenvolvido por Reich?

A resposta a essa indagação comporta duas observações. Se considerarmos apenas o fator aumento da carga energética, não resta dúvida de que Reich pautou boa parte de sua ação clínica por essa medida. Aumentar a carga energética consistiu em um recurso central do terapeuta aproximadamente a partir de meados da década de 1930, na Vegetoterapia Carátero-Analítica e na Orgonoterapia, e também integrou terapias psicocorporais associadas ao campo reichiano, sobretudo a Análise Bioenergética. Entretanto, se há essa afinidade, é importante assinalar que no domínio reichiano a medida adotada para gerar o aumento de carga energética sempre envolveu, basicamente, um trabalho com a respiração, e não injunções no sentido de barrar determinados comportamentos dos pacientes. Assim, por exemplo, em A função do orgasmo[11], ao discorrer sobre o papel desempenhado pela respiração reduzida[12] na manutenção do estado neurótico, Reich afirmou:

“[na] respiração reduzida, absorve-se menos oxigênio; de fato, apenas o suficiente para a preservação da vida. Com menos energia no organismo, as excitações vegetativas são menos intensas e, pois, mais fáceis de controlar. Vista biologicamente, a inibição da respiração nos neuróticos tem a função de reduzir a produção de energia no organismo e de reduzir assim a produção de angústia.”[13]

         Apontadas as aproximações e afastamentos existentes entre esse primeiro artigo de Ferenczi dedicado à técnica ativa e o pensamento de Reich, vejamos o que nos aguarda em seguida.

 

Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise (1921).

Na comunicação apresentada em 1920 no VI Congresso da Associação Internacional de Psicanálise, realizado em Haia, e publicada no ano seguinte - Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise[14] -, Ferenczi retoma pontos já presentes no escrito que inaugurou a técnica ativa, insere novos aspectos, adensa a fundamentação teórica e, por meio de exemplos, expõe uma ampliação de suas intervenções. Trata-se de um trabalho que revela a presença de um autor que investe no caminho adotado, alguém que, de maneira aberta, explicita e avalia o processo de experimentação e formulação clínica em curso.

De início, a fim de mostrar que as suas atuais indicações técnicas constituem um desenvolvimento plenamente alicerçado na mais pura tradição psicanalítica, Ferenczi lança mão de uma série de argumentos. Na verdade, mais do que a simples defesa de uma vinculação, o autor promove uma reflexão sobre a dimensão ativa que o atendimento psicanalítico inevitavelmente comporta. Em outras palavras, para ele, a clínica psicanalítica, em algum grau, sempre foi efetuada por meio de uma orientação ativa. Assim, por exemplo, na pré-história da psicanálise, a atividade marcou o método catártico de Breuer e Freud; de outra parte, mesmo no período da técnica consagrada, a própria interpretação representa uma intervenção ativa, pois orienta o pensamento do paciente "numa certa direção e facilita a emergência de ideias que, de outro modo, a resistência não teria deixado ingressar na consciência"[15].

Ao mesmo tempo em que procura inserir no campo da psicanálise a trilha que está percorrendo, o psicanalista húngaro, numa atitude cuidadosa, alerta quanto ao uso indiscriminado de suas formulações técnicas. De maneira clara, ele registra que a sua perspectiva deve constituir uma medida provisória, um instrumental de exceção indicado para situações específicas, aquelas marcadas por estagnação do processo analítico. Ainda nessa esfera dos cuidados, Ferenczi não aconselha que analistas principiantes empreguem a técnica ativa, dada a complexidade e os riscos envolvidos. Além disso, ele sustenta que ela nunca deve ser utilizada no começo do tratamento, período em que a transferência ainda não está bem estabelecida.

De acordo com o psicanalista, medidas ativas eventualmente poderiam ser empregadas em qualquer tipo de neurose. Discorrendo especificamente sobre as análises do caráter, frente às dificuldades usualmente encontradas nesses casos, nos quais o próprio ego narcísico apresenta-se como principal fonte de resistência, Ferenczi sugere como possibilidade última de busca de caminho clínico a intervenção ativa no sentido de "conduzir ao absurdo traços de caráter que, na maioria das vezes, só existem em estado de esboço"[16]. Portanto, na sessão de análise, o paciente seria incitado a vivenciar e a expressar de maneira extremada os seus traços neuróticos de caráter. Em outras palavras, esgotadas as trilhas habituais da análise, o terapeuta direcionaria o paciente para ações que pelo seu exagero escancarariam os aspectos neuróticos instalados no caráter do analisando. Da perspectiva de quem lê o escrito do autor húngaro, chama atenção a enorme liberdade que o clínico se atribui para, de alguma maneira, mobilizar o paciente para o trabalho analítico.

A fim de expor o jogo de forças posto em ação pela técnica ativa, Ferenczi lança mão de alguns fragmentos de análises. Cita, no exemplo mais desenvolvido no artigo, o caso de uma jovem música croata que, dentre vários sintomas, sofria de medos obsessivos, como o de tocar piano diante de pessoas. Nesse atendimento, e também em outros mencionados no trabalho, as determinações do húngaro à paciente comportaram duas fases. Numa primeira, frente à fobia da jovem em relação a executar certos atos - segundo a leitura de Ferenczi, desejados, mas reprimidos -, ele efetuou incitações para que ela realizasse esses atos nas sessões de análise. Processo que revelou, pelo progressivo envolvimento e fruição da jovem na execução dos comportamentos (como cantar e expressar por meio de gestos determinada canção) a existência de uma intensa satisfação latente em exibir-se e, também, a emergência de lembranças ligadas à sua infância.

Numa segunda fase, quando as tendências anteriormente reprimidas se converteram em importantes fontes de prazer, Ferenczi mudou de atitude, ou seja, passou a cercear a realização dos atos agora propiciadores de satisfação. O intuito dessa proibição - assim como no caso clínico relatado no artigo Dificuldades técnicas de uma análise de histeria -, foi o de, ao interpor uma barreira, gerar um acúmulo de tensão não descarregado e, com isso, criar condições energéticas para o desenvolvimento do trabalho analítico, que acabou ocorrendo e implicou na tomada de consciência das moções de desejos envolvidas, além da lembrança de material infantil associado ao atual.

Como relatado, no exemplo citado, a interferência efetuada pelo terapeuta foi desenvolvida em dois momentos: primeiro o incentivo ao que estava inibido e depois o cerceamento ao comportamento prazeroso. Porém, cabe notar, que a meta continuou sendo a de barrar a satisfação e, com isso, elevar a quantidade de energia a ser canalizada para a análise. Assim sendo, em casos em que o processo não alcançar a segunda fase, a da renúncia do paciente à satisfação, Ferenczi não o considera completo e, pela possível ausência de um consistente trabalho analítico, vê perigo de retorno dos conflitos.

De posse desse prisma que considera essencial que a análise seja desenvolvida com os pacientes em determinado estado de privação, torna-se fácil compreender e concordar com a ligação que o psicanalista húngaro faz[17] entre a sua formulação técnica e a regra de abstinência proposta por Freud. Se nos reportarmos à exposição do psicanalista vienense sobre o assunto, em determinado trecho, encontraremos a seguinte indicação: "devemos deixar que a necessidade e o anseio continuem a existir, na paciente, como forças impulsionadoras do trabalho e da mudança"[18]. Ou seja, fundadas no ponto de vista econômico, as duas orientações sustentam que a libido libertada pelo trabalho clínico deve ser canalizada não para satisfações substitutivas, mas para estimular o processo analítico.

No terreno da fundamentação teórica, Ferenczi procura deixar claro que as suas ideias técnicas não significam um retorno a práticas clínicas já superadas pela psicanálise, nesse domínio cita especificamente a terapia por sugestão e a por catarse. Para o autor, de índole completamente diferente "das sugestões médicas atuais que prometem a saúde"[19], a sua intervenção - o incitar o que está inibido e o proibir determinadas formas de satisfação - visa apenas alterar a distribuição de energia no paciente. Assim sendo, trata-se somente de um recurso para favorecer a emergência de material recalcado. Com relação à catarse, o psicanalista húngaro sustenta que, enquanto esta tem a descarga de afetos como fim, a sua orientação, dependendo da específica situação clínica, passa por incitar e, também, por inibir descargas de afetos. Além disso, e este é o ponto fundamental, faz isso como meio para acessar conteúdos inconscientes. Com essa visão dos fatos, ele conclui: "Portanto, quando a catarse considera sua tarefa terminada, o trabalho propriamente dito começa para o analista ‘ativo’"[20].

Após apontar que a técnica ativa não significa uma espécie de reedição da terapia por sugestão ou por catarse, Ferenczi, por meio de uma sequência de formulações, contendo tanto explicações mais gerais como a inclusão de pontos mais apurados e específicos, progressivamente avança no domínio conceitual do seu fazer clínico. Um sintético, mas bem amarrado trecho contendo as razões que explicariam a eficácia de sua técnica é assim expresso pelo autor:

“Quando o doente abandona atividades voluptuosas ou obriga-se a praticar outras carregadas de desprazer, surgem nele novos estados de tensão psíquica, na maioria das vezes recrudescimentos dessa tensão, que vão perturbar a tranquilidade de regiões psíquicas distantes ou profundamente recalcadas que a análise tinha até então poupado, de sorte que seus produtos encontram - sob a forma de ideias significativas – o caminho da consciência”[21].

A seguir, ele se reporta a uma visão assinalada por Freud em A interpretação dos sonhos[22], de que haveria uma relação de reciprocidade entre afeto e representação. Para o húngaro, essa reciprocidade poderia ajudar a entender fenômenos que se observam no cotidiano da clínica. Mais particularmente, tanto o fato de que o despertar de reminiscências inconscientes pode desencadear reações afetivas (como na catarse), quanto à situação em que “uma atividade exigida do paciente ou um afeto liberado nele também podem fazer surgir certas representações recalcadas, vinculadas a esses processos”[23].

Porém, cabe alertar que o autor, ao argumentar a favor da existência de uma relação de reciprocidade entre afeto e representação, está se referindo a uma ligação muito específica, ou seja, àquela pertinente. Em se tratando do atendimento terapêutico, fenômeno passível de ocorrer como fruto de um certeiro caminho clínico. A nosso ver, é por isso que ele, no bojo de seu raciocínio, introduz a frase: "Naturalmente, o médico deve ter certos indícios dos afetos ou das ações que precisam ser reproduzidos"[24].

Já na esfera dos sonhos, essa forma de ligação estaria presente no conteúdo latente e não no manifesto. Essa observação torna-se necessária para evitar uma visão errônea do pensamento freudiano, pois o psicanalista vienense não supôs qualquer espécie de vinculação necessária ou orgânica entre afeto e representação. Na verdade, Freud, inovando em relação ao usualmente aceito, no capítulo dedicado ao tema dos afetos nos sonhos, indicou que o

"afeto e o conteúdo de representações não constituem, contra o que estamos acostumados a admitir, uma unidade orgânica inseparável, mas que se encontram meramente soldados entre si e podem ser destacados um do outro pela análise"[25].

Nas últimas frases do artigo Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise, quando o leitor supõe que a refeição de letras servida por Ferenczi já está na hora de uma sobremesa leve, ou de um cafezinho, o analista húngaro vem com um prato original, uma iguaria que amplia o potencial de utilização da sua técnica. De acordo com o autor, no caso de conteúdos psíquicos patogênicos datados da primeira infância, uma época anterior à compreensão verbal, e que, portanto, não podem ser rememorados, mas apenas revividos, as injunções e interdições da técnica ativa vão favorecer a ocorrência de repetições de experiências. De posse desse valioso material na cena analítica, cabe o trabalho de interpretá-lo ou reconstruí-lo nas lembranças. Ou seja, sem muito alarde, Ferenczi afirma que a sua proposta técnica pode alcançar extratos psíquicos do período pré-verbal e caminhar da ação repetitiva para a simbolização.

Apresentado esse artigo de Ferenczi de 1921, um trabalho incrivelmente rico em ideias e sugestões clínicas, cabe agora pensarmos as relações que podem ser estabelecidas entre esse material do analista húngaro e as orientações técnicas elaboradas por Reich.

Considerando inicialmente apenas o terreno psicanalítico, compete explicitar uma diferença básica entre as sugestões técnicas propostas por Ferenczi e a Análise do Caráter. O húngaro entende suas formulações como medidas auxiliares à técnica consagrada, já Reich propôs uma outra técnica para o trabalho clínico psicanalítico. Um argumento para tornar possível a coexistência da Análise do Caráter com a técnica freudiana é o de que a elaboração do analista mais jovem consiste numa proposta voltada para o trabalho com determinadas estruturas neuróticas, as marcadas pela acentuada presença de defesas neuróticas incorporadas no caráter. Apesar dessa possibilidade de leitura, de qualquer maneira, há uma evidente diferença entre como Ferenczi e Reich entenderam o papel de suas formulações em relação à técnica freudiana.

Uma outra distinção central entre a elaboração de Ferenczi e a Análise do Caráter é a de que as medidas "ativas" só devem ser empregadas quando a transferência já estiver bem estabelecida, portanto, segundo o psicanalista húngaro, nunca no início do tratamento. Por sua vez, a técnica reichiana pode ser utilizada desde o começo do atendimento, na verdade ela desempenha um papel essencial no começo da análise, período em que, sobretudo, o trabalho com a transferência negativa é considerado de importância fundamental para o bom desenvolvimento do processo clínico.

No âmbito das aproximações, Ferenczi[26] não aconselhou que analistas pouco experientes lançassem mão das suas formulações conhecidas como "ativas". No que se refere à Análise do Caráter, essa mesma posição foi assumida por Reich no escrito Indicações e perigos da análise do caráter[27]. Ao que parece, os dois especialistas em técnica analítica tinham plena consciência dos riscos envolvidos no emprego pouco hábil de suas inovadoras proposições.

Após essas observações gerais sobre a "técnica ativa" e a Análise do Caráter, como o artigo de Ferenczi[28] focaliza importantes conteúdos afeitos ao campo das abordagens psicocorporais, vamos abrir o leque de pareamento para além do universo das técnicas psicanalíticas.

Como relatado por Ferenczi[29], no atendimento em que o próprio ego do paciente se apresentava como a principal fonte de resistência, ele incentivava os analisandos a realizarem na sessão de análise cenas pautadas pela expressão - sempre de maneira extremada - de traços neuróticos de caráter. Em outros termos, o criativo terapeuta promovia uma espécie de "teatro clínico" no qual os analisandos podiam manifestar de forma intensa as suas incipientes orientações neuróticas egossintônicas. Curioso constatar que um recurso utilizado por Ferenczi ainda no começo dos anos 1920 - o incentivo às vivências emocionais no espaço clínico - nos dias atuais constitui um procedimento largamente empregado no âmbito das terapias psicocorporais. Com base nesse tom de certa afinidade, seria interessante investigar como essas cenas emocionais se integravam no trabalho do analista húngaro e como esse tipo de atividade clínica tende a ocorrer no domínio das abordagens psicocorporais vinculadas ao referencial reichiano.

De qualquer forma, não pode passar desapercebido o fato de que o psicanalista húngaro deixou contribuições valiosas a respeito do tema “vivências no espaço clínico”. Em síntese, pelos menos três formulações registradas por Ferenczi em Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise merecem destaque:

. com base numa cuidadosa diferenciação conceitual entre a sua orientação terapêutica "ativa" e o método catártico, indicou que, a rigor, o trabalho de análise começa quando a catarse considera sua tarefa concluída;

. tendo por alicerce conceitual o desenvolvido por Freud a respeito da relação entre afeto e representação, propôs estratégias clínicas voltadas para a possibilidade de que o afeto liberado pudesse trazer à tona representações recalcadas;

. no caso de conteúdos patogênicos de época anterior à compreensão verbal, portanto que não poderiam ser rememorados, criou estratégias clínicas para favorecer a ocorrência de repetições de experiências (um passo inicial necessário para tornar possível o trabalho de elaboração psíquica).

 

As fantasias provocadas (1924)

No terceiro artigo dedicado à experimentação e formulação clínica conhecida como "técnica ativa", Ferenczi[30] dá mais alguns passos no sentido de ampliar a gama de intervenções do terapeuta destinadas a catalisar a atividade analítica do paciente.

No início do texto, o analista húngaro, mais uma vez, esclarece que as suas inovações técnicas têm por meta encontrar saídas para atendimentos marcados por longas fases de estagnação. Ou seja, para Ferenczi não se trata de qualquer tentativa de substituição do procedimento psicanalítico clássico, mas da inclusão de medidas auxiliares para situações clínicas específicas. Ainda no contexto da abertura do escrito, defendendo a sua orientação de prisma ativo, ele repete o argumento de que, na verdade, as interpretações usuais constituem uma forma de atividade do analista, pois, em algum grau, interferem no curso das associações do paciente - entendimento já expresso no artigo Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise. Portanto, na visão do autor, ao incluir em seu arsenal de medidas a possibilidade de influir na própria atividade de fantasiar do analisando, ou, como o título do artigo revela, ao "provocar fantasias", ele, na posição de analista, estaria apenas seguindo uma trilha sedimentada no fazer clínico tradicional da psicanálise.

A seguir, ele vai construindo o corpo do trabalho por meio da exposição de casos clínicos e a inserção de formulações destinadas a embasar teoricamente a linha adotada. Mais ao final do escrito, a partir do conhecimento adquirido a respeito do período infantil da vida dos pacientes, Ferenczi expõe ideias voltadas para o tema da educação sexual de crianças.

Em um dos exemplos clínicos citados, a fim de ilustrar o procedimento técnico assumido, o analista húngaro relata o caso de um paciente possuidor de uma considerável capacidade de fantasiar, mas que, apesar desse potencial, se mostrava muito inibido na expressão de seus sentimentos. Como o trabalho de análise pouco avançava, o terapeuta tomou a atitude de fixar um prazo para o término do atendimento, medida não suficiente para alterar o cristalizado panorama presente. Nesse contexto, Ferenczi, supondo que o analisando sentia um ódio em relação a ele, incitou-o a imaginar algo agressivo contra ele. Segundo o autor, depois de um período de hesitação e recusa, o paciente passou a apresentar

"com acuidade alucinatória [a fantasia de] que me agredia e depois me arrancava os olhos, fantasia que se transformou bruscamente numa cena sexual onde eu desempenhava o papel de mulher. Durante essa atividade fantasística, o paciente tinha ereções manifestas"[31].

De acordo com o analista, na sequência dos trabalhos, com o vivenciado nas sessões em relação ao terapeuta, foi possível analisar fatores edípicos e reconstruir "toda a gênese da libido infantil do paciente" (p. 265).

Nesse exemplo, assim como em outros mencionados no artigo As fantasias provocadas, Ferenczi revela as características inovadoras que, no período, enredavam a sua forma de atendimento. Sem cerimônia, ao leitor é apresentado um setting no qual o analista, sintonizado com o processo clínico em curso e a partir de hipóteses levantadas, busca provocar certas fantasias no paciente. Este, incentivado pelo terapeuta, vai adentrando num campo de pouco controle, um espaço sem tempo determinado e potencialmente capaz de resultar, numa espécie de transe alucinatório, em intensas vivências afetivas. Porém, tal viagem não se finda na cena catártica, ela traz à tona lembranças do analisando e o processo só se completa com a construção, auxiliada pelo analista, de pontes entre o atual e passado. Em suma, um trabalho clínico que, de maneira clara e assumida, inclui a atividade do terapeuta (o provocar fantasias), percorre um trajeto que passa por vivências emocionais e resulta numa ampliação da consciência do paciente.

O analista húngaro, explicitando de maneira organizada a sua forma de trabalho, efetua uma classificação das espécies de fantasias que ele tendia a provocar nos pacientes. Em suas palavras: "As fantasias que me vi coagido a provocar dessa maneira são, grosso modo, de três espécies:

1. fantasias de transferências negativas e positivas;

2. fantasias relativas a lembranças infantis;

3. fantasias masturbatórias"[32].

Chama atenção o jeito como o autor apresenta a sua classificação: "As fantasias que me vi coagido a provocar". Ou seja, na posição de analista, as suas ações ativas, as provocações, ocorreriam em função das exigências do trabalho clínico, o verdadeiro sujeito da relação, e não como movimentos autônomos seus. Nesse ponto cabe indagar: mais uma vez estaríamos frente à habitual orientação de Ferenczi no sentido de buscar caminhos práticos para lidar com situações impostas pelo fazer clínico? Parece-nos que sim, mas, além disso, talvez o emprego dessa linguagem bastante cuidadosa - afinal, ele só agiu porque foi coagido - talvez possa sugerir que ele, enquanto psicanalista, tinha plena consciência do caráter inovador e heterodoxo do passo que estava dando no campo da técnica.

Discorrendo sobre as indicações e contraindicações do procedimento em foco, Ferenczi deixa claro que, como toda medida de técnica ativa, o incitamento de fantasias só deve ser empregado no período final do processo clínico. Sobre a escolha da específica atividade imaginativa que o terapeuta deve buscar provocar no paciente, ele afirma que é o material analítico, em seu conjunto, que pode possibilitar tal decisão. Como alerta, considera que somente analistas com larga experiência devam lançar mão dessa forma de trabalho clínico, pois sugestões de fantasias mal orientadas são passíveis de alongar o tempo de duração do tratamento.

No que diz respeito aos efeitos gerados por essa forma de orientação ativa, o psicanalista húngaro relata que, em alguns casos, tanto ele quanto o paciente se surpreendem com o desencadear de cenas totalmente inesperadas, evento que tende a gerar forte impressão no analisando e promover o avanço do trabalho analítico. Pode ocorrer também de o analisando responder à provocação efetuada com uma produção de fantasias e ideias incompatíveis como caminho sugerido, nessa circunstância cabe ao analista reconhecer o erro, embora não seja descartada a possibilidade de que o futuro venha a confirmar a pertinência da trilha clínica indicada.

Na parte final do artigo, Ferenczi expõe o que aprendeu a respeito da vivacidade imaginativa dos pacientes com o emprego da técnica de provocar fantasias. De acordo com o autor, os analisandos que tendiam a apresentar uma pobreza da vida de fantasia eram, em boa parte, provenientes de contextos familiares marcados por um severo controle dos atos e gestos das crianças. Mais especificamente, o analista atribui a parca exuberância imaginativa do adulto a uma educação excessivamente rigorosa em relação às expressões sexuais na infância. Com esse exagero educacional, as fantasias da criança sofreriam um “recalcamento primário” (Urverdrängung), mesmo antes de se tornarem conscientes"[33]. Assim o psicanalista húngaro explica a sua constatação:

“São, de certo modo, crianças excessivamente bem-educadas, cujas moções sexuais pulsionais não têm, em geral, ocasião de radicar-se na realidade. Tal enraizamento, ou seja, uma experiência em parte vivida, parece constituir, entretanto, a condição de toda liberdade futura de fantasiar e da potência psíquica que a ela se vincula”[34].

Desenvolvendo a sua argumentação, o autor sustenta que

"uma certa quantidade de experiência sexuais infantis, portanto, de 'traumas sexuais', longe de prejudicar mais tarde a normalidade, sobretudo a capacidade normal de imaginação, antes a favoreceriam" (p. 269).

Em outras palavras, a nosso ver, Ferenczi está defendendo a tese de que, para o pleno desenvolvimento da liberdade de fantasiar, a criança precisa encontrar no ambiente que a cerca alguma possibilidade da ocorrência de vivências sexuais. Cabe observar que a linguagem que o autor utiliza para expor a sua orientação em prol das manifestações sexuais da criança remete ao universo do real, vide o largo emprego de termos como "atos", "gestos", "vivências" e "experiências". Além disso, vale registrar que, nesse texto, o húngaro não chega a discutir o assunto da violência sexual perpetrada por adultos sobre crianças, matéria que, por sua vez, serviu de mote para o artigo de 1933, Confusão de língua entre o adulto e a criança[35].

A seguir, fundado no ponto de vista econômico, Ferenczi introduz um alerta a respeito da dimensão da experiência sexual na infância. De acordo com o psicanalista, para que se evite a incidência de recalcamento, essa vivência sexual só pode ocorrer dentro de certos limites quantitativos, ou seja, trata-se de uma questão de dosagem ótima. Vale notar que, nesse alerta, o autor usa a noção de recalque propriamente dito (Verdrängung) para indicar uma operação defensiva que procura afastar da consciência representações que já tiveram acesso a ela, e não com o sentido de recalque primário ou original (Urverdrängung), anteriormente utilizado.

Sobre esse grau desejável de experiências sexuais, Ferenczi não efetua nenhuma elaboração mais detalhada e aprofundada, apenas aponta para a necessidade de se evitar a ocorrência de vivências sexuais muito precoces ou intensas demais. Talvez essa ausência de aprofundamento possa ser explicada pelo fato de que, pelo menos nesse trabalho, a orientação do autor está mais voltada para indicar os efeitos danosos do excesso no cerceamento das manifestações sexuais, do que para discutir o advento de possíveis traumas relacionados com a presença das experiências sexuais. Um indício que reforça essa linha de leitura é o fato de que, logo após ter mencionado o potencial perigo decorrente das vivências sexuais infantis (quando precoces ou intensas demais), o analista, no último parágrafo do artigo, volta a mencionar os danos decorrentes do exagero educacional. Em suas palavras:

“Do ponto de vista do desenvolvimento do ego, podemos explicar a pobreza das fantasias sexuais na criança excessivamente bem-educada (e sua tendência ulterior para a impotência psíquica) pelo fato de que as crianças sem experiência dessa ordem no real são completamente esmagadas pelos ideais educativos, sempre antissexuais”[36].

Em suma, o enfant terrible da psicanálise, tendo por base os achados provenientes do emprego da técnica de provocar fantasias na clínica com adultos, de maneira crítica ao contexto educacional de sua época, aponta para a importância das experiências sexuais da criança, a seu ver, fator fundamental para a riqueza da vida imaginativa.

De acordo com o procedimento adotado neste ensaio, é hora de pensarmos o conteúdo desse artigo de Ferenczi em relação às ideias de Reich.

No terceiro escrito do analista húngaro dedicado à "técnica ativa", o autor repete posições centrais registradas em pelo menos um de seus dois textos anteriores sobre a referida técnica, a saber: trata-se de um conjunto de medidas auxiliares à técnica psicanalítica consagrada, a ser empregado por analistas experientes e nunca na parte mais inicial dos atendimentos. Esses pontos cardeais nós já comentamos em relação à técnica da Análise do Caráter, vamos agora focalizar as novidades presentes no artigo.

A estratégia clínica exposta por Ferenczi - até onde temos conhecimento, absolutamente original no campo psicanalítico - vem indicada no próprio título do trabalho: provocar fantasias. E, em quais situações o analista húngaro ousava lançar mão desse inusitado recurso clínico? Em casos nos quais o processo analítico avançava até um determinado patamar, mas depois se estagnava, o terapeuta "ativo", a partir da sua leitura a respeito da dinâmica psíquica instalada, incitava o analisando a imaginar determinados conteúdos vinculados a essa dinâmica. De acordo com o autor, como resultado, em boa parte dos atendimentos, o emprego dessa medida técnica proporcionava forte engajamento dos pacientes nos trabalhos, a consequente retomada do processo analítico, e até o desencadear de cenas totalmente inesperadas. Por outro lado, de forma sincera e abrindo seu fazer clínico, Ferenczi revelou que nem sempre a fantasia sugerida foi a mais adequada, porém, a seu ver, esse seria um risco inerente a essa linha de trabalho.

Além do evidente conteúdo original presente em As fantasias provocadas, vale notar a atitude tomada por Ferenczi no desempenho da atividade clínica. Frente à situação de acentuada paralisia no processo de análise, o terapeuta procurava se colocar no lugar psíquico do paciente e, a partir desse lugar, sugeria a realização de vivências. Dentre outros aspectos, nos parece que estamos no campo clínico de um analista que marcou seu ofício pela busca de contato profundo com os pacientes, em outras palavras, alguém que utilizou recursos empáticos em seu fazer clínico[37].

Chama também a atenção, a postura de intenso envolvimento e compromisso do analista com os resultados no trabalho clínico desenvolvido. Esta leitura a respeito da forma como Ferenczi encarava a atividade analítica nos remete ao afirmado pelo autor, em Confusão de língua entre os adultos e a criança[38]. No incisivo trabalho publicado no ano de sua morte, o especialista em técnica teceu sérias críticas ao setting psicanalítico tradicional, considerado por ele como frio e distante, algo similar à situação traumatizante vivenciada na infância por aqueles que adoeceram. Em suas cortantes palavras:

“A situação analítica, essa fria reserva, a hipocrisia profissional e a antipatia a respeito do paciente que se dissimula por trás dela, e que o doente sente com todos os seus membros, não difere essencialmente do estado de coisas que outrora, ou seja, na infância, o fez adoecer”[39].

E quanto à Reich, esses aspectos levantados em relação à orientação clínica de Ferenczi - provocar vivências, utilizar recursos empáticos no fazer terapêutico e adotar uma postura de envolvimento e compromisso com os resultados do trabalho clínico - ocuparam espaço na abordagem desenvolvida por ele? Se sim, de que forma?

Quanto a provocar vivências, pelo menos da maneira semelhante ao exposto por Ferenczi[40], supomos que não, apesar dessa resposta ficar prejudicada pelo fato de Reich não ter apresentado a Vegetoterapia e a Orgonoterapia como a mesma riqueza de detalhes que o fez em relação à Análise do Caráter. De outra parte, se nos basearmos na sistematização da Vegetoterapia efetuada pelo médico e analista italiano Federico Navarro (1924-2002) - um terapeuta que passou por uma formação com um dos principais nomes da clínica reichiana, o psicanalista norueguês Ola Racknes (1887-1975)[41] -, podemos esboçar algo a respeito do assunto.

Navarro, na chamada Somatopsicodinâmica[42], acrescentou alguns procedimentos à Vegetoterapia potencialmente capazes de acessar emoções e lembranças do período infantil. Por exemplo, pedir para o paciente realizar "movimentos de sucção e mastigar (uma pequena toalha) como forma de reviver experiências de amamentação e surgimento da primeira dentição"[43]. Obviamente que há diferenças gritantes em relação ao exposto por Ferenczi, mas inserimos esse registro para indicar o emprego de um tipo de estratégia clínica do campo reichiano que também propõe uma atividade com o objetivo de suscitar conteúdos, inclusive os ligados à primeira infância.

Com relação ao emprego de recursos de contato não exclusivamente ligados à racionalidade, talvez seja possível afirmar que Reich sempre enfatizou esse caminho de trabalho clínico. Reforça essa hipótese o fato dele (...) ter advogado a favor de uma ampliação do que era considerado material analítico para incluir o universo das expressões dos pacientes, por exemplo, tom de voz, forma de dar as mãos ao chegar na sessão e de movimentar-se em geral. Na sequência de sua produção voltada para a área da técnica, Reich adensou essa elaboração inicial e passou a investir fortemente nas formas mais primárias de contato. Em 1949, no texto A linguagem expressiva da vida[44], o então orgonomista explicou essa linha de ação:

“[os]movimentos expressivos do paciente provocam involuntariamente uma imitação no nosso próprio organismo. Imitando esses movimentos, 'sentimos' e compreendemos a expressão em nós mesmos e, consequentemente, no paciente”[45].

Sobre a postura de Reich como terapeuta, ele nunca pautou seu fazer clínico por uma orientação marcada pela distância e neutralidade. Mesmo nos trabalhos fundados na Análise do Caráter, a técnica formulada no seio do movimento psicanalítico, o papel do analista exigia presença e envolvimento, alguém que, durante os períodos de predomínio da resistência, assumia a direção dos trabalhos. Sobre o tema, criticando a que ele chamou de "atitude de múmia" do analista, Reich observou:

“é um erro interpretar a regra geral analítica (o analista deve ser 'uma folha de papel em branco' sobre a qual o paciente escreve sua transferência) no sentido de que se deve, sempre e em cada caso, assumir uma atitude de múmia. Em tais condições, muitos pacientes acham difícil 'sair da concha'”[46].

Apesar dessas aproximações aqui registradas, é necessário não esquecer que estamos mencionando pontos de dois conjuntos teóricos diferentes. Assim sendo, cada um desses pontos só adquire pleno sentido quando inserido no seu respectivo quadro teórico. Levando em conta essa consideração basilar, a única suposição que realmente podemos fazer neste estudo é a de que Ferenczi, em escritos dedicados à "técnica ativa", e Reich, considerando alguns fios condutores da sua orientação clínica em geral, assumiram algumas importantes posições que convergiram para o mesmo rumo. Em outras palavras, Ferenczi e Reich, em muitos aspectos, foram aliados ao defenderem um fazer clínico que caminhava para o mesmo sentido, ainda que por estradas diferentes.

Um último conteúdo de As fantasias provocadas que - tanto pela sua relevância no referido artigo, como por sua relação com o pensamento de Reich - merece ser comentado, diz respeito às afirmações de Ferenczi voltadas para o universo da educação infantil. O analista húngaro, fundado no que constatava na clínica com adultos, teceu pesadas críticas à exagerada vigilância, e consequente cerceamento, da vida sexual das crianças. A seu ver, essa educação sexual infantil "excessivamente bem-sucedida" (p. 269) resultava em adultos bastante limitados no que se refere à vida imaginativa. (...) Parece-nos claro que, quanto a esse significante ponto, Ferenczi e Reich olharam com perspectivas convergentes para a área da educação infantil

 

Psicanálise dos hábitos sexuais (1925)

Em 1925 o psicanalista húngaro publica o artigo Psicanálise dos hábitos sexuais, o quarto estudo dedicado à exposição da chamada "técnica ativa". Antes de focalizarmos esse trabalho, com o intuito de, digamos, não perder o fio da meada, julgamos que pode ser útil uma breve retomada do aqui já apresentado.

Grosso modo, de acordo com Dificuldades técnicas de uma análise de histeria, na busca de soluções clínicas para superar períodos de estagnação em um atendimento, o psicanalista efetuou injunções no sentido de evitar a ocorrência de uma prática masturbatória habitualmente realizada pela analisanda. Vale recordar que, medidas de interdição, uma orientação essencial nesse procedimento técnico, são efetuadas com o objetivo de gerar um aumento de tensão, na linguagem de Ferenczi, um incômodo, que, por sua vez, tende a catalisar o trabalho analítico do paciente. A seguir, no texto Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise, o autor relata uma configuração de intervenção efetuada em duas fases: na primeira, o analista incita o analisando para a realização de certas ações indicadas por ele; na segunda, após o pleno engajamento do paciente nas cenas sugeridas e a consequente fruição alcançada nas vivências realizadas, o terapeuta faz injunções que visam barrar as maneiras de satisfação ora alcançadas. Por fim, no artigo As fantasias provocadas, o campo da técnica ativa é alargado, pois o analista, a partir da sua leitura clínica, passa a sugerir determinadas fantasias ao paciente.

Após essa rápida retomada, e agora dando sequência ao nosso acompanhamento do curso de experimentações e formulações clínicas conhecidas como técnica ativa, quais as linhas mestras que caracterizam o texto Psicanálise dos hábitos sexuais[47]? A nosso ver, numa apreciação global, o escrito em tela tem por eixos norteadores a regra de abstinência proposta por Freud, numa aplicação maximizada por Ferenczi, e a teoria da genitalidade, apresentada pelo psicanalista húngaro em artigo publicado em 1924, Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade[48].

No que diz respeito à regra de abstinência, enquanto que para Freud tal diretriz ajuda a compor um amplo quadro de orientações - éticas e técnicas - que, no seu conjunto, sustentam a clínica psicanalítica, na técnica ativa esse princípio geral acaba por se constituir no principal alicerce conceitual das inovadoras intervenções práticas do analista, uma base teórica que faz a ponte entre as experimentações de linha ativa e a tradição psicanalítica. Cabe observar que, como já citado neste trabalho, segundo a prescrição freudiana, o analista não deve corresponder às demandas emitidas pelo paciente na transferência e, nessa mesma direção, a fim de alcançar uma economia energética que favoreça o trabalho de recordar e elaborar, a análise deve ser desenvolvida com o analisando num estado basicamente caracterizado pela ausência de satisfação.

Em Psicanálise dos hábitos sexuais, uma vasta gama de intervenções do analista alicerçadas na regra de abstinência se faz presente. Logo no primeiro tópico do trabalho, dedicado aos "hábitos uretrossexuais", Ferenczi relata que passou a orientar analisandos, que, durante a sessão, manifestavam como "sintoma passageiro" uma forte vontade de urinar, para que não cedessem a essa inclinação. De acordo com o analista húngaro, sempre pautado na meta de aumentar a tensão e, com isso, fomentar o trabalho analítico, esse tipo de interdição acabou por descortinar o universo da sexualidade pré-genital dos pacientes e, também, de forma correspondente, os traços de caráter presentes.

De outra parte, munido com as teses do artigo Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade, o qual, por sua vez, constitui para o autor uma continuidade e uma ampliação do clássico freudiano Tres ensayos para una teoria sexual[49], o fértil psicanalista faz apreciações destinadas a compreender o seu fazer clínico. Por exemplo, em uma dessas explicações, ele associa as manifestações neuróticas dos erotismos oral, anal e uretral a uma "tendência para fugir ao conflito edipiano e, por conseguinte, à genitalidade"[50]. Nessa mesma linha, uma formulação central do Thalassa, a "teoria da anfimixia", basicamente "a fusão de dois ou vários erotismos numa unidade superior"[51], tal como a fusão dos erotismos anal e uretral no erotismo genital, torna-se uma importante ferramenta de leitura dos achados clínicos suscitados pelas medidas ativas efetuadas nos atendimentos.

De posse desse prisma conceitual marcado pela ênfase na genitalidade, fica fácil não se surpreender com a manifestação de concordância que o analista húngaro registra no artigo Psicanálise dos hábitos sexuais (1925) em relação à tese de Reich de que não haveria neurose sem algum comprometimento da genitalidade. Com a palavra o psicanalista experiente falando sobre uma posição do novato:

“Aliás, compartilho inteiramente da opinião de Wilhelm Reich, segundo o qual todos os casos de neurose, e não apenas os casos de impotência manifesta, são acompanhados de distúrbios mais ou menos importantes da genitalidade, e estou em condições de demonstrar a oportunidade da atividade uretroanal nas diversas estruturas neuróticas”[52].

Tal entendimento reichiano foi defendido no trabalho denominado Sobre a genitalidade do ponto de vista do prognóstico psicanalítico e terapia[53], citado em nota de rodapé pelo analista húngaro. Cabe notar que, os dois escritos sobre genitalidade, o Thalassa, de Ferenczi, e o Sobre a genitalidade do ponto de vista do prognóstico psicanalítico e terapia, de Reich, foram publicados em 1924. Movimentos que revelam, além de uma sintonia de interesse, uma sincronia de timing.

Ainda no texto sobre a técnica ativa que estamos analisando, outra menção ao mesmo artigo de Reich se faz presente. Nesse caso, focalizando o que chama de "hiperatividade sexual-genital", no contexto de uma discussão sobre a neurastenia e a masturbação, Ferenczi afirma: "W. Reich tem toda razão em afirmar que é inútil impedir uma satisfação masturbatória até então evitada por angústia"[54]. Em seguida, o húngaro tece argumentos a favor de suas medidas ativas de cerceamento da satisfação sexual, que vão além da interdição da prática onanista. Para ele, ao tolerar um período de abstinência o paciente criaria condições para superar o autoerotismo e "encontrar o caminho para os objetos sexuais normais" (p. 357). Portanto, no artigo Psicanálise dos hábitos sexuais (1925), Ferenczi cita duas ideias reichianas vinculadas ao tema da genitalidade e afirma concordar com elas.

Um tema especialmente delicado nesses escritos de Ferenczi dedicados à técnica ativa é o da relação entre essa orientação e a técnica psicanalítica já presente, aquela fundada em publicações freudianas. Se levantarmos o que o analista húngaro registrou sobre o assunto nos artigos aqui apreciados, verificaremos um acentuado cuidado do autor em esclarecer que o procedimento ativo não se trata de algo que viria para substituir o existente, mas sim um instrumental auxiliar, a ser utilizado por analistas experientes, em períodos marcados pela estagnação nos trabalhos e nunca numa fase mais inicial dos atendimentos. Como mais uma contribuição a essa matéria, em Psicanálise dos hábitos sexuais o especialista em técnica psicanalítica lança mão de uma inusitada terminologia para expor a sua visão sobre o assunto. De acordo com o autor, a "análise por baixo" (p. 387), as medidas ativas interpostas com o intuito de barrar reações de descarga dos pacientes, ao promover um aumento da tensão interna, cooperaria para o desenvolvimento da "análise pelo alto" (p. 387), aquela que, por meio de um trabalho de associações, parte da superfície psíquica.

Na esfera dos esclarecimentos a respeito de certos aspectos da técnica ativa, Ferenczi procura diferenciar as injunções efetuadas pelo analista das ordenações autoritárias presentes na educação infantil. Segundo o autor, a orientação ativa mesmo que, por períodos, cerceie determinadas formas de satisfação do paciente, o que, de alguma maneira, repete o modelo da educação infantil autoritária, ela, em última instância, visa substituir tal educação "excessivamente bem-sucedida" (p. 365). Assim, na realidade, apesar de alguma semelhança, enquanto a prática educacional autoritária quer privar o acesso da criança ao prazer, o trabalho clínico ativo objetiva desfazer as amarras formadas e "deixar ao erotismo a margem que lhe cabe de direito"[55]. Dando continuidade a essa busca de diferenciação, em uma nota de rodapé o analista húngaro observa que as expressões "injunção" e "interdição" são muito ambíguas e, por isso, não expressam bem o sentido das medidas empregadas na técnica ativa. A seu ser, seria mais apropriado pensar em termos de "conselhos negativos e positivos" e supor uma linha de intervenção de caráter experimental, algo que não trilha pelo caminho das "instruções formais e imperativas, como é habitual na educação das crianças" (p. 365).

Nesta apreciação do quarto artigo voltado para a técnica ativa, ainda não focalizamos o tema central do trabalho, aquele indicado no seu título, os hábitos sexuais. A nosso ver, o ponto nodal da formulação de Ferenczi sobre o assunto situa-se na aproximação efetuada pelo autor entre hábito e sintoma, o que revela que ele não está se referindo a qualquer hábito, mas sim a padrões de comportamentos marcados pela repetição e pela compulsão. Ações, portanto, que sempre implicam em uma perda de liberdade.

Nesse território, os padrões comportamentais repetitivos abrangidos pelo olhar do analista húngaro são amplos, desde hábitos uretrais e anais, como reter ou soltar demais, até o que ele chama de "maus hábitos" (p. 381) ou "inconveniência" (p. 381), tais como roer as unhas, puxar os pelos do bigode ou coçar-se. Alicerçando sua explicação conceitual em trabalho freudiano então recém-publicado, O eu e o id[56], Ferenczi argumenta que a meta da terapia psicanalítica é a de colocar o id sob o domínio do eu. É fundado nessa premissa que os modos automáticos de descarga, os hábitos sexuais apontados pelo autor, se tornam objeto de análise.

Com essa abertura de leque, o psicanalista chama a atenção para posturas e gestos nem sempre entendidos como sinais de patologia e o comportamento motor do analisando passa a ser foco de constante observação. Discorrendo a respeito o tema, Ferenczi afirma que muitos pacientes manifestam uma excessiva rigidez de todos os membros, um estado de elevada tensão que tende a desaparecer com o progresso da análise. Contudo, como nem sempre essa benéfica alteração física ocorre, por vezes, ele adota a medida de chamar a atenção do paciente para o seu comportamento rígido. Vejamos como o autor registra os efeitos que tendem a ser alcançados com essa forma de apontamento:

“Disso resulta geralmente a verbalização de um importante material até então escondido ou inconsciente, com destaque para as tendências hostis e afetuosas que estavam inibidas pela tensão, assim como para as dificuldades relativas à descarga sexual e à ereção. O aperto de mão do paciente torna-se mais franco, suas posturas um pouco mais móveis, e uma atitude psíquica correspondente pode aparecer paralelamente”[57].

Pelo aqui exposto, além do já presente em textos anteriores sobre a "técnica ativa" - como as injunções no sentido de cercear determinadas formas de satisfação sexual e a atenção às posturas e expressões do paciente -, no artigo Psicanálise dos hábitos sexuais fica claro que o analista húngaro opera na clínica fundado numa concepção de que há uma identidade entre as dimensões física e psíquica. Tal entendimento aparece, por exemplo, quando ele relata que, no momento terapêutico pertinente, o apontamento de uma rígida postura física tende a suscitar a verbalização de uma importante matéria inconsciente.

Nesse campo de teorização, Ferenczi sustenta que a "irrupção súbita de um movimento rítmico habitual pode ser interpretada como o sinal de uma operação mental reprimida e como tal deve ser apresentada ao paciente" (p.381). Vinculada a essa afirmação, em uma nota de rodapé, ele faz uma aproximação entre a capacidade de relaxamento muscular e a de praticar a associação livre. Nessa mesma nota ele declara que "Aconteceu-me exigir tal relaxamento a um paciente"[58] e, a seguir, indica o seu artigo Pensamento e inervação muscular[59].

Um olhar no trabalho sugerido permite entrar em contato com uma breve (trata-se de um artigo de apenas três páginas), mas produtiva discussão sobre o tema das "complexas relações entre atividade psíquica e inervação muscular"[60]. Com um tom aberto e especulativo, o analista húngaro mescla descrições de tipos de pacientes - os que para refletir profundamente interrompem a movimentação que estavam fazendo e os que, ao contrário, só se entregam a uma atividade intelectual complexa a partir de uma possibilidade de movimentação - com tentativas de explicações conceituais e referências a ideias freudianas sobre o assunto. Do mestre psicanalista, ele menciona, por exemplo, a tese de que o riso propicia uma descarga motora de uma tensão psíquica. Ao final do texto, Ferenczi aponta, de maneira breve, para a presença de uma identidade entre a atividade psíquica e a inervação motora. Em suas palavras:

“O paralelismo geralmente constatado entre as atividades psíquicas do pensamento e da atenção, por uma parte, e, por outra, as inervações motoras, sua reciprocidade quantitativa frequentemente assinalada e sua dependência mútua, falam de toda maneira a favor de uma identidade desses dois processos”[61].

Se há uma clara linha de continuidade entre os escritos de Ferenczi dedicados à "técnica ativa" - basicamente representada por uma determinada aplicação da regra freudiana de abstinência -, cabe observar também que o fértil psicanalista húngaro vai, a cada artigo, desenvolvendo e até acrescentando novos aspectos ao conjunto. Em termos sintéticos e conclusivos, no que diz respeito ao polo dos desenvolvimentos e acréscimos, em Psicanálise dos hábitos sexuais chama a atenção, além da forte presença de ideias do texto Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade, o foco nos hábitos motores e a orientação do autor fundada numa visão de que há uma relação de identidade entre os processos motores e psíquicos.

De forma diferente de como procedemos na análise dos três artigos anteriores de Ferenczi sobre a "técnica ativa", em função de duas menções feitas pelo próprio analista húngaro às ideias de Reich, no curso de nossa exposição de Psicanálise dos hábitos sexuais já fomos inserindo observações a respeito da relação entre os enfoques teóricos desses dois autores. Basicamente, no referido trabalho, Ferenczi concordou com Reich em posições assumidas por este no que se referia ao assunto genitalidade. Imaginamos o júbilo sentido pelo jovem analista ao ver seu nome citado de maneira tão elogiosa pelo eminente psicanalista húngaro!

Sem delongas, são tantas e tão claras as aproximações que podem ser estabelecidas entre as formulações de Ferenczi presentes em Psicanálise dos hábitos sexuais e o pensamento de Reich que reuniremos os vários pontos num só conjunto. Essa forma de exposição também foi escolhida porque os aspectos que serão mencionadas configuram um todo coerente, assim sendo, um componente pode levar ao outro. Além da já mencionada importância atribuída à genitalidade, os seguintes pontos de aproximação devem ser assinalados:

. leitura conceitual fundada na compreensão de que há uma identidade entre as dimensões física e psíquica (tese de base que possibilita a formulação dos demais pontos);

. no trabalho clínico, incluir a observação do corpo;

. prestar atenção às posturas e formas de expressão do analisando;

. dentre as possíveis ações do analista, consta a de chamar a atenção do analisando para o seu comportamento rígido;

. há uma relação entre relaxamento muscular e fluência na associação livre;

. estados de permanente rigidez física e elevada tensão tendem a diminuir com o progresso da análise.

Neste estudo, com a análise de Psicanálise dos hábitos sexuais, constatamos que uma série de ações clínicas de Ferenczi estão alicerçadas na assertiva de que há uma identidade entre as dimensões física e psíquica. Considerando que essa mesma tese enraíza o pensamento reichiano, podemos, finalmente, defender que faz sentido aproximar as abordagens desses dois autores. É importante fazer esse registro claro porque a relação entre o veterano e o jovem psicanalista poderia ser algo mais superficial; por exemplo, o de uma confluência de interesses, sobretudo pelo corpo e pela relevância atribuída à genitalidade. A identificação de uma tese enraizando as duas abordagens dá densidade a essa aproximação e nos faz concordar com os autores citados neste estudo que, de diferentes modos e argumentos, sugeriram a validade dessa aproximação. Estamos nos referindo, em especial, a Briehl[62], Dadoun[63] e Roudinesco e Plon[64].

 

Contraindicações da técnica ativa (1926)

Em 1926, no quinto e último trabalho dedicado à técnica ativa, Ferenczi promove uma espécie de balanço final da sua proposta clínica[65]. Transpirando uma sinceridade cortante, o escrito segue uma trilha própria, um caminho de avaliação que despreza tanto as críticas geradas por incompreensões, como também os elogios marcados por interesses. Sobre esses últimos, preocupado com uma utilização indevida de suas ideias, o autor registra com veemência:

“As críticas, no entanto, foram-me menos desagradáveis do que os excessivos louvores de alguns jovens psicanalistas que quiseram ver na atividade a aurora de uma espécie de liberdade psicanalítica em que manifestadamente se tratava, para eles, de nada menos do que suprimir a necessidade de seguir o rude caminho da teoria psicanalítica, cada vez mais complexa; uma corajosa espadeirada ativa podia cortar de um só golpe todos os nós terapêuticos mais emaranhados”[66].

Como ponto nodal de sua autocrítica, o psicanalista húngaro considera ter pecado pela omissão ao não ter aprofundado a relação entre o aumento de tensão promovido pelas medidas ativas, por um lado, e a transferência e a resistência, por outro. Buscando preencher tal lacuna, ele afirma que a orientação ativa em análise tende a exacerbar a resistência, sobretudo quando o foco dos trabalhos recai sobre os hábitos e traços de caráter do paciente. Para lidar com esse efeito, Ferenczi indica que a atividade só deve passar a fazer parte da análise quando uma sólida transferência positiva já estiver estabelecida, portanto nunca no começo de um processo de atendimento.

Em sua exposição, Ferenczi também manifesta que, por vezes, acabou por provocar dificuldades em atendimentos pelo fato de ter se enganado na apreciação da oportunidade ou do alcance das medidas ativas. Dada a presença inevitável desses erros de avaliação, mesmo para analistas experientes, ele defende que procedimentos ativos só sejam utilizados depois de esgotados todos os recursos clínicos associados ao emprego da técnica psicanalítica usual.

A seguir, relatando uma reformulação central promovida na sua orientação técnica, o autor afirma que, com o tempo, deixou de indicar de modo demasiado rígido as injunções e passou a trilhar um caminho de busca de acordo intelectual com os analisandos para as medidas planejadas. A seu ver, essa modificação teve a vantagem de evitar a repetição exageradamente fiel da situação pais/criança e, ainda, não deu ensejo para a ocorrência de atitudes sádicas de professor por parte de terapeutas. Além disso, por se constituir numa perspectiva menos fechada, tal linha de conduta propiciou a abertura de uma margem para que alterações pudessem ser realizadas, no caso de dificuldades insuperáveis geradas em pacientes. Sintetizando a sua visão sobre a forma ideal das instruções ativas, ele cita a feliz expressão de um colega por ele analisado, ou seja, elas não deveriam ser "de uma intransigência estrita, mas de uma flexibilidade elástica"[67].

         Na esfera dos esclarecimentos, buscando combater visões errôneas a respeito de sua proposta técnica, o húngaro comenta que ele e Freud sempre empregaram o termo "ativo" para indicar que o paciente, por vezes, realiza ações, sugeridas pelo terapeuta, que vão além das vinculadas ao trabalho de associação livre. Porém, essas ações constituem tão somente um recurso utilizado pelo analista com o objetivo de precipitar a ocorrência de material novo, nesse sentido, elas não substituem a tarefa de interpretação, a ferramenta primordial da clínica psicanalítica.

Se o instrumental chamado de ativo, ao não deixar de lado a interpretação, segue uma linha já demarcada pela técnica cristalizada, por outro lado, Ferenczi não concorda com os que nada veem de novo com a introdução da perspectiva ativa no fazer clínico. Para ele, quem adota tal posição, estaria sendo, de certa forma, mais realista do que o rei, pois o próprio Freud teria considerado existir "uma diferença de nuança entre acentuar o fator de repetição [técnica tradicional] e tentar eventualmente provocar o seu aparecimento [técnica ativa]"[68].

Sobre as ações efetuadas pelos pacientes nos atendimentos, Ferenczi relata que, em geral, eles inicialmente indagam se realmente podem gritar a plenos pulmões, olhar para o analista, sair do divã etc. A seu ver, o estabelecimento pelo psicanalista de um clima de não restrição às ações do analisando, além de não gerar maiores dificuldades, tende a favorecer a descoberta de diversos conteúdos, tais como: moções infantis recalcadas; a reprodução de formas de exibição próprias dos primeiros anos; buscas de reprovação do analista frente a desejos manifestos de masturbação ou incontinência. Como indicação de limite às atividades do paciente, o autor propõe que "são admitidos todos os modos de expressão que não obriguem o médico a sair do seu papel de observador e de conselheiro benevolente"[69].

Na parte mais final do artigo, Ferenczi registra o que chama de "prolongamentos da atividade" - algumas medidas ativas de caráter prático que poderiam ser empregadas no trabalho clínico. O autor inicia esse rol afirmando que, em alguns casos, aconselhou "exercícios de distensão". Sem detalhar a forma específica desses exercícios, ele afirma que "esse modo de relaxamento permite com frequência vencer também com maior rapidez as tensões psíquicas e as resistências à associação"[70].

Em seguida, focalizando a segunda medida indicada, o psicanalista húngaro passa a discorrer sobre o tema das palavras obscenas em análise, assunto de um artigo publicado por ele ainda em 1910: Palavras obscenas. Contribuição para a psicologia do período de latência[71]. No estudo inaugural, esse húngaro criativo e de espírito livre lança a hipótese de que as palavras obscenas permaneceriam num nível de desenvolvimento mais inicial da linguagem, ainda carregado de elementos motores, por isso, elas teriam o poder de suscitar no ouvinte o retorno regressivo e alucinatório às imagens mnêmicas da infância. Baseado em tal entendimento, ele defende que o analista, em determinados casos, ao falar com o paciente, não substitua essas palavras.

No escrito de 1926 que estamos expondo, Ferenczi, retomando essa temática, chama a atenção, sobretudo, para a importância de se levantar a interdição, efetuada na infância, de se pronunciar palavras obscenas para designar os órgãos e as funções sexuais e excretoras. De acordo o autor, em uma série de atendimentos, a impotência e a frigidez só foram vencidas depois dos pacientes superarem a interdição de dizer palavras obscenas, e isso, eventualmente, durante o próprio ato sexual.

A apresentação das medidas denominadas pelo autor como "prolongamentos da atividade" é completada por meio de um último e curioso relato, algo que, a nosso ver, revela a imensa amplitude das ações clínicas ativas efetuadas por Ferenczi em prol da melhora de seus pacientes. No atendimento de homens com uma hipersensibilidade na mucosa da glande, para os quais o menor contato com essa parte do órgão sexual suscitava temores de castração, o que os levava, por exemplo, a praticarem a masturbação por meio de manobras não diretamente na glande, Ferenczi afirma que conseguiu avanços na análise ao aconselhar a esse gênero de paciente a manter durante o dia o prepúcio arregaçado, isso com o objetivo de que a glande ficasse exposta a atritos e contatos.

Por fim, o húngaro conclui o artigo discorrendo sobre a importância do fator afetivo, numa linguagem psicanalítica, da transferência, na formação da convicção, ou não, a respeito de algo. Nesse domínio, ele argumenta que

"o conhecimento de uma parte da realidade, talvez a mais importante, não pode converter-se numa convicção pela via intelectual, mas somente na medida em que ela estiver em conformidade com a vivência afetiva”[72].

O sentido, manifestado pelo autor, ao recuperar e expor essa conhecida tese psicanalítica, foi o de defender a relevância das vivências emocionais na situação da análise. Em outras palavras, a sua proposta técnica, ao suscitar a vivência dos pacientes por meio das medidas ativas, colaboraria para escapar do estrito terreno intelectual e, com isso, propiciaria condições para facilitar a convicção dos pacientes a respeito dos conteúdos levantados nos processos analíticos.

Porém, apesar de registrar esse aspecto positivo de sua técnica, na realidade, Ferenczi está desistindo de continuar a investir no caminho da atividade como uma ferramenta para a clínica psicanalítica. Parece fazer isso com algum pesar, com alguma ambivalência, pois talvez considere que o potencial de fertilidade da técnica ativa não tenha sido devidamente apreciado por seus pares do campo psicanalítico. Essa linha de leitura está afinada com o tom de insatisfação exalado pelo autor já no início do artigo. Ali ele se queixa tanto dos críticos que se julgaram no dever de "proteger" a psicanálise das inovações contidas na técnica ativa, quanto dos que usaram indevidamente as orientações ativas para tentar evitar o árduo e necessário caminho do fazer clínico analítico. A nosso ver, tal enredo, permeado por uma amalgama de sérios conflitos teóricos e pessoais, revela muito do contexto institucional em que se deu a construção dos alicerces do edifício psicanalítico.

Iniciando o nosso comentário sobre as possíveis relações entre esse último artigo de Ferenczi[73]  dedicado à "técnica ativa" e o pensamento de Reich, nos parece necessário procurar responder a uma questão. Considerando a idade de Reich e as menções positivas feitas por ele à "técnica ativa", será que Ferenczi o incluía no rol dos jovens analistas que louvavam a "técnica ativa" para, na verdade, evitar trilhar o árduo e necessário caminho do trabalho clínico por meio da técnica consagrada? Ao que parece não, pois a publicação de Ferenczi é de 1926 e, como já citamos, segundo Briehl[74], na passagem de 1926 para 1927, durante o período de oito meses em que o analista húngaro passou em Nova lorque, Ferenczi costuma indicar o nome de Reich para interessados em fazer análise com psicanalistas em Viena.

Do balanço final feito por Ferenczi a respeito da "técnica" que estava abandonando, vamos destacar um ponto que nos parece central e que, além disso, comporta uma forte relação com o universo da clínica reichiana.

A nosso ver, se há algum aspecto que consegue escapar ileso da severa autocrítica efetuada por Ferenczi em Contraindicações da técnica ativa, esse aspecto diz respeito à relevância das vivências afetivas. Para o autor, essas cenas clínicas carregariam o mérito de não deixar o ambiente analítico ficar limitado à dimensão intelectual. Além disso, tal ampliação da experiência humana traria ganhos no que se refere à convicção dos pacientes a respeito dos conteúdos levantados e analisados. Ao que parece, Ferenczi sepultou a "técnica ativa", mas salvou a estratégia clínica das vivências emocionais. Com relação ao campo reichiano, tendo em vista o amplo emprego desse recurso clínico, os argumentos de Ferenczi são bem-vindos. Além disso, se ouvirmos o indicado pelo analista húngaro em Prolongamentos da "técnica ativa" em psicanálise, a vivência emocional não pode terminar na catarse emocional, mas sim avançar até o trabalho de elaboração psíquica.

Na introdução do terceiro volume das Obras Completas de Ferenczi, Judith Dupont, ao se referir à técnica ativa, a experiência clínica efetuada durante sete anos pelo analista húngaro, observou: "como todos os erros de Ferenczi, [a técnica ativa] é um erro fecundo"[75]. De nossa parte, pensando no que o campo reichiano pode aprender com o processo de tatear clínico conhecido como técnica ativa, consideramos que esses sete anos do autor foram muito bem aproveitados.

ALBERTINI, Paulo. Na psicanálise de Wilhelm Reich. São Paulo: Zagodoni, 2016. p. 176 a 207.



[1] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. São Paulo: WWF Martins Fontes, 2011.  p. 2.

[2] MEZAN, R. O símbolo e o objeto em Ferenczi. In KATZ, C.S. (Org.) Ferenczi, história, teoria e técnica. São Paulo: Editora 34, 1996.

[3] MEZAN, R. O símbolo e o objeto em Ferenczi. In KATZ, C.S. (Org.) Ferenczi, história, teoria e técnica. p. 110.

[4] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. p. 4.

[5] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. p.7, aspas originais.

[6] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. p. 7.

[7] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. p. 7.

[8] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III. p. 8.

[9]  FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III.

[10] FERENCZI, S. Dificuldades técnicas de uma análise de histeria (1919). In Obras completas: Psicanálise III.  p. 7.

[11] REICH, W. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica. (1942). São Paulo: Brasiliense, 1978.

[12] Referindo-se às formas de respiração reduzida, Reich observou: "[os] pacientes têm inventado todos os meios possíveis para evitar a expiração profunda. Eles expiram de forma fragmentada, ou voltam rapidamente à posição de inalação". The function of the orgasm. Sex-economic problems of biological energy. London: Souvenir Press, 1989. p. 333.

[13] REICH, W. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica. (1942). p. 262.

[14] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III.

[15] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p. 118 e 119.

[16] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p. 131.

[17] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p. 120.

[18] FREUD, S. Observações sobre o amor de transferência (1915). In: FREUD, S. Sigmund Freud, Obras Completas. V. 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 218 e 219.

[19] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p. 133.

[20] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p.133

[21] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In Obras completas: Psicanálise III. p. 134.

[22] FREUD, S. La interpretación de los sueños (1900). In: Sigmund Freud: Obras Completas. Madrid: Biblioteca Nueva, 1973.

[23] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In: Obras completas: Psicanálise III. p. 134.

[24] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In: Obras completas: Psicanálise III. p. 134.

[25] FREUD, S. La interpretación de los sueños (1900). In: Sigmund Freud: Obras Completas. p. 627.

[26] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In: Obras completas: Psicanálise III.

[27] REICH, W. Indicações e perigos da Análise do Caráter. (1933) In: REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

[28] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In: Obras completas: Psicanálise III.

[29] FERENCZI, S. Prolongamentos da “técnica ativa” em psicanálise (1921). In: Obras completas: Psicanálise III.

[30] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III

[31] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 265.

[32] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 264.

[33] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 268 e 269.

[34] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 268.

[35] FERENCZI, S. Confusão de línguas entre o adulto e a criança (1933). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise IV.  São Paulo: WWF Martins Fontes, 2011.

[36] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 269.

[37] KUPERMANN, D. Presença sensível: cuidado e criação na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

[38] FERENCZI, S. Confusão de línguas entre o adulto e a criança (1933). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise IV.

[39] FERENCZI, S. Confusão de línguas entre o adulto e a criança (1933). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise IV. p.114.

[40] FERENCZI, S. As fantasias provocadas (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.

[41] Uma produção de Ola Racknes sobre a Orgonomia pode ser encontrada em Racknes (1970/1988).

[42] NAVARRO, F. Terapia reichiana: fundamentos médicos somatopsicodinâmica. São Paulo: Summus, 1987; Terapia reichiana II: fundamentos médicos somatopsicodinâmica. São Paulo: Summus, 1987.

[43] WAGNER, C.M. Reich e a terapia corporal. In: ALBERTINI P.; VILLARES DE FREITAS, L. (Orgs.) Jung e Reich: articulando conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p. 154.

[44] REICH, W. A linguagem expressiva da vida (1949). In: REICH, W. Análise de caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

[45] REICH, W. A linguagem expressiva da vida (1949). In: REICH, W. Análise de caráter. p. 335, aspas e itálicos originais.

[46] REICH, W. Sobre o manejo da transferência (1933). In: REICH, W. Análise de caráter. p. 144, aspas originais.

[47] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.

[48] FERENCZI, S. Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.

[49] FREUD, Sigmund. Tres ensayos para uma teoria sexual (1905). In: FREUD, Sigmund.  Obras completas de Sigmund Freud. Madrid: Biblioteca Nueva, 1973.

[50] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. 366.

[51] FERENCZI, S. Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade (1924). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p.285.

[52] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 363.

[53] REICH, W. On genitality: from the standpoint of psychoanalytic prognosis and therapy (1924). In: REICH, W. Early writings, v. 1. New York: Farrar, Strauss and Giroux, 1975.

[54] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p.  375.

[55] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p.  365.

[56] FREUD, S. O eu e o id (1923). In: FREUD, S. Sigmund Freud, Obras Completas. V. 16. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

[57] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p.   381.

[58] FERENCZI, S. Psicanálise dos hábitos sexuais (1925). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p.   381.

[59] FERENCZI, S. Pensamento e inervação muscular (1919). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise II. São Paulo: Martins fontes, 2011. 

[60] FERENCZI, S. Pensamento e inervação muscular (1919). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise II.    p. 399.

[61] FERENCZI, S. Pensamento e inervação muscular (1919). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise II. p. 399.

[62] BRIEHL, W. Wilhelm Reich 1897 – 1957. Análise de caráter. In: ALEXANDER, F.; EISENSTEIN, S; GROTJAHN, M. (Orgs.) A história da psicanálise através dos seus pioneiros. Rio de janeiro: Imago, 1981.

[63] DADOUN, R. Cem flores para Wilhelm Reich. São Paulo: Moraes, 1991.

[64] ROUDINESCO, E; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

[65] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.

[66] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 401.

[67] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 404.

[68] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 407.

[69] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 408.

[70] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.  p. 409.

[71] FERENCZI, S. Palavras obscenas. Contribuição para a psicologia do período de latência (1910). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise I. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

[72] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III.   p. 412, itálicos originais.

[73] FERENCZI, S. Contraindicações da técnica ativa (1926). In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III

[74] BRIEHL, W. Wilhelm Reich 1897 – 1957. Análise de caráter. In: ALEXANDER, F.; EISENSTEIN, S; GROTJAHN, M. (Orgs.) A história da psicanálise através dos seus pioneiros. Rio de janeiro: Imago, 1981.

[75] DUPOND, J. Introdução. In: FERENCZI, S. Obras completas: Psicanálise III. p. VII. 


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