SUGESTÃO
Termo que designa um meio psicológico
de convencer um indivíduo de que suas crenças, suas opiniões ou suas sensações
são falsas, e de que, inversamente, as que lhe são propostas são verdadeiras.
Na história da psiquiatria dinâmica[1], dá-se o nome de sugestão
a uma técnica psíquica, inicialmente herdada do magnetismo de Franz Anton
Mesmer[2] e, mais tarde, do
hipnotismo de James Braid (1795-1860), que repousa na ideia de que, através da
fala, uma pessoa pode influenciar outra e, com isso, modificar seu estado
afetivo.
Foi ao abandonar a sugestão em favor da
catarse que Sigmund Freud inventou a psicanálise. Após sua temporada em Paris,
no serviço de Jean Martin Charcot, em 1885, Sigmund Freud começou a tratar seus
pacientes por meio das mais variadas técnicas, dentre elas a sugestão
hipnótica. Em pouco tempo, ouviu falar dos trabalhos da Escola de Nancy,
fundada por Auguste Liébeault, e dos avanços que lhe eram trazidos por
Hippolyte Bernheim. Este sustentava a ideia de que a hipnose era um efeito da
sugestão: por isso se opunha a Charcot e à concepção que ele tinha da hipnose
como um estado patológico próprio dos histéricos.
Herdeiro da primeira psiquiatria dinâmica,
Bernheim inventou então, “contrariando” Charcot, o princípio da psicoterapia,
passando da sugestão hipnótica para a sugestão verbal: com efeito, mostrou que
o olhar já não era necessário para mergulhar o paciente num estado de
sonambulismo e que, através da fala, obtinham-se os mesmos resultados.
Em 1889, Freud traduziu o livro de
Bernheim sobre a sugestão e suas aplicações terapêuticas. Em seguida, foi a
Nancy e a Paris, para assistir ao I Congresso Internacional de Hipnotismo
Experimental e Terapêutico. Até 1893, hesitou entre três orientações terapêuticas:
a hipnose de Charcot, a sugestão de Bernheim e a catarse de Josef Breuer. Por
fim, afastou-se sucessivamente de todas três e, no último capítulo dos Estudos
sobre a histeria, expôs sua própria concepção da psicoterapia, organizada
em torno do método das associações livres (ou livre associação). No ano
seguinte, esse método assumiria o nome de “psico-análise” (psicanálise).
Para ilustrar o que distinguia esse método
de todos os que se inspiravam na sugestão, Freud apoiou-se, num artigo
publicado em 1905, “Über Psychotherapie”, na diferença estabelecida por
Leonardo da Vinci (1452-1519) entre a pintura e a escultura. A técnica da
sugestão, disse Freud, era comparável à pintura, que procede per via di
porre, isto é, por uma aplicação, “sem se preocupar com a origem, a força e
a significação dos sintomas mórbidos”. A sugestão, portanto, era tida como
suficientemente forte para poder “entravar as manifestações patogênicas”.
Quanto ao método analítico, Freud o
comparou à escultura: ele procede per via di levare. Em outras palavras,
visa “retirar, extirpar alguma coisa, e, para tanto, preocupa-se com a gênese
dos sintomas mórbidos e das ligações destes com a ideia patogênica que ele
pretende suprimir”. Freud esclarece então: “Renunciei rapidamente à técnica da
sugestão e, com ela, à hipnose, porque não tinha esperança de tornar os efeitos
da sugestão suficientemente eficazes e duradouros para levar uma cura definitiva.”
Essa renúncia à sugestão como recurso
técnico não implicou o esquecimento da ideia de sugestão como modalidade do
funcionamento psíquico, como demonstram estas afirmações de Freud sobre a
questão da transferência: “Uma análise sem transferência é impossível”,
escreveu; “não se deve supor que é a análise que cria a transferência e que
esta só se encontra nela.” De fato, Freud preservou a ideia do tratamento pela
fala e mostrou que sua fonte se encontrava na transferência. Como fenômeno
geral da relação afetiva, induzindo uma cura pelo amor ou pelo espírito, a
transferência tinha que ser analisada, para não se reduzir à sugestão: “Com
muita frequência”, disse ele, “a transferência, por si só, é o bastante para
suprimir os sintomas mórbidos, porém temporariamente e apenas enquanto dura. Em
tais casos, o tratamento não pode ser qualificado de psicanálise, tratando-se
apenas de sugestão. O nome psicanálise só se aplica aos processos em que a
intensidade da transferência é utilizada contra as resistências.”
Em 1920, Freud deparou pela segunda vez
com a problemática da sugestão, no momento em que, desejoso de abrir “o caminho
que vai da análise do indivíduo à compreensão da sociedade”, empreendeu a
redação da Psicologia das massas e análise do eu. Antes dele, Gustave Le
Bon (1841-1931), William McDougall, fundador da psicologia social
norte-americana, e Gabriel Tarde (1843-1904) haviam abordado esse campo,
explicando o comportamento coletivo através da sugestão.
Contrariando esses autores, Freud recusou-se
a utilizar a “mágica” palavra sugestão e sublinhou que Le Bon reduzia a dois
fatores o conjunto das manifestações sociais (ou multidões): a sugestão
recíproca dos indivíduos, isoladamente considerados, e o prestígio dos líderes:
“Somos assim preparados para a afirmação de que a sugestão (mais exatamente, a
sugestionabilidade) é de fato um fenômeno primário e irredutível, um fato
fundamental da vida psíquica do homem. Isso era o que também pensava Bernheim,
de cuja espantosa habilidade fui testemunha em 1889. Mas não perdi a lembrança
da hostilidade surda que já então eu experimentava contra essa tirania da
sugestão (...). Minha resistência orientou-se, posteriormente, para a revolta
contra o fato de a sugestão, que tudo explicaria, dever, por seu turno, ser
dispensada de explicação.”
Na Psicologia das massas, portanto,
Freud preferiu abolir a fronteira entre os fenômenos da psicologia individual e
os do âmbito da psicologia coletiva. Por isso formulou a hipótese de que “as
relações amorosas (ou, em termos neutros, os laços sentimentais) constituem,
igualmente, a essência da alma das multidões”, e esclareceu que, em Gustave Le
Bon ou em McDougall, “não se trata dessas relações”, pois “o que corresponderia
a elas é manifestamente dissimulado por trás da tela, do anteparo da sugestão”.
Ali onde a explicação tautológica da
sugestão explicava a transformação psíquica do indivíduo na multidão
(fascinação pelo líder e conduta imitativa dos indivíduos uns em relação aos
outros), Freud estabeleceu que se tratava, na realidade, de uma limitação
aceita do narcisismo, gerada pela relação com o “líder”. Com efeito, para cada
indivíduo imerso na multidão, o líder ocupa o lugar do ideal do eu, e sua
onipotência é limitada pela instauração de um laço amoroso horizontal entre os
membros da massa.
A sugestão (como técnica psíquica) seria
conservada, sob diversas formas, por numerosas escolas de psicoterapia. Do
mesmo modo, a ideia de sugestão seria periodicamente reatualizada para
explicar, em termos de engodo, fascínio ou simulação, os fenômenos
transferenciais. Era nesse impasse que se encontrava o historiador Marc Bloch
(1886-1944) em 1924. Totalmente desconhecedor da reflexão freudiana, mas
procurando compreender a natureza do poder terapêutico dos reis taumaturgos,
aos quais a multidão medieval atribuía curas milagrosas (e em especial a
capacidade, através do toque, de tratar a escrófula), Bloch denunciou esse
pretenso poder como pura tapeação e não conseguiu captar a essência da cura
psíquica induzida pela transferência. Com efeito, distinguiu dois tipos de
doentes: os verdadeiros, os doentes “orgânicos” atacados de escrófula (adenite
tuberculosa) e, portanto, incuráveis pelo toque, e os falsos, os doentes
“psíquicos”, atacados, no dizer do historiador, por “doenças falsas” e,
portanto, simuladores ou histéricos. Todos seriam vítimas de uma ilusão
coletiva, e o milagre do rei não teria passado de uma gigantesca falsa notícia,
nascida da sugestão.
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de
psicanálise. Verbete: Sugestão e Psiquiatria Dinâmica. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998. p. 627, 735, 736 e 737.
A palavra “sugestão” é empregada por James
Braid, o médico britânico que popularizou o hipnotismo, para descrever
experiências das quais o hipnotizador, por injunção gestual ou verbal, deflagra
a obediência automática do hipnotizado. Por volta de 1860, Ambroise Liebeault
teve a ideia de utilizar o fenômeno para fins terapêuticos: ordens, formuladas
de maneira autoritária ou benevolente, seriam um fator de deflagração da
hipnose e do processo curativo. Hippolyte Bernheim foi mais longe ao conferir o
status de noção explicativa à sugestão, que ele definiu em 1891 como “o
ato pelo qual uma ideia é introduzida no cérebro e aceita por este”. Segundo
ele, uma ideia sugerida pelo operador, a maior parte das vezes verbalmente,
deflagra uma representação-adesão no sujeito. (...) Este ideia tende, salvo
inibição contrária, a traduzir-se em ato (“ideodinamismo”)
Bernheim assinalou a existência de
sujeitos mais ou menos sugestionáveis, e designou pelo termo
“sugestionabilidade” a aptidão de um indivíduo para ser sugestionado.
Contrariamente a Jean Martin Charcot, ele não vê nisso um fenômeno patológico,
mas um fenômeno psicológico muito geral que está presente em graus diversos em
todo indivíduo. Assim, a sugestão
permite que se compreenda igualmente bem tanto a hipnose quanto o vínculo
educativo, a adesão a uma crença...
Gabriel de Tarde, em 1890, em As
leis da imitação, e Gustave Le Bon, em 1895, em A psicologia das
multidões, fazem da sugestão a mola mestra da ligação a dois ou a vários em
que se funda uma sociedade ou uma multidão. Para Bernheim, a hipnose apenas
facilita a sugestionabilidade terapêutica, e pode-se praticar psicoterapias
sugestivas em estado de vigília. Essa identificação da hipnose e da sugestão
suscitará as críticas de Liebault e sobretudo as de Charcot e sua escola.
Em torno da escola de Nancy, da qual
Bernheim se apresenta como porta-voz, desencadeia-se em toda a Europa uma
súbita paixão pelas experiências, as terapias e o modelo sugestivos. Faz-se a
experiência de crimes sugeridos que provocam polêmicas teóricas, éticas e
jurídicas. Se as sugestões experimentais assustam, as sugestões terapêuticas
suscitam imensas esperanças. Pensa-se que elas podem suprimir certos sintomas
ligados às doenças orgânicas, como a dor, e curar as “doenças nervosas”, como a
histeria, mas também as inversões sexuais e o alcoolismo, entre outras.
A sugestão, como terapêutica e como
noção, suscita interrogações e críticas por parte de muitos dos seus
praticantes. Bernheim observa que alguns sujeitos podem opor resistências às
“sugestões diretas”. Não se deve, nesse caso, dar ordens, dizer que não há nada
a fazer e que a cura virá por si mesma, por exemplo. Bernheim fala, a esse
respeito, de “sugestões indiretas”, expressão empregada num sentido análogo por
Charcot e sua escola. O belga Joseph Delboeuf destaca a auto-sugestão, a
capacidade para resistir e a vontade do paciente. O holandês Frederick Van
Eeden, que se situa, como Delboeuf, na corrente nanciana, sublinha que a
psicoterapia sugestiva deve pôr em jogo uma colaboração entre o médico e seu
paciente, e respeitar tanto quanto possível sua autonomia. Pierre Janet critica
a excessiva extensão dada à noção de sugestão e propõe, em 1889, em O
automatismo psicológico, uma definição mais restrita: “influência de um
homem sobre um outro que a exerce sem a intermediação de um consentimento
voluntário”. Correlativamente, ele reativou a noção antiga, ligada ao
magnetismo animal, de “rapport”. O suíço Auguste Forel, por seu lado,
sublinha o equívoco da palavra sugestão que designa um procedimento terapêutico
ligado a uma injunção do operador e, ao mesmo tempo, um processo psíquico que
leva o sujeito a sofrer a influência de outrem.
Os artigos que Freud dedicou até 1895 à
hipnose e à sugestão situam-no nessa corrente crítica de que acabamos de
esboçar algumas linhas de força. Ele foi levado em seguida a abandonar a
sugestão como procedimento terapêutico e como explicação psicológica. Não
obstante, ele afirma nas Conferências introdutórias sobre psicanálise
(1916-17) que “se em nossa técnica abandonamos a hipnose, foi para descobrir de
novo a sugestão sob a forma de transferência”. Se é possível acabar com o
procedimento sugestivo, o problema do processo, no entanto, permanece e
deslocou-se para o da transferência. Em 1921 (Psicologia das massas e
análise do eu), Freud retomará sob um outro ângulo a questão da hipnose e
da sugestão, assim com a da sugestão como modelo do vínculo social.
Se nos voltarmos para as correntes
hipnológicas contemporâneas, as terapias inspiradas por Milton Erickson
reativam uma identificação entre hipnose e sugestão. Os procedimentos
utilizados (por exemplo, proposição de metáforas, prescrições ou injunções paradoxais)
parecem menos autoritários do que no final do século XIX, mas se aproximam,
talvez, de certas “sugestões indiretas” de outrora.
MIJOLLA,
Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 2. Verbete Sugestão. Rio de Janeiro: Imago, 2005. p.
1810 e 1811.
“Per via
di porre”[3] e “per via di levare”[4]: no seu trabalho Sobre a psicoterapia
(1905), ao estudar a antítese entre a técnica sugestiva e a analítica,
Freud utiliza as seguintes palavras, transcritas textualmente: “(...) a mesma
antítese que, com relação às belas artes, o grande Leonardo da Vinci resumiu
nas fórmulas per via di porre e per via di levare! A pintura,
afirma Leonardo, opera per via di porre, pois explica uma substância –
partículas de cor – onde nada existia antes, na tela incolor; a escultura,
contudo, processa-se per via di levare, visto que retira do bloco de
pedra tudo o que oculta a superfície de estátua nela contida”.
De
modo semelhante, a técnica da sugestão visa a processar-se per via di porre;
não se interessa pela origem, força e significado dos sintomas mórbidos mas, ao
revés, supõe algo – uma sugestão – na expectativa de que será bastante vigorosa
para impedir que a ideia patogênica venha a expressar-se. A terapia analítica,
por outro lado, não procura acrescentar nem introduzir nada de novo, mas a
retirar algo, a fazer aflorar alguma coisa, sendo que para esse fim se preocupa
com a gênese dos sintomas mórbidos e o contexto psíquico da ideia patogênica
que procura remover.
A
tendência atual dos psicanalistas é dar uma valorização muito superior à via
di levare, com o que todos concordam. No entanto, deve ficar claro que nem
sempre pôr algo é o mesmo que sugestionabilidade ativa ou alguma forma
de imposição na mente do paciente. Assim, em inúmeras situações,
especialmente com pacientes muito regressivos, torna-se indispensável que o
analista ponha (ou re-ponha) no psiquismo do paciente algo que
preencha seus vazios existenciais, da mesma forma vindo a suplementar funções
do ego que não foram suficientemente desenvolvidas na infância do paciente.
A
propósito da sugestionabilidade antes referida, não é possível ignorar o fato
de que, por mais que o analista cumpra a regra da abstinência, quer queira,
quer não, sempre seu discurso veicula algo de sua ideologia particular.
ZIMERMAN, David E. Vocabulário
contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 427 e 428.
AUTOSSUGESTÃO
Autossugestão: ato de fazer uma
sugestão e de exercer influência sobre si mesmo, a autossugestão é uma
expressão que foi popularizada pela escola de Nancy. Durante a primeira metade
do século XIX já tinham aparecido práticas de automagnetização, tipos de automedicações
e autocuras que reforçavam certas curas magnéticas (ou lhes sucediam).
No final desse século desenrolou-se um
debate teórico e prático que envolveu as várias escolas hipnóticas e
discriminou as oposições existentes entre elas. Qual é o agente real do
processo sugestivo: o hipnotizador ou o sujeito que lhe atribui um poder,
frequentemente sem que ele tenha conhecimento disso? No segundo caso, a
eficácia da sugestão seria atribuível a uma autossugestionabilidade ligada a
disposições histéricas (Jean Martin Charcot, Pierre Janet), ou a uma “vontade”
do sujeito (posição posta em evidência por Joseph Delboeuf (1831-1896), um
discípulo independente de Hippolyte Bernheim).
Em 1888-1889, apoiando-se em Charcot,
Freud mostra que certas experiências de sugestão podem interpretar-se em termos
de “incitamento à autossugestão”. Em 1892-1893, ele expõe a ideia de uma “contra-vontade”.
Em 1895, Joseph Breuer insiste sobre a importância dos estados de auto-hipnose
de Anna O., os quais se apresentam simultaneamente como um sintoma de histeria
e como um processo de automedicação e de autocura acompanhado pelo terapeuta. A
talking cure catártica tem lugar, com efeito, durante os estados
auto-hipnóticos vespertinos.
Na esteira da escola de Nancy, o farmacêutico
Emile Coué (1857-1926) populariza o seu famoso método que consiste em aplicar a
autossugestão à conduta de sua vida. Seu discípulo Charles Baudouin propôs
fazer uma síntese do couéismo com a psicanálise. (...)
Não nos desembaraçamos, ainda hoje, das
questões formuladas no século XIX a propósito da hipnose e da sugestão.
Tornou-se lendário que a psicanálise, oriunda dessas práticas, se distanciaria
delas ao querer Freud mantê-la fora de tais influências. Na vida cotidiana, não
escaparíamos a esse fascínio próximo do estado amoroso, às diversas seduções
agindo no social. Psicanalistas se interrogam, entretanto, sobre a concepção
que Freud tinha dessas práticas, que o fazia associar a hipnose com o poder de
influenciar. Alguns afirmam que a hipnose deixou de ser sinônimo de olhar
onipotente de um só; a manipulação seria necessária na relação terapêutica; a
sugestão guiaria o caminho de nossa liberdade.
Demoníaca ou libertadora? Modelo de
dominação ou passagem forçada para uma reapropriação de si mesmo? A alternativa
com que Charles Baudoin já trabalhava sempre esteve presente. Com efeito, ele
publica na década de 1920 um estudo, Suggestion e auto-suggestion
(1920), ao qual adicionou, portanto, uma outra “lição”: Qu’est-ce que la
suggestion? (“O que é a sugestão?)
Charles Baudoin interroga-se sobre o poder
da sugestão, sobre as diferentes concepções que dela se possuía na época. Não
acredita que ela se resuma a ser unicamente uma influência; está intimamente persuadido
de que toda sugestão eficaz é, no fundo, uma autossugestão, que ela faz parte
da psicologia do sujeito e não somente de uma psicologia social onde vários indivíduos
estão em relação.
Durante um certo tempo, mostrou-se próximo
de Émile Coué. Acreditou sempre no poder da autossugestão para o
desenvolvimento do sujeito, em particular no contexto da educação.
MIJOLLA,
Alain de. Dicionário internacional de psicanálise. Vol. 1 e 2. Verbetes Autossugestão e Que é a sugestão? (O-).
Rio de Janeiro: Imago, 2005. p. 202, 203 e1534.
Tudo fala a favor da ideia de que na
hipnose e na sugestão não é o hipnotizador ou o sugestionador quem desempenha o
papel principal, mas aquele que, até então, aparecia como o objeto desses processos. Basta a
existência da autossugestão e da auto-hipnose e, sobretudo, o fato de que
os fenômenos de sugestão só podem produzir-se em condições determinadas e
variáveis segundo os indivíduos, para demonstrar com certeza que a intervenção
do experimentador desempenha apenas um papel secundário na cadeia causal desses
fenômenos.
Ferenczi.
Transferência e introjeção. In: Obras Completas vol. I. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 103.
[1]
A psiquiatria dinâmica (...) faz (...) intervir um tratamento psíquico ao longo
do qual se instaura uma relação transferencial entre o médico e o doente. Assim, incluem-se na psiquiatria dinâmica
todas as formas de tratamento psíquico que privilegiam a psicogênese e não a
organogênese das doenças da alma e dos nervos, desde o magnetismo de Franz
Anton Mesmer até a psicanálise, passando pelo hipnotismo e pelas diversas
psicoterapias. Vista por este prisma, a psiquiatria dinâmica relaciona-se, em
primeiro lugar, com a psiquiatria, da qual toma emprestadas as classificações e
a clínica; em segundo, com a psicologia, que possuía um dualismo da alma e do
corpo e propõe técnicas de observação do sujeito; e finalmente, com a tradição
dos antigos curandeiros, da qual pôde emergir a própria ideia de uma cura
transferencial. Surgido em 1802, o termo psiquiatria generalizou-se no início
do século XIX, em substituição à antiga “medicina alienista”, da qual Philippe
Pinel (1745-1826), fundador francês do manicômio moderno, fora um dos grandes
representantes na era clássica, ao lado de William Tuke (1732-1822), na
Inglaterra, e Benjamin Rush (1746-1813), nos Estados Unidos. Como ramo da
medicina, a psiquiatria tornou-se, no correr dos anos e em todos os países do
mundo em que foi implantada, em lugar da demonologia, da feitiçaria e das
diversas técnicas xamanísticas, uma disciplina específica que tem por objeto o
estudo, o diagnóstico e o tratamento do conjunto das doenças mentais. Quanto à
psicologia, depois de haver constituído um ramo da filosofia dedicado ao estudo
da alma, ela se transformou, no século XIX, numa disciplina fragmentada, ora
ligada à biologia, ora à fisiologia, ora à medicina (psiquiatria, neurologia),
ora, ainda, às chamadas ciências “sociais”. Como saber ensinado nas
universidades do mundo inteiro, tornou-se, na segunda metade do século XX,
juntamente com a psiquiatria e a medicina, uma das principais vias de acesso às
diferentes práticas terapêuticas transmitidas pelas escolas de psiquiatria
dinâmica, dentre elas a psicanálise.
[2]
Franz Anton Mesmer: médico e curandeiro austríaco, que se tornou muito famoso
na Europa do séc. XVIII utilizando o seu método de cura através do “magnetismo
animal”. É considerado um precursor da hipnose e, nesta medida, um antecessor
da psicanálise.
[3] “per via di
porre” (italiano): em português, “pela via de colocar”.
[4] “per
via di levare” (italiano): em português, “pela via de retirar”.
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